sexta-feira, 19 de novembro de 2010

QUEM É MESMO O PALHAÇO?


O palhaço Tiririca, como todos os brasileiros sabem, foi eleito deputado federal nas últimas eleições. Obteve exatamente 1.348.295 votos, tornando-se o segundo deputado mais votado na história do Estado de São Paulo. Mais: como existe o tal do quociente eleitoral, ele não só se elegeu como conseguiu eleger mais três deputados, entre eles nomes muito conhecidos no cenário político brasileiro, mas que não conseguiriam se eleger com apenas seus próprios votos.

Acontece que, depois das eleições, levantou-se a suspeita de que Tiririca seria analfabeto e, por isso, inelegível. Iniciadas as investigações, descobriu-se que a declaração que ele entregou afirmando saber ler e escrever havia sido escrita por outra pessoa, o que configura crime de falsidade ideológica.

O que deveria ter feito a Justiça ? Obviamente, processado Tiririca e talvez também seu partido, o Partido da República. Acontece que estamos no Brasil, lembram ? E aqui essas coisas andam devagar, muito devagar. E a Justiça deu um prazo a Tiririca para que ele provasse que sabia ler e escrever.

Espera aí ! Como assim ? Um prazo para provar que sabe ler e escrever ? Que história é essa ? Ou o cara sabe ler e escrever ou não sabe ! Isso se prova na hora, não é preciso um prazo. Portanto, vamos pôr as coisas nos seus devidos termos: o que a Justiça, muito boazinha, fez foi dar a Tiririca um prazo para que ele aprendesse a ler e escrever, isso sim, não para mostrar que já sabia !

Bem, o prazo passou e... Foi prorrogado ! Após a prorrogação, Tiririca foi então chamado a fazer um teste e aí o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo concluiu que ele é alfabetizado.

Acontece que um promotor chato, Maurício Antônio Lopes, não concordou, pois o novo deputado acertara menos de 30% do ditado a que foi submetido. Protesto em vão ! O TRE manteve sua decisão e vai diplomar Tiririca ! Alguém sabe me explicar isso ? Quem consegue aprovação em um concurso público, seja lá para o que for, com nota 3 ?

Mas, para mim não foi surpresa nem o fracasso no teste nem a decisão judicial. Ana Maria Braga, em seu programa Mais Você, fez um teste com um adulto analfabeto, que teve o mesmo prazo que Tiririca para aprender a ler e escrever com uma professora especializada em alfabetização de adultos. Apesar de se esforçar, ele não conseguiu.

Também não foi surpresa para mim a decisão da Justiça, só que para isso tenho duas explicações. Sendo bonzinho como foi a Justiça, eu diria que eles decidiram diplomar Tiririca preocupados em preservar a imagem do Brasil. Vejam só: nosso país é reconhecido no mundo inteiro como um exemplo de eficiência na organização de eleições. Em nenhum outro país se consegue apurar o resultado de tantas urnas em tão pouco tempo, anunciando os vencedores poucas horas depois de encerrada a votação. Até os Estados Unidos já mandaram gente aqui para aprender conosco. Então, ia pegar muito mal a notícia de que um sistema eleitoral tão eficiente e moderno deixou passar a inscrição de um candidato analfabeto. Além, disso, nossa reputação já havia sido tisnada este ano pelo decisão do STF impedindo eleitores de votarem, apenas com o título de eleitor. O Brasil virou motivo de piada porque exige título de eleitor de quem vai tirar passaporte ou se inscrever em concurso público, mas não de quem comparece para votar ! Depois dessa decisão, que nos jogou no ridículo, cassar um recém-eleito por descobrir que ele é analfabeto seria demais !

Bem, essa, como eu disse, é minha versão de brasileiro bonzinho como é nossa Justiça Eleitoral. A versão de brasileiro menos condescendente é outra: os senhores juízes da Tribunal Regional Eleitoral viram que cassar o Tiririca ia dar uma mão-de-obra tremenda... Cancelar seus votos eliminaria não apenas ele, mas também os outros deputados que ele ajudou a eleger. Ia ser uma complicação danada, ia gerar protestos, os eleitos têm que ser diplomados dia 17 de dezembro e, portanto, não ia ser bom pra ninguém. Eu li, é verdade, que caso a eleição de Tiririca não fosse validada, os votos dele continuariam sendo válidos. Mas, aí vou precisar de novo da ajuda dos universitários para entender ! Como assim ? Mais de um milhão de pessoas votam em um candidato, ele não pode ser empossado, mas os votos são válidos para eleger outros candidatos ? Estão brincando de eleição....

A história do Palhaço Tiririca me parece mesmo um grande palhaçada. Só que são muitos os palhaços e entre eles não se deve incluir o próprio Tiririca. A palhaçada começou com o Partido da República, ao escolher um analfabeto como candidato, simplesmente por saber que seria um bom “puxador de votos”. Senti cheiro de palhaçada também no prazo que seu deu a Tiririca para provar que era alfabetizado. E o cheiro ficou muito mais forte quando acreditaram que ele sabia ler e escrever, mesmo acertando menos de 30% do ditado.

Tiririca dizia, na campanha: Pior do que está não fica. Vote em Tiririca. Pois fica, sim, Tiririca. Aliás, já ficou. Antes mesmo de você assumir, sua candidatura deixou as coisas piores, mostrando falhas que não se sabia haver no nosso sistema eleitoral.

Para terminar: se há uma palhaçada e o palhaço não é o palhaço, então o palhaço quem é ? São muitos. Eu me sinto um deles. Mas, repito, Tiririca não ! Ele está feliz, rindo dos que estão a sua volta. Ou melhor, dos que estão aos seus pés.

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