terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O VEIO DE HEMATITA


         Vou contar-lhes uma história que só contei para outros geólogos uns vinte anos depois que ela aconteceu. Depois explico por quê.
Na década de 90, estava eu fazendo cadastro de ocorrências minerais na região de Caçapava do Sul (RS), quando, rodando por numa daquelas estradas de terra do interior, vi, à esquerda, uma pedreira de granito abandonada. Parecia nada ter de importante, mas, precisava ser cadastrada, afinal era um ponto onde houvera produção de um bem mineral.
Deixei o carro na estrada, passei a cerca com meu colega e comecei a examinar o afloramento.
Era, como eu esperava, uma pedreira comum, abandonada havia bastante tempo, onde provavelmente fora extraído granito para produção de brita.
Estava eu ali examinando o afloramento, quando, em dado momento, senti um perfume muito agradável. Minha primeira reação foi atribuí-lo a alguma flor silvestre. Mas, eu estava bem no melo da pedreira e não via nenhuma flor. Bem, pensei, pode ser de alguma planta mais distante, com perfume sendo trazido pelo vento. Só que não soprava a mais mínima brisa.
Intrigado, lembrei que os espíritas e espiritualistas em geral dizem que uma das maneiras pelas quais espíritos do bem se manifestam é através de perfume. Assim, na falta de outra explicação, pensei comigo: Bem, se é um bom espírito a origem desse perfume, ótimo, Estou em boa companhia. E continuei meu trabalho.
Feitas as anotações na caderneta de campo, coletada uma amostra, voltamos, meu colega e eu, para o carro.
Quando estávamos a poucos metros dele e da pedreira, vi um veio de quartzo e hematita que atravessava a estrada em diagonal.  Surpreso, pois eu não vira nada quando passarai por ali rumo á pedreira, parei e o examinei usando o martelo. Era algo diferente, que não havíamos encontrado em nenhum outro local. Tinha apenas uns 10 cm de espessura, o que não lhe dava grande importância econômica, mas era uma ocorrência de minério e fero e, como tal, devia ser cadastrada.
A direção do veio mostrava que ele deveria se estender para dentro da pedreira que acabáramos de examinar. Assim, voltamos para lá, até porque na pedreira ele deveria estar menos alterado e, talvez, com espessura maior.
Começamos a procurá-lo e, por mais que andássemos, não conseguíamos encontrar o bendito veio.  Insisti, porém, pois eu estava convencido de que ele deveria aparecer lá, afinal a distância da estrada até ali era muito pequena.
Foi aí que, em dado momento, lembrei-me do intrigante perfume que eu sentira. Será que havia um espirito amigo me mostrando a local do veio?
Eu lembrava perfeitamente do ponto em que sentira o perfume e fui lá. Não deu outra. Ali estava o veio de hematita. O perfume, portanto, tinha por objetivo não me fazer olhar para os lados em busca de uma flor, muito menos olhar para o céu em busca de uma improvável visão espiritual. O objetivo era me fazer olhar para o chão: eu estava pisando num veio de hematita.
Foi uma experiência única, que eu nunca vivera antes nem vivi de novo depois.
E por que eu demorei tanto para contar isso aos meus colegas geólogos? Ora simplesmente porque eles, e em especial meus chefes, poderiam pensar, preocupados (e com uma boa dose de razão), que eu estava fazendo “geologia espiritual”.



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

OS NOMES DOS MINERAIS

  Quando algum amigo ou parente olha minha coleção de minerais, é normal que pergunte o nome de alguns deles.  E quando informo esses nomes, é   comum dizerem:                                                    
- Que nomes complicados!
Há, de fato, espécies minerais cujos nomes podem ser considerados “complicados”, como zektezerita, radhakrishnaíta, jarosewichita e o mais longo de todos, ferriclinoferro-holmquistita sódica.  Mas há nomes extremamente comuns e simples, como quartzo, ouro, pirita, topázio, etc.
Na verdade, mesmo os nomes de minerais mais difíceis de escrever ou pronunciar são até simples se comparados aos nomes de animais e vegetais.  Nestes dois casos, o nome oficial das espécies, ou seja, o nome científico, é formado sempre por duas palavras e ambas em latim.  A pequena pulga, por exemplo, chama-se Pulex irritans. O simpático e onipresnte pardal é o Passer domesticus. A banal cenoura é Daucus carota. E por aí vai.
É comum que animais e plantas recebam diferentes nomes populares conforme o país ou mesmo conforme a região de um mesmo país.  O simpático quero-quero dos gaúchos é o téu-téu dos baianos, e o jerimum deles e a nossa abóbora aqui no Sul. Daí a necessidade de disciplinar o assunto estabelecendo nomes que sejam aceitos e reconhecidos no mundo todo.  E este nome é o nome científico, de duas palavras latinas. É através deles que os cientistas se entendem. Aliás, não só os cientistas. Uma amiga bióloga que estava morando no exterior havia pouco tempo, quando queria comprar peixe olhava num dicionário de português qual era o nome científico do animal. A seguir, num livro de Biologia que tinha em casa, procurava o nome científico e via como o peixe se chama em inglês.  Aí, estava pronta para ir ao mercado. 
Com os minerais, não sei por que, nunca foi adotada a nomenclatura científica latina. Eles recebem um nome de uma só palavra (com raras exceções), variando apenas a terminação. Usualmente, no português brasileiro e no espanhol eles terminam, em –ita ou –lita; no português europeu, francês e no inglês, teminam em –ite ou -lite.
Isso vale para os nomes mais modernos e para os nomes das espécies novas que vão sendo escritas.  Mas, há nomes muito antigos (a Bíblia tem muitos deles) que não seguem essa regra, como jade, esmeralda, rubi, quartzo, mica, etc.
 E quem determina se um nome está correto ou foi bem escolhido?  Para animais e plantas deve haver organizações científicas encarregadas disso, mas não sei quais são. Para os minerais, existe a Comission on New Minerals Nomenclature and Classification, da International Mineralogical Association.  Ela determina não apenas se o nome proposto para um novo mineral está bem escolhido e se ele já não existe (caso em que a proposta é recusada), mas também se a nova espécie foi adequadamente estudada e descrita.

