terça-feira, 1 de janeiro de 2013

UM MINERAL-SÍMBOLO PARA O RIO GRANDE DO SUL

 
            O Rio Grande do Sul tem vários símbolos reconhecidos oficialmente. Sua flor-símbolo é o brinco-de-princesa (Fuchsia regia), cuja escolha esteve envolvida em certa polêmica. Seu animal-símbolo é o cavalo crioulo, tão presente na história e no cotidiano dos gaúchos. A planta-símbolo é a macela (Achyrocline satureioide), ave-símbolo é o quero-quero (Vanellus chilensis), que não é típico do Estado (existe em toda a América do Sul e até na América Central), mas pelo qual os gaúchos têm um carinho muito especial; a bebida é o chimarrão; instrumento musical é a gaita; árvore é a erva-mate (Ilex paraguaiensis) e prato típico é o churrasco, todos aprovados oficialmente por decreto (brinco-de-princesa) ou leis.
            Se escolheu esses vários símbolos oficiais, pode muito bem o Estado escolher também seu mineral-símbolo. Isso não seria nenhuma novidade; o lápis-lazúli, por exemplo, é a pedra-símbolo do Chile e a rodocrosita, da Argentina.
Mas, qual seria o mineral-símbolo do Rio Grande do Sul? Para mim, sem dúvida, a escolha deve contemplar um mineral abundante no Estado, a ponto de poder ser considerado característico dele, e que se destaque pela beleza ou valor econômico. Assim sendo, não vejo outros candidatos que não sejam a ágata e a ametista.
 
 
O Rio Grande do Sul tem as maiores reservas de carvão mineral do Brasil e, com Santa Catarina, é responsável pela quase totalidade da produção brasileira. Mas, apesar do nome, carvão não é mineral e não pode se candidatar a esse título.
Temos então apenas as duas pedras preciosas concorrendo. Só que escolher uma das duas não é nada fácil...
            Em termos de valor econômico, são gemas que não se situam entre as mais caras do mercado, mas a ametista é claramente superior em preço à ágata. Ponto, portanto, para a ametista.
            Em termos de abundância no Estado, podemos encontrar tanto uma quanto a outra na metade norte do Rio Grande do Sul, mais precisamente nas rochas vulcânicas de idade mesozoica, sobretudo nos basaltos. Mas, nessa metade do Estado a ágata é bem mais abundante e mais amplamente distribuída que a ametista, podendo, portanto, ser considerada mais representativa do Estado. Ponto para a ágata.
            Em termos de produção, tanto a ágata quanto a ametista são produzidas em grande quantidade pelo Rio Grande do Sul e mais de 90% dessa produção vão para outros países. O Estado é o maior produtor brasileiro das duas pedras preciosas, que o colocam, junto com o citrino obtido por tratamento térmico da ametista, em segundo lugar entre os maiores produtores brasileiros de gemas, atrás apenas de Minas Gerais. Ponto para as duas, portanto.
            Até aqui, os critérios se aplicam com relativa facilidade. Só que determinam um empate. E quando se começa a falar de beleza, a escolha fica muitíssimo mais complicada. Ágata e ametista são tão diferentes que, simplesmente não dá para confrontá-las. Podemos avaliar a beleza de uma e a beleza de outra, mas sem fazer comparações.
            A ametista tem uma cor violeta que não é das mais comuns no mundo das gemas e pode ser perfeitamente límpida e transparente depois de lapidada. A ágata nunca será transparente (no máximo translúcida), mas as múltiplas cores numa mesma peça e o modo infinitamente variado como elas se distribuem e se combinam tornam cada ágata única, sendo impossível encontrar outra igual a ela. E nesse aspecto as ágatas gaúchas têm fama mundial, não sendo raro encontrarem-se fotografias delas em livros de Gemologia. Em termos de beleza, portanto, elas empatam e o placar fica em 3x3.

 
            Podemos falar também do uso. Com belezas bem diferentes, ágata e ametista são também empregadas de modo bastante diverso. A ágata presta-se maravilhosamente bem para objetos decorativos, aqueles que se usa sobre a mesa, como porta-retratos, cinzeiros, cabos de talheres, pesos de papel, porta-copos ou então como chaveiros, maçanetas, móbiles, etc., numa relação de usos cujos limites são os limites da criatividade de cada pessoa. Pode, é claro, ser usada também em objetos de adorno pessoal, como alianças e pingentes, mas não é esse o uso mais comum.  Já a ametista é mineral usado tipicamente para adorno pessoal, em joias de todos os tipos (anéis, brincos, colares, pulseiras, pingentes, abotoaduras, etc.), não em objetos decorativos, exceto quando o objeto é a própria ametista, nos belos agregados cristalinos chamados geodos (“capelas”) que são produzidos (e exportados) em larga escala no Rio Grande do Sul.
            Alguns poderão considerar o uso em joias mais importante, já que elas são em média mais valiosas que os objetos decorativos citados. Mas, haverão de convir que os objetos decorativos são maiores, têm mais visibilidade e dão muito mais liberdade de criação ao designer. Persiste, portanto, em minha opinião, o empate.
            Por fim, há outro aspecto que não pode ser esquecido e que nada tem a ver com Gemologia, Joalheria ou Decoração de Interiores. Caso sejam superadas as dificuldades apontadas acima e se chegue a um consenso, a escolha do mineral-símbolo deverá ser formalizada em documento legal, como foram as escolhas dos demais símbolos mencionados no início. E aí vem o aspecto político da questão.  A Política, queiram ou não, está presente sempre na nossa vida e não pode ser ignorada também neste caso.  Por quê?
Acontece que a produção de ametista no Rio Grande do Sul vem principalmente do município de Ametista do Sul, na região norte do Estado, secundariamente de outros sete municípios situados na mesma região (Iraí, Frederico Westphalen, Planalto, Trindade do Sul, Gramado dos Loureiros, Rodeio Bonito e Cristal do Sul). Já a produção de ágata provém mais da região central do Estado e não está tão concentrada como a de ametista. Desse modo, qualquer que seja a escolha, uma parcela da população do Estado ficará insatisfeita, e esta parcela provavelmente será maior se o mineral-símbolo escolhido for a ametista.  Esta é, então, outra variável a ser considerada nessa difícil escolha.
E se fosse escolhida ágata com ametista como mineral-símbolo do Rio Grande do Sul? A proposta não seria nenhum absurdo, pois pode-se encontrar na natureza geodos contendo as duas gemas. Só que isso não acontece no Rio Grande do Sul com uma frequência que justifique adotar essa associação como pedra símbolo dos gaúchos.
            Por outro lado, como as duas gemas são variedades de quartzo, não se poderia então adotar o quartzo como pedra-símbolo? Decididamente, não, porque existem muitas outras variedades desse mineral, mesmo considerando apenas aquelas usadas como pedra preciosa (ex.: quartzo enfumaçado, quartzo rosa, quartzo rutilado, jaspe, cornalina, cristal de rocha, ônix, etc.).
            Uma saída salomônica seria escolher não um, mas dois minerais-símbolos do Estado, ágata e ametista, o que é diferente de ágata com ametista.
            Deixo aqui aberto o debate. Eu tenho minha preferência, que é fruto de longas e demoradas ponderações, como este texto permite imaginar. Se for chamado a opinar, eu falarei. Mas, há muita gente em condições de opinar também. Com eles, a palavra.