quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

OUTRO ÍCONE DA JOALHERIA BRASILEIRA

     Quando terminei de escrever sobre Jules Sauer, me dei conta de que precisava falar também sobre outro ícone da joalheria brasileira, Hans Stern. Ele foi o fundador da H. Stern, uma rede de 280 joalherias espalhadas por 32 países e que emprega quase 3.000 pessoas.
A vida de Hans Stern assemelhou-se em muitos aspectos à vida de Jules Sauer.  Ambos vieram da Europa para o Brasil muito jovens (Hans com 17 anos, Sauer com 18), no início da II Guerra Mundial. Eram de origem judia, ambos começaram a vida profissional aqui em atividade não ligada diretamente às pedras preciosas (Sauer deu aulas de francês e Stern começou trabalhando como datilógrafo) e, o mais importante de tudo, os dois deram enorme impulso ao conhecimento e consumo de pedras preciosas brasileiras, numa época em que elas eram consideradas gemas de segunda categoria.
O primeiro emprego de Hans Stern foi numa empresa que lapidava e importava predras preciosas (chamada Cristab). Ele logo se encantou com a beleza daquela mercadoria e começou a viajar por todo o país, inclusive a cavalo, conhecendo garimpeiros e comprando gemas diversas.
Em 1945, fundou no Rio de Janeiro, uma pequena loja: era o início da H. Stern, que desde o início teve este nome.


Brincos Harmony, criados para a H. Sten pela estilista
Diane von Furstenberg, com rubi, rubelita, berilo, citrino, 
quartzo rosa e diamante.


Hans não se conformava com o fato de classificarem nossas gemas como pedras semipreciosas, e ficou famosa uma frase sua: Não existe pedra semipreciosa, como não existe mulher semigrávida. De fato, embora a denominação pedra preciosa seja correta, o mesmo não se dá com pedra semipreciosa, por várias razões. A principal é que nunca houve consenso sobre quais pedras seriam consideradas preciosas. Normalmente, eram assim classificados o rubi, a safira, a esmeralda e o diamante. Alguns autores, porém, incluíam também a opala preciosa e o crisoberilo, por exemplo. E outros, a pérola. Além disso, a distinção era inútil e, para o Brasil, muito prejudicial.
Vários autores e gemólogos de renome têm a mesma opinião: Robert Webster, Walter Schumann, Joel Arem, Erich Merget e, é claro, nosso tão estimado Jules Sauer.
O preço não é critério válido para a separação: esmeralda, rubi, safira e diamante são usualmente gemas caras, mas a turmalina Paraíba tem preço médio maior que o do rubi e o da safira e a alexandrita e a opala-negra têm preço médio igual ao da esmeralda, por exemplo.
Coerente com esses posicionamentos, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) recomenda evitar sempre o uso da palavra semipreciosa, substituindo-a por preciosa, salvo exigência comercial ou legal (NBR 10.630).   
Assim como devemos a Jules Sauer o reconhecimento internacional da esmeralda brasileira, devemos a Hans Stern essa atitude importante na valorização das nossas gemas.


                     Anel Sunrise, em ouro, ametista e um 
                     pequeno diamante na lateral da peça. 

Considerar pedra preciosa gemas como água-marinha, turmalinas e topázio imperial não foi difícil. Mas, considerar assim gemas relativamente baratas como ametista, citrino e ágata foi resultado do empenho de gemólogos como os citados.  Hans Stern, entretanto, foi bem além.
     Eu achava – e acredito que outros gemólogos experientes também - que incluir o quartzo incolor (cristal de rocha) entre as pedras preciosas era o que hoje se chama de forçar a barra. Afinal o
quartzo é a espécie mineral mais comum do planeta, e o cristal de rocha é a mais comum de suas muitas variedades. Então, lapidar e colocar cristal de rocha em uma joia era algo difícil de conceber.  Pois a H. Stern fez não uma joia, mas toda uma coleção com cristal de rocha!  Com uma inteligente campanha de marketing, apresentaram a coleção como joias leves, adequadas à estação (era verão).  Para mim então ficou consagrado definitivamente que qualquer mineral com beleza suficiente para justificar sua lapidação podia ser chamado de pedra preciosa.  E assim deve ser: há gemas caras e baratas, como há calçados, roupas, bebidas, etc. de preços bem variados.

                      Gargantilha Nature, com turmalina verde e diamante.

            Por fim outro reconhecimento que devemos e Jules Sauer e a Hans Stern. Ambos souberam transmitir aos filhos o amor pelas empresas que criaram, e são eles que hoje dão continuidade às notáveis obras de seus pais.  Nos anos 90, Hans convidou dois de seus filhos a participar da direção da empresa, mas continuou indo lá, todas as manhãs, dirigindo ele mesmo seu Fusca e sem seguranças.
Raramente dava entrevistas e não gostava de posar para fotografias. Ele nasceu quase cego e só começou a enxergar com o olho direito aos dois anos de idade. Gostava de ler, ouvir música clássica e tocar órgão.
Hans Stern colecionava selos e, é claro, pedras preciosas, e deixou uma grande coleção de turmalinas, sua pedra preferida.
A exemplo de Jules Sauer – as coincidências parecem não ter fim... – criou um museu na sede de sua empresa, em Ipanema, no Rio, onde são exibidas mais de mil turmalinas lapidadas.
Stern nasceu em Essen, na Alemanha, e faleceu no Rio de janeiro, em 2007, no mês em que completou 85 anos.