 
E os autores, em que se baseiam para propor o nome de um mineral novo?  Pesquisa que fiz recentemente mostra, em números redondos, que 40 % dos novos nomes homenageiam uma pessoa, como ruifrancoíta (homenagem ao brasileiro Rui Ribeiro Franco); 30% fazem alusão ao local onde o mineral foi descoberto, como bahianita (de Bahia); 21% referem-se à composição química do mineral, como vanadinita, um vanadato (foto) e 6% fazem alusão a alguma propriedade do mineral, como azurita (por ter a cor azul).  Os 3% restantes têm outras origens.
Entre esses 3% que têm outras origens, há muitos casos curiosos e engraçados.  Mas, isso é conversa para outro dia.



terça-feira, 14 de julho de 2015

CRISTAIS QUE NÃO SÃO CRISTAIS


           Cristal é um corpo caracterizado por uma estrutura interna regular, chamada estrutura cristalina. Isso significa que ele é formado por um arranjo ordenado de átomos, íons ou moléculas, o que não acontece, por exemplo, com madeira, plástico e vidro.


            A estrutura interna regular pode se traduzir externamente em faces planas.  A foto abaixo mostra cristais de topázio totalmente limitados por faces planas.

 


 


Como foi dito, o cristal PODE ter faces planas. O exemplo da foto acima é um cristal euédrico, mas, mesmo com estrutura interna regular, externamente o cristal pode ser totalmente irregular (cristal anédrico) ou possuir algumas faces planas, mas não todas (cristal subédrico). Alguns minerais frequentemente formam cristais euédricos. Outros, raramente.
     Abaixo, cristal subédrico de quartzo enfumaçado e cristal anédrico de bornita.
 


 
 Isso decorre das condições de formação; a falta de espaço pode impedir que o cristal se desenvolva de modo completo.

Muitas vezes se ouve a palavra cristal sendo usado como sinônimo de cristal de rocha, que é o nome dado ao quartzo incolor.  Essa simplificação não está correta e deve se evitada.

Mas, eu quero aqui falar é de materiais que são chamados de cristal e que não o são.

Um deles, bem conhecido, é o cristal da Boêmia. Esse material é chamado de cristal, mas trata-se, na verdade, de um vidro de alta qualidade, rico em chumbo, que é usado em obras de arte, vasos, cálices, etc. Sendo um vidro, não tem estrutura cristalina e, portanto, não deveria ser chamado de cristal.
A foto a seguir mostra peças feitas com esse material. (Fonte: pragaturismo.com).



Outro exemplo de material erroneamente chamado de cristal é o Murano. Murano é um arquipélago de sete ilhas da cidade de Veneza (Itália), famoso pela qualidade das obras de arte em vidro que produz. O vidro de Murano (foto abaixo) não contém chumbo, como o da Boêmia, e sim soda. Por isso, seus produtores enfatizam que ele deve ser chamado de vidro de Murano, porque, além de não ter estrutura cristalina ele não é igual ao chamado cristal da Boêmia.
 



Por fim, há o igualmente famoso cristal Swarovski.  Este nome é uma marca registrada conhecida internacionalmente e que identifica um vidro de alta qualidade criado em 1895 na Áustria, por Daniel Swarovski, para imitar o diamante. A partir de 1976, a empresa, até então apenas fornecedora de matéria-prima, desenvolveu seu próprio design e desde então abriu pelo menos seiscentas lojas em todo o mundo, seis delas no Brasil.
  Ao contrário dos anteriores, muito usados em objetos decorativos, na decoração de interiores, este material é largamente empregado para adorno pessoal. 
Abaixo, exemplo de produtos da Swarovski. (Foto:Wikipédia)



Portanto, os chamados cristais da Boêmia, Swarovski e Murano são todos vidros, ainda que de alta qualidade.
 
