sexta-feira, 24 de outubro de 2014

METATRONITA, UMA NOVA GEMA BRASILEIRA

   A foto abaixo mostra uma serafinita lapidada.
   Esta é um a gema que provavelmente pouca gente conhece, embora possua uma beleza surpreendente.
   É um silicato básico de magnésio e alumínio com ferro, do grupo da cloritas, uma variedade de clinocloro. 
   Ela provém da Sibéria, na Rússia, onde ocorre na localidade de Korshunouskoye.
   Sua cor esverdeada em tons variados pode ter porções de cor cinza. A serafinita não é transparente; por isso, é lapidada em cabuchão ou outras formas não facetadas. 


   A foto a seguir mostra também uma gema lapidada em cabuchão. Num primeiro olhar provavelmente passaria  por uma serafinita russa, mesmo se observada por um gemólogo experiente. Mas, não é. Trata-se, na verdade, de uma gema que ainda não está no mercado, originária do Brasil, mais precisamente de Lavras do Sul (RS).


   Quem primeiro teve a atenção despertada por ela foi Eduardo Loureiro. Sua família detém os direitos de lavra de uma jazida de talco (sim, o talco é um mineral) e ele observou aquele mineral diferente e teve a ideia de lapidá-lo para ver o que obteria.
   Devo esclarecer que o Eduardo não conhecia a serafinita. Em 7 de julho deste ano, quando ele veio me mostrar a gema que descobrira e saber minha opinião sobre ela, foi que lhe mostrei a serafinita da primeira foto e a semelhança entre as duas. Ele já a submetera a exame que conhstatou tratar-se também de clinocloro.
   A foto abaixo mostra outros dois clinocloros gaúchos, um lapidado em cabuchão e, mais à esquerda, um em estado bruto.


   Sua cor varia do verde-claro ao verde-escuro profundo, e tem dureza entre 2 e 4, informa Eduardo Loureiro.
   Abaixo, vê-se uma peça parcialmente lapidada, de cor bem escura, medindo 5 x 2 x 2,5 cm. 



Ele busca agora abrir mercado para sua gema e decidiu batizá-la de metatronita porque possui desenhos de asas e em alusão ao anjo alado Metatron, considerado Anjo Supremo, o Príncipe dos Serafins.
   Testes feitos com a metatronita mostram que, submetida a tratamento térmico, ela fica marrom (foto abaixo, peça de 33 x 18 x 3 mm). Esta cor, porém, não tem, em minha opinião a beleza da cor natural. Talvez outros tratamentos venham a proporcionar resultados melhores.


   A última foto mostra outra peça no estado bruto, esta bem maior, com 12 x 5 x 3 cm.


   Boa sorte ao Eduardo e a sua metatronita!


domingo, 21 de setembro de 2014

AZEVICHE, UMA SURPRESA ESPANHOLA

       O azeviche é uma variedade compacta de linhito, ou seja, é um tipo de carvão (os carvões compreendem turfa, linhito, hulha e antracito). Trata-se, portanto, de uma gema orgânica, não mineral como a grande maioria.
 É compacto, finamente granulado, de cor preta ou castanha e aspecto aveludado, com br. resinoso. É um material fácil de polir, adquirindo bom brilho.
O azeviche foi muito usado na segunda metade do século XIX, principalmente em objetos religiosos e de luto, mas a informação que eu tinha era de que estava hoje praticamente em desuso.
Por isso, foi uma grande surpresa descobrir que em Santiago de Compostela, na Espanha, não só ele é muito usado como há toda uma rede de dezenove joalherias especializadas em joias com esta gema. 
            Eu estava andando pela cidade quando vi uma vitrine cheia de belas joias feitas com uma gema preta. Entrei para saber o que era e fiquei então sabendo que era nada menos que o azeviche.




            Alfonso Iglesias, o atencioso dono da joalheria, me deu um fragmento de azeviche bruto (foto acima) e contou-me que esse azeviche que ele usa vem das Astúrias, província do norte da Espanha, onde estão as melhores jazidas do mundo. Mas, há outras fontes.






As fotos dão bem uma ideia de como é diversificado o trabalho feito com a prata e o azeviche, pois são peças produzidas por um único joalheiro.
Na foto abaixo, vê-se um colar com uma lapidação que é típica daquela região da Espanha.