PARA MAIS INFORMAÇÕES:

Fotos: Pedro Rubens, revista Veja.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

DEIXOU-NOS UM GRANDE DEFENSOR DAS GEMAS BRASILEIRAS

            Faleceu, dia 1º de fevereiro, aos 95 anos, no Rio de Janeiro, o joalheiro Jules Roger Sauer. Francês da região da Alsácia, ele foi o fundador, em 1941, da Lapidação Amsterdam Ltda., hoje Joalheria Amsterdam Sauer.

                          Foto: Ana Branco, Agência OGlobo

Houve, porém, uma gema brasileira que Sauer tornou particularmente conhecida e respeitada: a esmeralda. Sauer foi responsável pela valorização e popularização das gemas brasileiras no mercado internacional. Até então, o que se valorizava mesmo era o diamante, uma gema sempre importante; a esmeralda e o rubi, que o Brasil não produzia, e a safira, que nosso país produzia muito pouco (se é que produzia).  As dezenas de outras gemas que o Brasil colocava no mercado – topázio, opala, água-marinha, turmalinas, granadas, ametista, etc. – eram genericamente consideradas apenas pedras brasileiras, uma subcategoria. Sauer começou a divulgar e valorizar essas pedras preciosas menos prestigiadas e hoje o reconhecimento da nossa riqueza gemológica é um fato.

Houve, porém, uma gema brasileira que Sauer tornou particularmente conhecida e respeitada: a esmeralda. 
Contou ele, em um de seus livros (O Mundo das Esmeraldas), que em 10 de julho de 1963, quando estava em férias com a família, um garimpeiro que trabalhava para ele informou haver encontrada uma pedra verde no pequeno povoado chamado Salininha, perto da cidade de Pilão Arcado, na Bahia. Os garimpeiros não acreditavam que fossem esmeraldas e quando a descoberta foi divulgada, especialistas confirmaram que não eram.



     

  .
A cor verde da esmeralda normalmente é devida à presença de cromo, e os cristais descobertos em Salininha eram exatamente como a esmeralda, mas com cor verde produzia por vanádio.  E foi este detalhe o único argumento apresentado para considerar a nova gema simplesmente um berilo verde (a esmeralda, como a água-marinha, é uma variedade de berilo).
Inconformado, Sauer encaminhou a gema ao Gemological Institute of America (GIA) para análise e, em 9 de agosto de 1983, o GIA emitiu o laudo Nº 20.259, atestando que se tratava de Natural Emerald, a valiosa gema que era aqui procurada desde os tempos do bandeirante Fernão Dias Paes, o Caçador de Esmeraldas.
Com isso, o mercado internacional não teve como deixar de reconhecer a autenticidade da nossa pedra preciosa.

De origem judia, no início da 2ª Guerra Mundial Jules Sauer fugiu de bicicleta da Bélgica, onde morava, pedalou sozinho 1.500 km ate à Espanha, onde foi preso por não ter documentos. Fugiu da prisão e foi para Portugal onde embarcou em um navio para o Rio aonde chegou com 18 anos. (Coincidentemente, Hans Stern, fundador da famosa rede brasileira de joalherias H. Stern, chegou ao Brasil na mesma época e com 17 anos.)
Aqui, sobreviveu inicialmente dando aulas de francês, até conseguir um emprego na empresa de pedras preciosas do irmão de um aluno, em Minas Gerais. Jules aprendeu rapidamente as técnicas de lapidação e em pouco tempo, alcançou sua independência.
Embrenhou-se Brasil adentro como comprador e vendedor de pedras. Pouco menos de dois anos após deixar a Bélgica, já era dono da própria empresa (instalada numa zona de baixo meretrício de Belo Horizonte !).
Além dos vários livros que escreveu, Sauer criou o Museu Amsterdam Sauer, com seu acervo de mais de três mil peças, incluindo a maior alexandrita bruta conhecida (24,48 kg).
Considerado uma das maiores autoridades em alta joalheria do mundo, Jules Sauer era, desde 2004, membro do Círculo de Honra do Gemological Institute of America (GIA), a mais importante instituição gemológica do mundo. Era também Cidadão Honorário de Belo Horizonte, Teófilo Otoni e Governador Valadares (MG), São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1959, conquistou pela primeira vez Diamond International Awards, a consagração máxima da joalheria internacional, com o anel Constellation.
Ele deixa dois filhos, Daniel, que tive o prazer de conhecer em reuniões da Comissão Técnica de Gemas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e que é diretor da empresa fundada pelo pai, e Débora.  


Fontes consultadas (acessadas em 12.02.2017):
http://oglobo.globo.com/ela/gente/morre-jules-sauer-fundador-da-joalheria-amsterdam-sauer-20856064

sábado, 11 de fevereiro de 2017

UM DIA MUITO ESPECIAL

Ontem, dia 10 de fevereiro de 2017, este blog ultrapassou 100.000 visualizações. 
Obrigado a todos - especialmente aos nossos 106 seguidores - pelo interesse.