 
 
 

 

sábado, 9 de maio de 2015

A SERRA DO RIO DO RASTRO, UMA ATRAÇÃO GEOTURÍSTICA


Assim como a praia da Joaquina, em Florianópolis e as praias de Torres, no Rio Grande do Sul, a serra do Rio do Rastro é uma notável atração geoturística.
Ela era antigamente chamada de Serra do Doze e fica entre as cidades catarinenses de Lauro Müller e Bom Jardim da Serra (após a qual vem São Joaquim), sendo acessada pela SC-438.
Apesar de ser muito conhecida como atração turística, poucos sabem, excetuando os geólogos,  que ela tem uma enorme importância também para a geologia do Brasil, particularmente da região Sul, como veremos a seguir.
Eu nunca havia ouvido falar naquela serra, até o dia em que, morando  no Rio de Janeiro, recebi um postal de lá, enviado pelo meu sogro. Aquela estrada na foto, serpenteando por uma distância enorme, me deixou louco de vontade de conhecê-la e com a firme determinação de ir lá na primeira oportunidade, para ver ao vivo aquela que os catarinenses chamam de a mais bela estrada do Brasil.





                                Fotos: Wikipédia (superior) e Verlei Mariot

Quando voltei residir em Porto Alegre, trabalhando no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, não só pude conhecê-la, em 11.02.1981, como passei por lá passei várias vezes, subindo e descendo, a passeio e a trabalho, feliz e preocupado, com bom e com mau tempo, antes e depois de a rodovia ser pavimentada (mas não depois de ganhar iluminação). 

O turismo

A gente sobe, através da SC-438, nada menos de 1.200 metros em apenas 13 km. Se pavimentar uma estrada destas foi uma grande obra, abri-la foi obra muitíssimo mais grandiosa. A decisão de vencer aquela serra, com dificuldades técnicas muito maiores do que as que enfrentaria hoje, merece o reconhecimento de todos os catarinenses e brasileiros. Em 1903, o governador Vidal Ramos inaugurou uma estrada que devia ser bem estreita. Depois, Irineu Bornhausen a alargou, deixando com jeito de estrada mesmo, e Espiridião Amin a pavimentou.
E é aí que se flagra uma grande injustiça: no topo da serra, foi construído um mirante onde se colocou uma placa em homenagem a Bornhausen e que tinha uma bela frase: Parecia impossível, mas com uma tenacidade incrível, ele rasgou, nas rochas da serra do Rio do Rastro, uma estrada que nos une, nos dá vida e nos espanta de beleza.  
Pois bem: com a conclusão das obras de pavimentação, o governador Espiridião Amin mandou colocar (ou permitiu que colocassem) não um, mas dois monumentos, maiores que o primeiro, assinalando a conclusão dos dois trechos da obra realizada em seu governo. Os monumentos são, reconheço uma homenagem merecida. Só que a placa em homenagem a Irineu Bornhausen foi removida. Com isso, quem passa pelo local fica sabendo que Amin mandou pavimentar a estrada, mas não sabe que foi outro governador que a mandou construir, concluindo assim que a abertura e pavimentação foram obra de um governo só. Mas, lá está a belíssima estrada, hoje inclusive iluminada em todo o trecho da serra, com energia eólica.

                                      Foto Verlei Mariot

Se antes da pavimentação passar por ali exigia grande habilidade ao volante, extrema prudência e muita coragem, hoje ela requer apenas boa habilidade e razoável coragem, mas ainda muita prudência. E se você pretende admirar a belíssima paisagem durante o trajeto de subida ou descida, não dirija. Quem está ao volante não consegue olhar para os lados.
O rio do Rastro nasce lá em cima, como um regato, e  vai engrossando à medida que desce. Numa das várias vezes em que desci a serra, soprava lá no topo, um vento extremamente forte. Tão forte que podia desequilibrar e derrubar uma pessoa. Eu estava bem no bordo do planalto, onde começa a descida, e vi que, em certos momentos, vinha lá de baixo uma neblina que logo se desvanecia, para em seguida voltar de novo. Eu não conseguia entender aquilo, pois o dia estava claro, e só fui descobrir o que era quando finalmente comecei a descer.
O vento, forte como era, levantava as águas do rio do Rastro (naquele ponto, apenas um riacho), suspendendo completamente, por alguns segundos, a sua queda! Quando cessava a lufada de vento, as águas voltavam a cair. Novo pé de vento, e lá se iam as águas para o céu!
Que coisa... Não é sempre que se vê um rio ser vencido pela força do vento!



Menos feliz eu fui na noite em que desci ali sozinho, em meio a um denso nevoeiro. Várias vezes precisei parar e dar marcha-a-ré porque estava indo de encontro à mureta de proteção... Felizmente a estrada tem agora iluminação.
Em 21 de julho de 1981, nevou a madrugada inteira. Eu morava em Criciúma (SC) e no dia seguinte, meus colegas e eu decidimos subir a serra para ver a neve. Quando chegamos ao sopé, dava para ver o topo do planalto pintado de branco. Mal começamos a subir, encontramos colegas de trabalho da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) fazendo um furo de sonda. E o engenheiro, um mineiro, usava apenas camisa de manga curta!
Em outra ocasião, eu estava lá em cima e de repente fui envolvido por uma nuvem. Ela passava rente ao chão, mas a 1.400 m de altitude!
Coisas estranhas e belas são vistas naquela serra...



