quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

LULA COMO NUNCA ANTES SE VIU NESTE PAÍS

Inaugurar obras inacabadas é coisa corriqueira na política brasileira. Este mês, por exemplo, Lula inaugurou o primeiro trecho da ferrovia Transnordestina. Sabem quanto ele mede ? Só 1% (isso mesmo, unzinho por cento) da ferrovia toda.

Inaugurar obras que ainda nem começaram é mais raro, mas também já se viu, tamanha é a cara-de-pau de nossos dirigentes.

Mas, nesta seara, o ainda presidente Lula superou a todos, inclusive a si próprio, dia 28 de dezembro.

A cidade do Rio de Janeiro tem um viaduto, que os cariocas chamam de Elevado da Perimetral e que, acredito, todos eles acham feio. Eu também acho, embora não consiga imaginar o trânsito daquela área da cidade (fica junto ao porto) fluindo sem o tal elevado.

Pois bem, o prefeito, Eduardo Paes, decidiu demolir o Elevado e reurbanizar a área portuária. A maquete do projeto mostra que ela vai ficar linda. Não sei se vai valer a pena o custo e o sacrifício a ser imposto aos cariocas, mas o resultado previsto me parece lindo. Custo e incômodos não me deveriam preocupar, já que vivo feliz em Porto Alegre, mas tenho muitos amigos e parentes no Rio e em Niteroi e me preocupo, sim, por eles.

Bem, mas o que tem Lula a ver com isso ? Acontece que o prefeito do Rio convidou o presidente da República para inaugurar não a obra de reurbanização, mas a demolição do Elevado da Perimetral ! Vocês já viram disso ? Inauguração de uma demolição ?!

Pois é... Mas tem mais !

Como é que se faz para inaugurar uma demolição ? Eduardo Paes sabe: ele mandou construir uma maquete do Elevado, ou seja, do viaduto feioso que quer demolir, para que Lula, com uma martelada, simbolicamente desse início à demolição, destruindo a maquete ! Em países um pouco mais sérios, presidente da República nem inaugura obra, deixando isso para os ministros. Aqui, temos um presidente que inaugura demolição.

Mas, tem mais ! Como Lula não podia ir ao Rio para a cerimônia, Eduardo Paes levou a maquete a Brasília, e lá Lula deu a solene martelada.

Bastaria isso para o presidente ter mais outro “Nunca antes neste país” a incluir em sua biografia (com direito a registro em cartório, é claro !). Mas, há um último e significativo detalhe nessa surrealista inauguração. Pasmem, companheiros e companheiras: a demolição do viaduto de verdade vai começar sabem quando ? Depois do Carnaval. Mas , bem depois do Carnaval. Mais precisamente, em 2013 !

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RIQUEZA QUE NÃO APARECE

A recente divulgação do ranking dos municípios gaúchos de acordo com o PIB (produto interno bruto) de 2008 permite constatar algumas realidades desoladoras e, ao mesmo tempo desfazer alguns mitos. Comecemos por estes.

Quando se fala em produção de pedras preciosas no Rio Grande do Sul, muitas pessoas – boa parte delas bem informadas - pensam logo em Lajeado e Soledade. E aí estão dois enganos: embora nosso estado seja o segundo maior produtor brasileiro de gemas, atrás apenas de Minas Gerais, essa produção encontra-se principalmente em Ametista do Sul (maior produtor de ametista) e Salto do Jacuí (maior fornecedor de ágata). Lajeado e Soledade são importantes centros de beneficiamento e comercialização, mas não de produção. E Lajeado hoje é muito menos importante do que foi no passado, voltada que está mais para a indústria de alimentos.

Uns 40 anos atrás, Soledade assumiu a liderança e em 1997 pertenciam ao setor de gemas as quatro maiores empresas do município e oito das nove maiores. Na mesma época, Lajeado tinha apenas uma empresa trabalhando com gemas entre as cem maiores do município. Segundo um empresário de Soledade, há hoje na cidade cerca de 80 empresas que lidam com pedras preciosas, 50 delas com vendas no varejo.

A primeira constatação desoladora é que o Brasil cresceu 5,2% no período, enquanto o Rio Grande do Sul avançou só 2,7%, metade, portanto, do índice de crescimento nacional.

Como estão, nesse panorama, os municípios ligados ao setor de gemas ?

Lajeado está bem, é o 21º colocado entre os 496 municípios gaúchos. Mas, isso deve-se certamente não às gemas, mas à diversificação que a economia municipal mostra hoje, muito apoiada na indústria alimentícia. Soledade é o 102º colocado, e aí já se começa a ver que gemas não são um grande gerador de riquezas, até porque sua extensão territorial é bem maior que a de Lajeado.