É tradicional também a figa feita com azeviche, antigamente usada como amuleto para espantar serpentes.
Continuando o passeio pela cidade, pude ver várias das muitas joalheiras que trabalham com essa gema.  E um folheto sobre ela que Alfonso me deu informa que é uma pedra-símbolo de Santiago de Compostela, onde é usada desde o século XIII.





 O azeviche queima como carvão e, quando atritado, exala forte odor.
Lapidado, ele assemelha-se a ônix, melanita, turmalina negra e a obsidiana. Mas, ao contrário dessas gemas, queima quando em contato com uma agulha aquecida, produzindo fumaça.
Entre as substâncias que o imitam estão o vidro, plásticos e borracha vulcanizada dura, esta conhecida como vulcanite. Sob ação da agulha aquecida, a vulcanite provoca fumaça, mas com cheiro de borracha queimada; se for plástico, o odor variará de aromático a fétido, mas sem se assemelhar ao de carvão.



segunda-feira, 2 de junho de 2014

MINERAIS EXTRAFÍSICOS

      No início de maio, tive um sonho muito interessante intrigante.
Eu cheguei a um local onde estava exposto um material muito diferente. Era uma placa em que havia um núcleo mais ou menos circular, formado por um mineral preto, parcialmente envolvido por outro mineral, este dourado.
A partir daquele núcleo saíam, em todas as direções, hastes meio irregulares do mesmo mineral preto.
Era um conjunto estranho e ao mesmo tempo muito interessante. Nunca vi algo similar e não sei se isso existe na natureza, mas, é claro, não se pode duvidar disso.
Não sei também se o local onde a peça estava exposta era loja ou exposição. Mas, sei que ela estava à venda e que, paradoxalmente, não me interessei em comprar, supondo, eu acho, que seria muito cara.
Junto a ela, dois professores universitários, geólogos, admiravam o material. Eram um homem e uma mulher, e foi o homem que, vendo meu interesse, disse o nome do mineral dourado. Era um nome complicado, que não entendi bem e que, ao despertar, não consegui lembrar.
Este preto eu não sei o que é, acrescentou ele.
Acordei intrigado com aquilo e por vários dias lembrei-me do sonho, recordando nitidamente como eram os minerais. Para que eu não viesse a se traído pela memória no futuro, depois de uma semana mais ou menos desenhei o que eu havia visto, numa folha de papel, como se vê abaixo.

       O desenho foi feito em um papel comum, uma folha A4 que peguei na minha impressora; por isso resolvi pedir à minha amiga Jeanine Sallenave, que é artista plástica, que o reproduzisse no mesmo tamanho, mas com tinta. Eu teria a imagem numa reprodução muito mais durável e a guardaria para – quem sabe? – comparar no futuro com alguma coisa pelo menos parecida que viesse a surgir.

Minha amiga aceitou a encomenda e entreguei-lhe o desenho.
Bem, até aí estávamos ambos, ela e eu, digamos, com os pés no chão. Eu tivera um sonho intrigante, mas todos sabem que sonhos são sonhos; neles podem acontecer as coisas mais absurdas como se fosse algo absolutamente normal e natural. Depois dele, eu simplesmente pedira à minha amiga que reproduzisse o desenho que eu fizera, usando materiais mais duráveis.
Acontece que a Jeanine, além de artista plástica, é médium e a única pessoa que eu conheço que trabalha com psicopictografia, que é a pintura ou desenho durante atividade mediúnica. E no dia 17 de maio, seis dias depois de eu haver lhe entregue o desenho e antes que ela o reproduzisse, a Jeanine desenhou a gravura abaixo, durante uma sessão mediúnica, na Sociedade Beneficente Espírita Amor e Luz.