A geologia da serra do Rio do Rastro

Como eu disse, a serra do Rio do Rastro é mais que uma belíssima atração turística.  Ele é uma aula de Geologia. Foi nela que se definiu a coluna estratigráfica da Bacia do Paraná, ou seja, ali é que foram estudadas, descritas e denominadas as rochas da grande sequência de formações geológicas que existe nos estados da região Sul e países vizinhos, e que ocupa mais de 1.200.000 km². Foi trabalho do geólogo norte-americano Israel Charles White, entre 1904 e 1906, daí ser aquela sequência de rochas conhecida também pelos geólogos como Coluna White
Não é por acaso, portanto, que unidades estratigráficas como Rio Bonito, Guatá, Passa-Dois, Palermo, Estrada Nova e Rio do Rastro, nomes tão familiares aos geólogos do Sul,  correspondem a topônimos daquela região.



                                          Charles White -  Foto: Wikipédia

Essas rochas encontradas no sul do Brasil aparecem também na África, pois formaram-se antes da separação dos dois continentes. Os basaltos, o final da sequência, começaram a se formar justamente quando teve início essa separação.
Na década de 1980, o DNPM identificou as formações geológicas da coluna estratigráfica com dezessete marcos de concreto fixados junto à estrada (será que ainda existem?). O marco 1 foi colocado na cidade de Lauro Müller, a 200 m de altitude. O marco 17, lá em cima, 17 km adiante, no topo dos derrames basálticos, a 1.400 m de altitude.
No meio desse trecho, havia até um Museu Geológico, que uma chuvarada destruiu e que não foi reconstruído.
O ponto onde a estrada passa de rodovia muito sinuosa para a categoria de pirambeira, tornando-se muito mais íngreme, marca o início do intervalo de basaltos, rochas vulcânicas que, por serem mais resistentes à erosão, deixam o perfil da serra muito mais escarpado. Esses basaltos continuam aflorando até terminar a subida.
Este é o trecho onde é mais difícil dirigir. Mas, em compensação, é o que pode fazer a alegria dos colecionadores de minerais.
Ele é composto por uma sucessão de derrames de lava e cada um desses derrames tem na sua parte superior, uma associação de minerais muito interessantes para coleção.
Para a pavimentação, a estrada precisou ser alargada em vários pontos e, com isso, em muitos lugares podiam-se obter amostras muito boas de minerais variados. Tive o privilégio de passar por ali em 1981, logo depois de a estrada ser pavimentada e vivi uma das minhas melhores experiências de colecionador. Foi bom demais!
Vi um derrame que continha cristais de ametista, heulandita, calcita e escolecita. Logo adiante, outro derrame, este com quartzo enfumaçado, heulandita, calcita, laumontita, ametista, cristal de rocha e obsidiana.  Após mais 1,7 km de estrada, escolecita, estilbita e laumontita.
Eu estava sozinho e queria muito compartilhar aquelas descobertas. Mas, como e com quem?  O jeito que achei foi pegar uma lata de tinta spray que tinha no carro e escrever, abreviadamente, na mureta da estrada, os minerais que encontrava em cada ponto (HEU para heulandita, EST para estilbita, etc.). Por serem abreviaturas, eu sabia que das pessoas que viessem a ler, talvez só os geólogos entendessem. Mas, foi a maneira que achei de compartilhar a emoção das descobertas. Foi também minha única atuação como pichador em toda a minha vida.  E não me arrependo, porque a causa era nobre.
Outra vez, encontrei naquela estrada uma drusa de ametista e fiquei na dúvida se a trazia ou não, pois os cristais eram bonitos, mas o conjunto, bem pesado. Acabei deixando lá, mas marquei bem o lugar para achá-la se viesse a me arrepender. Arrependi-me mesmo, mas alguns meses depois subi a serra, num dia horrível, frio e com chuvisco. Quando cheguei àquele local, desci e encontrei a drusa exatamente onde a deixara. Em menos de um minuto, eu estava de volta ao carro com ela.

Assim é a serra do Rio do Rastro, cheia de surpresas, encantamento, descobertas e emoção.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

GEOLOGIA NAS PRAIAS DE TORRES (RS)

       Assim como a praia da Joaquina, em Florianópolis, sobre a qual falamos em texto aqui publicado dia 9 de janeiro deste ano, as praias gaúchas de Torres são uma aula de Geologia a céu aberto.
            Também ali são duas as rochas que afloram, só que diferentes daquelas da Joaquina. Lá, a gente vê granito e diabásio; aqui, a gente vê basalto e arenito.

O arenito

            O arenito é uma rocha sedimentar formada pela deposição e compactação de areia (grãos de minerais medindo 0,125 mm a 2 mm de diâmetro). O arenito de Torres tem cor marrom-clara a rosada (foto abaixo) e, como a imensa maioria dos arenitos é formado por grãos de quartzo.  