Salto do Jacuí tem em seu território uma grande hidroelétrica (e, nela, o maior lago artificial do Estado) e, sendo o maior produtor brasileiro de ágata, podia escolher entre dois títulos: “Capital Gaúcha da Energia Elétrica” ou “Capital Brasileira da Ágata”. Sensatamente, optou pelo primeiro, pois eletricidade é um insumo de demanda sempre crescente enquanto a ágata está sujeita a variáveis que vão desde a flutuação cambial até a influência da moda. O município situa-se em 143º lugar de acordo com PIB estadual e não temos dúvida de que essa colocação seria muito pior não fosse a produção de energia elétrica. Aliás, com a queda na cotação do dólar ocorrida nos últimos anos, vários garimpos de ágata estão paralisados.

Por fim, temos Ametista do Sul, simpática cidadezinha que a cada nova visita que fazemos se mostra maior, mais organizada e mais desenvolvida. É o maior produtor brasileiro da bela ametista que lhe dá o nome, com uma igreja toda revestida internamente com esta pedra preciosa, mas situa-se apenas em 348º lugar no ranking dos municípios gaúchos. Para quem conhece o enorme volume de ametista ali produzido, o igualmente enorme volume que é exportado, e sobretudo, o preço que atinge a ametista depois de lapidada e montada numa joia, é desolador ver como isso gera tão escassa riqueza para o povo que a produz com tanto esforço...

Consola um pouco - mas só um pouco - saber que o município cresceu 6% em 2008, um pouco mais que a média brasileira. É indispensável, porém, lembrar que essa economia está calcada em um recurso natural não renovável, que mais cedo ou mais tarde, portanto, deixará de existir.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A MIOPIA DO PT E DO PSDB

Há algumas coisas que fazem parte do nosso dia-a-dia que meus filhos cresceram vendo. Outras porém, como o CD e o telefone celular, eles viram nascer.

Quem se lembra dos primeiros tempos do celular sabe como era. Os ricos (em dinheiro) que tinham um, iam à praia, por exemplo, e, quando queriam voltar, usavam o celular para chamar o motorista. Os ricos (em bom senso), que éramos nós, achavam isso uma ostentação, uma louca demonstração de vaidade. Hoje, quando existem no Brasil mais celulares do que pessoas, se usa esse telefone para coisas muito menos necessárias e todos acham isso normal.

Por que o celular se tornou tão barato, tão abundante e tão popular ? Porque a privatização dos serviços telefônicos trouxe eficiência e uma saudável concorrência. Só que em TODAS as campanhas políticas o PT grita que o PSDB quer privatizar as empresas do governo, que já fez isso e vai fazer de novo. E o PSDB, por incrível que pareça, se encolhe e se esconde, com vergonha, porque realmente fez privatizações e quer que esqueçam que fez !

Eu e muitos milhões de brasileiros somos míopes, mas a gente põe um par de óculos sobre o nariz e está resolvido o problema. Já miopia como a do PT e a do PSDB acho que não tem o que resolva...

O RECADO FOI DADO

Quando a cidade do Rio de Janeiro foi sede dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, armou-se um grande esquema de segurança, como era de se esperar, e tudo transcorreu na maior tranquilidade.

Algum tempo após encerramento dos jogos, porém, aqui em Porto Alegre, um conhecido nosso que é policial militar (Brigada Militar), disse que sua corporação ficou sabendo o seguinte: os jogos só foram realizados em clima de tranquilidade porque houve acordo entre as autoridades da segurança e os traficantes de drogas do Rio de Janeiro. Verdade ? Ficamos na dúvida. A mídia daqui nada informou sobre isso (não sei se a do Rio publicou alguma coisa), mas a fonte era digna de crédito.

Durante os atentados praticados pelos traficantes cariocas recentemente, que acabaram ocasionando a invasão da Vila Cruzeiro do Sul e dos morros do Complexo do Alemão, em um dos muitos ônibus incendiados, os traficantes deixaram um recado: Com UPP não há Olimpíada.

UPP, como se sabe, é a sigla que identifica as Unidades de Polícia Pacificadora, iniciativa que está levando realmente paz aos morros cariocas, pois expulsa os bandidos através da presença permanente da Polícia Militar nas zonas onde cada uma delas é criada.

Este recado já não assusta tanto, porque a invasão da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão mostrou que as forças armadas e a Polícia, em conjunto, resolveram virar o jogo. Mas, ainda há muitas favelas controladas pelos traficantes. E esse aviso vem dar muito mais credibilidade àquela história de que os Jogos Pan-Americanos se realizaram em paz porque houve acordo com os traficantes.