            Ela assemelha-se obviamente ao meu desenho, mas traz, em baixo e à esquerda, uma explicação sobre a formação e a natureza dos minerais do meu sonho. Diz o texto recebido pela Jeanine, escrito ao lado do desenho: Não são dois minerais, mas um, com centro iluminado de energia moldável e o exterior duro.
            Essa informação é muito interessante e permite várias considerações.
            1º Não se trata de dois minerais diferentes, como no meu sonho, mas um só, em dois estágios de formação.
            2º O centro iluminado de energia moldável poderia ser um material de origem vulcânica, ainda em estado de fusão, daí ser iluminado e moldável.
            3º As porções de cor preta, ou seja, o exterior duro, seria a mesma substância já resfriada e solidificada. Isso faz sentido, porque o resfriamento e consolidação da lava ocorrem da superfície para o interior.
            4º A forma do núcleo amarelo lembra claramente uma pedra preciosa com lapidação brilhante, mas isso eu não sei explicar, já que se trata de material em fusão; já a forma das porções escuras poderia muito bem ser consequência de um resfriamento rápido. A obsidiana, por exemplo, que na maioria das vezes é preta ou pelo menos escura, é um vidro natural que se forma por resfriamento rápido da lava vulcânica. Esse processo permite que ela assuma formas irregulares, ou que forme glóbulos ou até mesmo finos filamentos, conforme já pude ver nos vulcões do Havaí, onde os glóbulos são chamados de lágrimas de Pele e os filamentos, cabelereira de Pele (Pele é a deusa dos vulcões na mitologia havaiana).

            Concluindo: não sei se o que eu vi no meu sonho existe, mas, depois de ver o desenho feito pela Jeanine, essa possibilidade passou a ser bem mais concreta. 

domingo, 27 de abril de 2014

O TAJ MAHAL


Não tenho vontade de conhecer a Índia. Sei que há coisas muito interessantes a ver lá, interessa-me sua história, admiro certos aspectos do seu desenvolvimento, mas há destinos muito mais atraentes para mim que aquele país.
Isso me cria um problema: eu quero muito conhecer o Taj Mahal e o Taj Mahal fica na Índia (em Agra, junto ao rio Yamuna). E o que eu quero ver no Taj Mahal tem que ser visto lá, não bastam fotos e vídeos. Daí por que eu talvez acabe indo um dia à Índia.
O Taj Mahal (o nome significa coroa de palácios) é um mausoléu que o imperador Shah Jahan mandou construir em 1632 para sepultar sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, que ele chamava de Mumtaz Mahal, ou joia do palácio e que morreu ao dar à luz o 14º filho. É considerado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. É o mais conhecido monumento da Índia. É uma das sete maravilhas do mundo moderno. É considerado a maior prova de amor do mundo. É visitado por mais de 3 milhões de pessoas por ano. E é uma construção feita em mármore branco, praticamente toda decorada com incrustações de pedras preciosas, sendo a cúpula costurada com fios de ouro. E é essa a principal razão de eu querer conhecê-lo.
                  Face sul do Taj Mahal (Foto: Wikipédia)

O trabalho, feito por 20.000 trabalhadores trazidos de várias cidades do Oriente, e decorado por 37 artesãos principais, demorou mais de vinte anos para ser concluído e é inigualável. Desenhos muito delicados são feitos com pedaços de pedras preciosas de vários tamanhos, muitos deles pequeníssimos, aplicados um a um, com um cuidado e um requinte incomparáveis. O engaste das gemas no mármore é tão perfeito que só se vê a junção usando uma lupa.     Há uma flor de 7 cm2 que foi feita com 60 incrustações diferentes!
E não se pense que são pedras preciosas comuns, não. O lápis-lazúli Shah Jahan mandou vir do Afeganistão, que ainda hoje é o produtor do melhor lápis-lazúli do mundo. As safiras mandou vir do Sri Lanka (antigo Ceilão), que também é uma das fontes das mais belas safiras do mundo ainda hoje. Buscou jade na China. Turquesa, veio do Tibete. E quartzo, da China e da península arábica.  Um total de 28 gemas diferentes foram utilizadas na obra.
Foi assim, com o melhor material possível e com artesãos de técnicas primorosas que Shah Jahan homenageou sua amada Mumtaz Mahal.
Embora construído há 380 anos, a técnica usada no Taj Mahal não se perdeu e hoje, em 2014, descendentes daqueles artesãos que o decoraram continuam a usá-la produzindo peças que são vendidas aos turistas. Minha nora, Cristiane Benvenuto Andrade, como que adivinhando meu dilema de querer conhecer o Taj Mahal não querendo ir à Índia, lá esteve e me trouxe uma dessas peças.  E foi nela que eu vi que o grau de detalhe do trabalho executado no Taj é muitíssimo superior ao que eu poderia imaginar.
O presente que a Cris trouxe é um pratinho de mármore com cerca de 18 cm de diâmetro, decorado com flores em cujas pétalas foram utilizados lápis-lazúli, malaquita, cornalina e outras gemas.