             A areia que se deposita e depois se torna um arenito pode ser transportada por um rio, pelo mar ou pelo vento. O arenito de Torres é daqueles cuja areia veio trazida pelo vento (arenito eólico). Como se sabe isso? Pela maneira como se distribuem suas camadas. Elas têm certa inclinação num ponto, mas logo acima a inclinação é outra, e para os lados também mostra inclinação (que os geólogos chamam de mergulho) e direção variáveis (próxima foto). Essas mudanças caracterizam a chamada estratificação cruzada e são consequência das mudanças na direção do vento à época da deposição da areia. Se a areia tivesse sido depositada por um rio, também mostraria estratificação cruzada, mas ela seria bem diferente (estratificação cruzada acanalada).
             


             Além disso, os grãos de quartzo do arenito eólico não têm brilho porque o atrito de uns contra os outros, no ambiente desértico, sem água, os deixa foscos.
          Torres faz parte de uma grande porção da América do Sul que era um vasto deserto nos períodos Triássico (251 a 200 milhões de anos atrás), Jurássico e início do Cretáceo (145,5 até 65,5 milhões de anos atrás). E deserto bem típico: arenoso, quente, seco e sem vida. O arenito que ali se vê é chamado pelos geólogos de Formação Botucatu ou Arenito Botucatu, porque foi descrito pela primeira vez no município desse nome, em São Paulo.
            A compactação das areias do antigo deserto formou uma rocha muito porosa e permeável. Por isso, ela absorve muita água, água esta que, através de poços tubulares, pode ser aproveitada facilmente.
Rochas assim, que armazenam e fornecem água com facilidade, chamam-se aquíferos. Já ouviram falar no Aquífero Guarani, a vasta reserva de água subterrânea existente na América do Sul, principalmente no sul do Brasil?  Pois apraz-me me informar-lhes que o Arenito Botucatu é a principal rocha desse famoso aquífero, que é o maior e melhor do Brasil.
Um furo de sonda feito pela CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) 2,5 km ao norte da cidade mostrou esse arenito com 40 metros de espessura.

O basalto

      O basalto é uma rocha vulcânica, formada pelo resfriamento e solidificação de lava e é composto basicamente de cristais de piroxênio e plagioclásio.       
     Lava é o magma que chegou à superfície. Nessas condições, ele resfria muito depressa, por isso os grãos desses minerais são muito pequenos, invisíveis a olho nu, ao contrário dos cristais de feldspato e quartzo que formam o granito da praia da Joaquina. O granito provém de magma que resfriou no interior da costa terrestre, lentamente, a quilômetros de profundidade. 
            O basalto tem a mesma composição do diabásio que se vê na Joaquina, mas as duas rochas diferem no ambiente de formação: ambas são rochas ígneas, mas o diabásio formou-se por resfriamento e consolidação de magma dentro da crosta, não na superfície como o basalto. O basalto é, portanto, uma rocha ígnea extrusiva e o diabásio, rocha ígnea intrusiva.
            Este basalto, chamado pelos geólogos de Formação Serra Geral, ocupa toda a metade norte do Rio Grande do Sul, mais de metade do Estado de Santa Catarina, uns 50% do Paraná, partes de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Uruguai, Paraguai e Argentina. Estende-se por nada menos de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, uma das maiores, se não a maior extensão de basalto continental do mundo todo. Ele começou a formar-se há 120 milhões de anos, no período Cretáceo, quando a América do Sul e a África começaram a se separar. Houve a fragmentação de um protocontinente que reunia todas as massas continentais do planeta, de nome Pangeia, cercado por um único mar, chamado Pantalassa. O vulcanismo cessou há 100 milhões de anos, mas essa separação continua ocorrendo ainda hoje, alguns centímetros por ano.
            Na fragmentação do antigo continente único, formaram-se grandes fendas, por onde saía a lava basáltica. O basalto é assim, ele não extravasa através de cones vulcânicos, mas sim de grandes fendas, chamadas pelos geólogos de geóclases. A cicatriz de uma dessas grandes fendas ainda é visível e passa exatamente por Torres, estendendo-se até Posadas, na Argentina. Ela é chamada pelos geólogos de Lineamento Torres-Posadas. 

O contato arenito / basalto

            O interessante na praia de Torres não é a simples presença das duas rochas, mas o fato de elas estarem em contato direto uma sobre a outra. Isso pode ser visto na praia da Guarita, na Torre Sul e na parte sul da Torre do Centro.
Havia como foi dito, um vasto deserto arenoso. A lava veio e se espalhou sobre a areia. Por isso, é possível ver, na zona de contato, alterações no arenito, promovidas pelo calor da lava. A foto abaixo mostra o arenito rosado sob o basalto cinza. Os pedaços de rocha menores são de basalto também. 


  
Nas fotos a seguir, o arenito, devido ao calor da lava, mostra-se mais compacto e mais difícil de quebrar e com cor também algo diferente.
  