Olhando mais de perto, é fácil identificar a malaquita (verde), o lápis-lazúli (azul-escuro) e a cornalina (laranja). Não sei que gema é a azul-claro e em alguns pontos, há um material de brilho nacarado, que parece ser madrepérola.


Se eu nunca vier a conhecer o Taj Mahal, tudo bem. Já não morrerei tão frustrado.



Fontes consultadas: 
Site oficial do Taj Mahal (www.tajmahal.gov.in). 
Wikipédia em Português (www.pt.wikipedia.org).

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A PETROBRÁS E EU


           Quando eu era estudante de Geologia, na segunda metade da década de 1960, nossa profissão era muito pouco conhecida. Ainda é, na verdade, mas bem menos que naquela época. Quando me perguntavam que curso eu estava fazendo e eu respondia Geologia, era muito comum o comentário Ah, e depois vai trabalhar na Petrobrás, né?

            Associar a profissão de geólogo com a Petrobrás não era pura desinformação. Nossos cursos de Geologia surgiram pela necessidade de fornecer este tipo de técnico àquela empresa, criada quatorze anos antes de eu ingressar na universidade.

            Nunca trabalhei na Petrobrás, mas, depois de diplomado, as confusões continuaram a acontecer: quando eu dizia que era geólogo (muitos entendiam zoólogo), vinha o comentário: Ah! Trabalha na Petrobrás?

Na verdade, o trabalho na grande empresa brasileira de petróleo nunca me atraiu muito, como não atraiu vários de meus colegas de turma. A Petrobrás oferecia ótimo plano de carreira, excelente programa de treinamento e uma remuneração atraente. Mas, ao lado dessas atrações, havia inconvenientes.

Obviamente, a gente iria trabalhar com pesquisa para petróleo, e isso a empresa só fazia nas áreas geologicamente mais promissoras, entre as quais não se incluía (como ainda não se inclui) o sul do Brasil. Além disso, era um trabalho muito especializado e numa empresa que detinha monopólio da pesquisa de petróleo no Brasil, de modo que quanto mais a gente se especializasse trabalhando na Petrobrás, mais restrito ficava o mercado para quem dela saísse.  Pelo menos era o que eu e vários dos meus colegas de turma pensávamos.

            Além, disso, havia outro fator, menos importante, mas presente: dizia-se - não sei se era verdade - que a Petrobrás não gostava de geólogos gaúchos porque eles não ficavam lá muito tempo. Depois de uns dois ou três anos, saíam.

            No ano em que me formei, a empresa procurou geólogos recém-formados para contratar e, apesar das restrições apontadas, fiz a prova de seleção que ela exigiu (não sei bem se era concurso). As ofertas de emprego eram escassas e eu não podia me dar o luxo de escolher muito.  Por coincidência ou não, ninguém da minha turma foi chamado e nunca fiquei sabendo do resultado da minha prova.

            Apesar de nunca ter exercido atividades profissionais na nossa empresa estatal de petróleo, ela sempre foi importante para mim. Como brasileiro e como geólogo, não havia como ignorar sua relevância em muitos aspectos, e tudo o que de importante com ela acontecia me interessava, como continua interessando.

Empresas petrolíferas ocupam lugar de destaque no mundo todo. A pesquisa e produção do petróleo são empreendimentos muito caros e envolvem, portanto, recursos muito grandes. Se o petróleo está no fundo do mar, o custo é bem mais elevado. E se for no pré-sal, a profundidades muito maiores, eles sobem ainda mais. Além disso, o risco de insucesso nesse tipo de pesquisa é também alto.

 Se, apesar disso, tanto se investe nesse setor, é porque o preço do produto compensa, e muito. Daí haver quem diga que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada e o segundo melhor negócio do mundo, uma empresa de petróleo mal administrada.

A Petrobrás não foge à regra: opera com grandes recursos financeiros, investe muito em desenvolvimento tecnológico e paga elevados salários, exatamente como fazem as grandes empresas do setor com as quais é obrigada a competir, principalmente porque já não existe o monopólio estatal de pesquisa, produção e, na prática, também de refino que havia antes.

Numa empresa em que tudo é grande, não é de estranhar que ela tenha lugar de destaque na administração federal. Quando foi escolhido para presidir o país, durante o regime militar, o que fazia o general Ernesto Geisel? Era presidente da Petrobrás.  E o ex-presidente Lula a ela se referia, quando estava na presidência, como “aquela nação amiga”.

Cobiçando seu controle, os políticos sempre estiveram de olho nos seus importantes cargos de direção. Mas, até alguns anos atrás, parecia que a área técnica da empresa ficava sempre preservada, permitindo contínuo crescimento. Infelizmente, isso já não acontece, como tem mostrado a imprensa todos os dias.

Em um país onde a corrupção parece estar em todos os setores da administração pública, nossa petroleira, dona de um orçamento gigantesco como ela, se vê envolvida em corrupção e desvio de recursos públicos de igual magnitude.

Mas, o que se fez na compra da refinaria de Pasadena é demais até para o gigantismo de uma Petrobrás. Metade de uma refinaria nos EUA que havia sido adquirida por US$ 42,5 milhões foi comprada por ela, pouco depois, em 2006, por US$ 360 milhões!  O que já seria um absurdo total dobrou de tamanho: a Petrobrás, por força contratual, foi obrigada a comprar a outra metade da refinaria, tentou fugir dessa cláusula do contrato, não conseguiu e acabou pagando mais de US$ 1 bilhão por algo que valia US$ 42,5 milhões (ou pouco mais, considerando investimentos que haviam sido feitos antes da compra).

Não importa que a oposição queira explorar esse assunto na campanha presidencial desse ano – ela certamente o fará. É preciso que isso seja muito bem esclarecido e que os responsáveis sejam claramente indicados. E não há como tirar a presidente da República disso. Ela conhece muito bem o setor energético. Foi secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, em dois governos. Foi ministra de Minas e Energia de Lula. Era presidente do Conselho de Administração da Petrobrás na época da compra. Foi a todo-poderosa chefe da Casa Civil da Presidência da República. E é há quatro anos presidente deste país. Não há como dizer que “não sabia”. E, mesmo que não soubesse, teve tempo de sobra para tomar providências. Por que não o fez?

A compra da refinaria de Pasadena é um escândalo monumental.  Mas, o pior é que não é o único problema sério da Petrobrás nos dias atuais.  Em 2010, a dívida da empresa era de 62 bilhões de reais; terminou 2013 com 221,6 bilhões (aumento de 257%).

            A autossuficiência na produção de petróleo, anunciada por Lula, foi uma nuvem muito passageira: a produção está estagnada, e o Brasil importa derivados de petróleo, vendendo a gasolina aqui por preço inferior ao pago lá fora.

            O congelamento do preço da gasolina ajudou muito a aumentar a dívida da Petrobrás mencionada acima e o lucro por ação da empresa, juntamente como seu valor de mercado, caíram 50% na gestão Dilma Rousseff.

            A Petrobrás é tão grande que talvez em pouco tempo recupere o prestígio e o valor que tinha alguns anos atrás. Mas não será com esta administração federal que aí está que isso vai acontecer. São necessárias mudanças, grandes mudanças.

 

 

quinta-feira, 27 de março de 2014

NASCE UM GEÓLOGO


            Concluí meu curso de Geologia em 1970, numa época em que não estava muito fácil conseguir emprego. Os anos seguintes, porém, me mostrariam que eu era feliz e não sabia. Na década de 1980, muitos geólogos recém-formados simplesmente desistiram da profissão e foram fazer outra coisa, tão fechado estava o mercado de trabalho.
            Nos seis meses que transcorreram entre minha formatura e o início efetivo de minha carreira profissional, apareceram algumas oportunidades de emprego, mas a que eu mais desejava não se concretizou. Outra, menos interessante, também não. Acabei indo trabalhar como geólogo de mina em Caçapava do Sul (RS), nas Minas do Camaquã, duas minas, uma ao lado da outra, de onde se extraía minério de cobre.
            Antes de aceitar a oferta de trabalho lá, a minha total inexperiência profissional me fazia ver aquele emprego como algo menor, um cargo que não me daria nenhum prestígio. Mas, como as outras opções não se confirmavam, resolvi aceitar. Além de ser bem remunerado, eu continuaria morando no meu estado, o que considerava desde sempre uma possibilidade muito remota.
            O trabalho de geólogo de mina, porém, viria a se mostrar uma grande e gratificante surpresa. Tão gratificante que uma semana após ter iniciado minha atividade lá a empresa aquela em que eu mais queria trabalhar chamou-me para assumir, e eu recusei.
            A imagem de emprego de pouco prestígio logo começou a se desfazer. De fato, as Minas do Camaquã eram o único local no estado onde havia lavra de minério metálico e um dos poucos no país onde se produzia minério de cobre. 