  A próxima foto mostra também o arenito Botucatu (parte inferior) em contato com rochas vulcânicas da Formação Serra Geral, mas em outro contexto. São lajotas de uma calçada existente ao lado do Supermercado Zaffari Higienópolis, em Porto Alegre.



   Nos fundos do mesmo supermercado, pode-se ver o arenito num muro e na calçada, nesta com cor mais escura, devida à sujeira acumulada ao longo do tempo. 



 Como o ambiente desértico persistiu ainda durante um tempo após o início do vulcanismo, e como a lava basáltica se depositava em derrames que se sucediam com intervalos de duração variável, pode-se ver, em vários pontos do estado, camadas de arenito entre duas massas de basalto.  
            As fotos aqui exibidas foram tiradas na praia da Guarita, dentro do Parque Estadual da Guarita. Pode-se observar, na imagem abaixo (esta da Wikipédia), que os basaltos mostram fraturas na direção vertical.

                       

      Isso é comum na parte central e mais espessa de um derrame de basalto e a tendência, por isso, é blocos se soltarem e caírem. Aliás, a foto a seguir mostra exatamente isto: um bloco de basalto caído sobre o arenito da base da torre da Guarita.



              Este basalto que se vê em Torres é a rocha da qual se extrai enorme quantidade de ágata e de ametista no Rio Grande do Sul, a ponto de tornar esse estado o maior produtor mundial das duas pedras preciosas. Infelizmente, ali, nas praias de Torres, elas não são vistas.

O outro lado de Torres

            Se juntarmos o mapa da América do Sul com o da África, veremos que eles se encaixam de modo surpreendente. Segundo o pesquisador Ruy Rubem Ruschel, o ponto onde hoje é Torres estava unido ao atual cabo Cruz, na Namíbia, que ele chamava de o outro lado de Torres.  E assim como Torres é o único ponto do litoral brasileiro aonde os basaltos chegam até à praia, cabo Cruz, afirma ele, é o único ponto do litoral africano onde isso ocorre.
     Na Namíbia, o basalto é chamado de Formação Drakensberg e o arenito, de Arenito Cave.
Os mapas abaixo mostram a enorme semelhança da costa brasileira com a costa ocidental africana. No mapa da direita, uma ampliação do outro, Torres fica onde aparece o nome da pequena (3.800 habitantes) cidade de Karibib, no mapa da Namíbia. 





            A cidade de Torres está no paralelo 29º 20’, que passa pelo extremo sul da Namíbia, fronteira com a África do Sul. Isso mostra que, supondo que a África tenha permanecido imóvel, a América do Sul, ao se separar dela, teria feito um movimento para Sudoeste, girando no sentido horário. Dados atuais mostram que hoje o deslocamento do nosso continente é para Oeste (4 mm/ano) e, sobretudo, para o Norte (14 mm/ano). 
            A propósito, em 2001 a artista plástica sul-africana Georgia Papageorge realizou uma instalação em que, uma série de bandeiras enfileiradas instaladas na praia em Torres continuava com bandeiras iguais instaladas na África, no ponto outrora unido ao daqui. Nesse projeto, chamado Africa Rifting – Lines of Fire. Namibia/Brazil, as bandeiras de Torres foram instaladas no dia 11 de setembro de 2001 (sem saber, conta ela, que, naquela dia, os Estados Unidos sofriam os tristemente famosos ataques da Al Qaeda). 
Abaixo, as bandeiras de Georgia na costa africana. A foto mostra apenas as areias do deserto da Namíbia, na costa do Esqueleto. Nada dos basaltos citados por Ruschel. Quem está certo, ele ou Georgia?  Troquei e-mails com Georgia Papageorge em 2001 e 2002, mas não a conheço. Já Ruy Ruben Ruschel conheci bem e até escrevemos um artigo de História juntos. Por isso, em princípio acredito nele.




Torres hoje

            Cessado o vulcanismo, Torres e todo o litoral gaúcho foram palco de vários avanços (transgressões) e recuos (regressões) do mar. Atualmente, estamos numa fase de regressão marinha, iniciada há 2.000 anos. Essa é a razão de haver tantas lagoas no litoral do Rio Grande do Sul, inclusive dentro da cidade de Torres.


            Finalizando, convido os amigos a dar uma olhada mais cuidadosa nas rochas de Torres quando forem tomar um banho de mar naquela cidade. E lembrem: a distante África já esteve coladinha à mais bela praia gaúcha. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

SOBRE O ARTIGO “E A ENERGIA DOS CRISTAIS? MOTIVOS PARA CRER E DUVIDAR”.

                                   Análise recebida de meu amigo e colega GEÓL. MARIO FARINA, em 01.02.2015, e aqui reproduzida (com sua autorização) por ser extensa demais para aparecer na seção de comentários de um blog como este. 