                                       Barragem onde era captada água para 
                      abastecimento residencial e industrial da mina
                                 e onde muitas vezes fui pescar

                                   Hotel dos Pampas, onde se hospedavam
                           os visitantes e onde  moravam os técnicos
                                   de nivel universitário solteiros



          Mas, o mais importante é que o trabalho ali era totalmente diferente de tudo que me fora ensinado na Universidade. Talvez outros geólogos se sentissem frustrados ou revoltados ao constatar que tinham pela frente um trabalho para qual nunca haviam sido preparados. Eu, porém, vi isso de modo positivo: os treze meses que lá trabalhei foram um ano adicional de curso universitário.

            A Escola de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul formava alunos principalmente para mapeamento geológico, e isso eu fiz na mina. Mas, com uma enorme diferença. Acostumado a lidar com mapas em escalas 1:50.000, 1:100.000 ou 1:250.000, fui fazer mapas em escala 1:250 !  Era um grau de detalhe que eu simplesmente não imaginava pudesse existir.

            Mas, não era só isso. Fui fazer mapa geológico no subsolo, outra tremenda novidade. Eu sabia era caminhar subindo e descendo morros ou percorrendo estradas de carro. Fazer mapa geológico de uma galeria era algo completamente inusitado. Inusitado e complicado.

            O trabalho começava no dia anterior, quando se pedia ao capataz da mina que mandasse lavar a galeria ou travessa a ser mapeada, pois sem isso, o pó não permitia ver quase nada da rocha e dos filões de minério. Para o mapeamento, além do equipamento básico de segurança (botas de borracha, macacão, capacete e lanterna, esta com uma bateria de 2 kg presa à cintura), levava-se uma prancheta com o mapa topográfico do trecho a ser mapeado e sobre ele, uma lâmina plástica incolor para protegê-lo da água. Para desenhar no mapa, usavam-se lapiseiras preta, azul, vermelha e verde. Eram necessários ainda fita métrica e, é claro, martelo de geólogo. Não lembro se havia caderneta para anotar descrições, mas folhas em branco na prancheta pelo menos devia haver.

            Na Escola de Geologia da UFRGS, já na época um dos melhores cursos do país, eu aprendera que havia vários tipos de sonda: sonda manual, sonda rotary, etc. Mas nunca nos foi mostrado nenhuma delas, a não ser no papel, em apostilas. Pois nas Minas do Camaquã fazia parte da minha rotina acompanhar o trabalho de sondagem para pesquisa de cobre. E, como a sondagem era feita por uma empresa contratada, eu, que pela primeira vez na vida estava vendo uma sonda funcionar, ironicamente tinha a responsabilidade de fiscalizar esse trabalho, que era conduzido por um geólogo de grande experiência nessa área. E um geólogo, vejam só, que trabalhava justamente para a empresa aquela em que eu tanto quis trabalhar, mas cujo convite acabei recusando. A sondagem foi, então, meu segundo grande aprendizado nas Minas do Camaquã.

Eu disse que saíra da universidade conhecendo sonda apenas em apostilas. Mas, havia outro tipo de sondagem que nem mesmo em livros ou apostilas me haviam mostrado: a sondagem de subsolo. Jamais imaginara que lá em baixo, nas galerias, fossem realizados também furos de sonda. Pois eram, e coube a mim até planejar toda uma campanha de furos de sonda desse tipo.
Houve, por fim, mais um importante aprendizado extra: fazer cálculo de reservas, a partir dos dados obtidos com os furos de sonda. Foi mais um grande aprendizado.
O trabalho como geólogo valeu, como eu disse, por um ano adicional de curso universitário. Mas houve ainda um “curso de extensão”. Foi no setor de tratamento de minério. Não era atribuição minha, mas era inevitável o contato com essa atividade, até porque havia grande convívio com os engenheiros que lidavam com ela.
O minério que saía das minas passava por várias etapas de britagem e ia depois para a flotação. Dali saía um concentrado com 30% de cobre, que era enviado de caminhão e, a seguir, de trem para o estado de São Paulo, onde estava a metalurgia do grupo. Lá se extraía o cobre metálico.
Era interessante conhecer o que acontecia com a calcopirita e a bornita, tão bonitas, que a mina fornecia, até porque, quando acompanhávamos alguém em visita às minas, o roteiro incluía sempre essa etapa de tratamento do minério.
Eu disse que a bornita e a calcopirita eram bonitas?  Pois bem, no engenho, os dois minerais, com suas cores tão vivas, eram transformados numa massa pastosa, sem graça, cinza-esverdeada. Muito mais rica em cobre, mas sem nada da beleza original.