            Li e reli atentamente o artigo. Depois consultei meus alfarrábios e procurei algo novo na Internet, sedimentando minhas ideias sobre o tema.
            O assunto é fascinante o que me motiva a opinar, apesar de eu não considerar-me um especialista no ramo.
            Tratando-se de “energia” cabe inicialmente distinguir os diversos tipos de energia dos cristais e os efeitos correspondentes produzidos em cada caso. Eis, sumariamente, os principais:
            - Cristais de minerais radioativos possuem energia pertinente à radioatividade;
            - Cristais de quartzo apresentam piezoeletricidade, podendo gerar efeito de corrente elétrica. Têm, pois, energia piezoelétrica;
            - Cristais de minerais magnéticos têm energia magnética, denotando força de atração especialmente sobre objetos de ferro;
            - Cristais de minerais fluorescentes (tais como flourita, scheelita e opala) quando devidamente estimulados por luz ultravioleta, raio-X, ou luz infravermelha emitem energia luminescente; e
            - Todo e qualquer cristal por ser constituído de átomos e diversas partículas subatômicas possui energia, denotada principalmente pelos movimentos constantes de tais partículas. Isto é uma fenomenologia implícita da própria matéria. Em circunstâncias especiais surgem a energia nuclear, a quântica, etc.
            Em todos esses casos os cristais têm energia, sendo, pois, evidentemente energéticos, mas seguramente não exercem efeitos sobre a saúde e o comportamento humano.
            Agora vamos discutir se os cristais possuem outra energia que atuando sobre os corpos humanos física ou mentalmente e também sobre os ambientes em que as pessoas convivem, possam provocar alterações, exercendo efeitos benéficos na saúde, nos comportamentos e até mesmo em variada gama de acontecimentos futuros. Isto seria o que alguns denominam de “poder dos cristais”.Há sérias duvidas se esta energia existe ou seja mera especulação. Veremos!
            Os crentes ou aficionados de tais benefícios costumam alinhar imensa e variada gama de males em que a energia dos cristais atua e beneficia, tais como: cálculos nos rins e na vesícula, enxaqueca, dores de coluna, artrite, reumatismo, gota, bronquite, diabetes, prisão de ventre, insônia, alergias, afecções oculares, esgotamento nervoso e amigdalite – e deve ter mais – caracterizando autêntica panaceia, ou seja, remédio para todos os males.
            Os mesmos adeptos são pródigos em atestar benefícios dessa mesma energia dos cristais em inúmeros e variados casos, com destaque para: incremento da autoestima, acréscimo da energia positiva nos relacionamentos interpessoais, promoção da autoconfiança, da gentileza e da simpatia, atração de riqueza e amor, harmonização de ambientes, combate a tristeza, proteção contra ladrões (!), aceleração da evolução espiritual e acentuação das sensibilidades e percepções intuitivas.
            Quanto às metodologias recomendadas para utilização dos cristais, destacam-se: colocação dos cristais sobre os órgãos afetados, manter os cristais nos bolsos das vestes, beber a água onde os cristais devem ser previamente mergulhados (denominado elixir de cristais), usar cristais em formas de pirâmides, e colocação sob travesseiros.
            Vejamos agora as circunstâncias envolvidas no trato com as propaladas energias dos cristais e seus anunciados poderes em beneficiar os humanos.
            - Agentes dos procedimentos:
a) Bastantes frequentes: mágicos, curandeiros, magos e xamãs.
b) Esporádicos: charlatões, embusteiros e espertalhões.
c) Raros: curiosos e experimentadores
d) Muito raros: cientistas
            Sendo este ranking verdadeiro, e tudo indica que seja, ele não indica favorabilidade para a crença para que os cristais possam operar beneficamente para a saúde e para o comportamento humano.
            - Locais dos procedimentos – As instalações dos curandeiros, magos e xamãs representam as mais frequentes. Em alguns casos são utilizados palcos para shows e raramente domicílios particulares.
Interessante observar que em hospitais e laboratórios de saúde não existem instalações para tratamentos por cristais – nem no Brasil nem no exterior. Este fato contribui para a descrença na efetividade da denominada cristaloterapia.
            Cristais utilizados – A lista das espécies minerais é grande e variada, mas algumas parecem ser preferidas, tais como: quartzo (cristal de rocha, ametista e citrino), calcita e opala. São geralmente escolhidos cristais bem formados e com tamanhos razoáveis. É intrigante constatar que rochas, como regra, não são utilizadas, apesar de conterem os mesmos minerais habituais na cristaloterapia. Não são conhecidos usos, por exemplo, de riolitos que contêm diminutos cristais de feldspato, nem tão pouco de basaltos que contêm pequeninos cristais de piroxênio. Então, as amostras escolhidas para uso parecem que necessitam bem impressionar aos olhos, independentemente de suas constituições mineralógicas.
            Ao consultarem-se na Internet as listas de minerais recomendados acompanhados de seus significados e de seus pretensos poderes constata-se que em vários casos não há coincidências nos tipos de benefícios atribuídos ao mesmo mineral. Isto faz lembrar as previsões de horóscopos que as vezes diferem de jornal para jornal ou de astrólogo para astrólogo. Esta diferença do prometido beneficio para o mesmo mineral é fator de descrença na validade da cristaloterapia.
             - Depoimentos – Ignoramos depoimentos de instituições cientificas ou medicas, atestando poderes terapêuticos aos cristais. Algumas pessoas, no entanto, se dizem beneficiadas ou mesmo curadas de certos males. Isto efetivamente pode ocorrer, mas em função apenas de reações naturais dos organismos ou até mesmo como fruto de expectativas otimistas, baseadas em autossugestão ou pensamento positivo, não necessitando de emanações energéticas de cristais para as curas.
            - Existência de provas cientificas – Provas confiáveis são absolutamente desconhecidas.
            - Contexto espalhafatoso – O espalhafato é relativamente comum aos aficionados dos poderes benéficos dos cristais, como para o caso da ametista, onde é divulgado assim:
            “... seu significado “não bêbado” se devia a suposta faculdade dessa pedra de manter sóbrios os consumidores de vinho mesmo se cometessem excessos. A propósito a bebida era servida em recipientes de ametista, pratica que persistiu até a Idade Média. Como a cor da pedra se confunde com a do vinho tinto seu uso permitia que os consumidores já entrando em estados alterados não percebessem quando o vinho estava sendo aguado ou mesmo substituído por água. Atributos modernos da ametista: munida da cor especifica do chacra coronário, um dos veículos energéticos de contato com outros planos, a ametista é considerada uma pedra de meditação por excelência. No terreno físico é aplicada em casos de alcoolismo, dores de cabeça, enxaquecas, insônia, daltonismo, impurezas no sangue e doenças venéreas, combate também dores de qualquer espécie. No nível psicológico, auxilia a reorganização mental de pacientes e elimina o medo, a raiva e a ansiedade, é eficaz também quanto a distúrbios de polaridade sexual. No nível sutil, proporciona o sentimento de transmutação a graus superiores, incentiva a humanidade, o altruísmo em prol da coletividade. Traz muita proteção, coragem, tranquilidade e felicidade.

            Razões para crer – Razões do Percio expostas no seu blog já referido
            Caso 01 – Em 1989 Percio sentiu forte latejamento no dedo e sensação de azedo ao contatar uma zircônia cúbica de um par de brincos. Depois testou novamente os brincos e nada mais sentiu.
            Caso 02 – Locação de uma obsediana no Museu de Geologia dando azar e provocando acontecimentos desastrosos.
            Caso 03 – Uma senhora solicitou ao Percio para que ele indicasse uma drusa para ela comprar e levar de presente para a filha. Ele ouviu uma “vozinha interior”  recomendando-o a escolher uma das cinco drusas disponibilizadas.
            Como explicar estas ocorrências independentemente de pretensas forças energéticas dos cristais?
            Caso 01 – Como o fenômeno não mais se repetiu, para tratar-se de efeito da zircônia ter-se-ia que admitir uma geração descontinua de energia ou uma geração meramente ocasional de energia. Isto porem é inadmissível no âmbito da ciência física.
            O que pode ter acontecido, foi uma extrema sensibilização do Percio, induzindo seu subconsciente e provocando falsas sensações conscientes. Fisicamente nada teria ocorrido, apenas o cérebro passou a admitir que ele sentisse o latejamento e a sensação de azedo. Algo raro, por isso nunca mais se repetiu com ele.
            Caso 02 – Energia de cristal causando azar e, mais que isto, provocando desastres em diversas pessoas não encontra a mínima sustentação racional. A concepção mais simples, lógica e inteligente é a que diz respeito a meras coincidências. Coincidências são por demais frequentes nos diversos campos dos acontecimentos. Às vezes por elas serem surpreendentes deixam de ser consideradas como verdadeiras e buscam-se outras explicações que, no entanto, são fictícias.
            Caso 03 – Para a situação ocorrida devemos colocar em evidência quem é o Percio e o que ele mesmo pensa de si.
            Ora, Percio é um mineralogista de elevada excelência, bastante experiente e reconhecido pela coletividade geológica como um profissional exemplar e dono de um riquíssimo currículo. Apesar de não ser vaidoso, ele mesmo sabe muito bem de seus ótimos predicados.
            Quando a senhora solicitou para o Percio escolher uma das cinco drusas, ele examinou-as atentamente diversas vezes e por serem extremamente semelhantes, ele não encontrou no âmbito de toda sua sabedoria, por mais que procurasse, um critério plausível para a escolha. No fundo de seu raciocínio ele julgou que em hipótese nenhuma ele poderia decepcionar aquela senhora, dizendo para ela levar qualquer uma das drusas, pois ele não sabia diferençá-las.
            Sua personalidade de mineralogista exímio ficou abusivamente atormentada. Houve então uma perturbação mental tamanha que ocasionou a geração de um sentido algo alucinatório que o fez pensar que estava ouvindo uma vozinha – vozinha esta existente tão somente na fértil imaginação do Percio.

            Quanto ao vídeo indicado no blog, é claramente uma interessante representação brincalhona.

            Conclusão – Por haver ausência de razões lógicas e de evidências comprovadas, mantenho-me descrente na propalada energia e no pretenso poder dos cristais. Será o futuro capaz de contestar-me?