                                  Mina Uruguai hoje, com reservas esgotadas 


                                           No prédio branco do centro da foto
                                       ficava minha sala de trabalho



As Minas do Camaquã, como já disse, eram duas: a Mina São Luiz, com minério representado principalmente por calcopirita, que ocorria num veio de comportamento bem definido e previsível, e a Mina Uruguai, onde eu trabalhava, rica principalmente em bornita (mineral com teor de cobre maior que o da calcopirita), mais disseminada do que em veios. Ficavam a poucas centenas de metros de distância uma da outra e em ambas a lavra era subterrânea (mas passou a ser a céu aberto na Uruguai, anos depois).

Na Mina Uruguai, a lavra ocorria, naquela época, a 250 m de profundidade, e chegava-se até lá por um plano inclinado, caminhando. Nada de elevador, como na mina vizinha. Voltar à superfície exigia, é claro, um bom preparo físico, coisa fácil para os mineiros, que desciam e subiam todos os dias. Já para geólogos e engenheiros era um desafio, e eu era dos poucos que conseguiam subir sem parar no meio do caminho para recobrar o fôlego.
     Entre as duas minas, havia outro corpo de minério, chamado Zona Intermediária, onde predominava a calcocita (mais rica em cobre que a bornita e a calcopirita) e minerais oxidados, como malaquita e crisocola. Neste local, a lavra era intermitente e a céu aberto e costumava ser feita quando o teor do minério proveniente das outras minas por alguma razão sofria redução. 



                                            Morro da Cruz, importante ponto
                            geográfico da região das Minas do Camaquã


                                                                        Cine Rodeio


     As Minas do Camaquã me propiciaram outras alegrias além de um rico aprendizado profissional. Como colecionador de minerais, eu me deliciava vendo a enorme quantidade de bornita, calcopirita, malaquita, pirita, crisocola e, em menor quantidade, calcocita e outros minerais que lá havia. Enquanto o trabalho de mapeamento geológico pode nos fazer passar dias ou semanas sem ver um único mineral que valha a pena acrescentar à coleção, ver belos minerais era ali parte da minha rotina diária.


Trabalhei na Mina Uruguai treze meses. Teria ficado muito mais tempo talvez, não fosse a atitude discriminatória que teve uma vez comigo o administrador das minas. Eu era jovem e a vida ainda não me ensinara a ser tolerante e flexível como sou hoje nas relações profissionais. Não me arrependo, porém, e lembro com satisfação do muito que lá aprendi durante meu “5º ano de universidade”.


Artigo publicado originalmente na revista In The mine, nº 48, 2014.
Créditos das Fotos
Mina Uruguai - Joao Carlos Ebone
Outras – Pércio de Moraes Branco























sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A CRATERA DO METEORO



            Uma das atrações naturais mais interessantes do estado do Arizona (EUA) é a Cratera do Meteoro (Meteor Crater).

            Existe na Terra um número significativo de crateras formadas pela queda de meteoritos, algumas delas no Brasil (São Paulo e Santa Catarina, por exemplo). Mas, essa do Arizona é a mais famosa de todas e por várias razões.

    Antes de tudo porque, por estar em um deserto, onde a erosão é mínima, está extremamente bem preservada, como mostra a foto abaixo, apesar de ter se formada há 50.000 anos. As crateras brasileiras, por exemplo, sob ação de clima tropical, sofreram profunda erosão, o que, junto com a vegetação, ajuda a mascará-las, só sendo percebidas em imagens de satélite, de radar ou fotografias aéreas.





Outra razão que torna a Cratera do Meteoro famosa é que foi a primeira a ter uma origem comprovadamente relacionada à queda de um meteorito, o que explica seu nome prosaico. Graças ao empenho de Daniel Barringer, que, a partir de 1903, ali investiu muito tempo e dinheiro, pôde-se provar que ela havia sido formada pelo impacto de um grande meteorito. Ele dedicou os últimos 26 anos de sua vida a provar isso e a tentar recuperar o grande volume de metal que ele imaginava estar no subsolo da cratera. Surgiu assim uma nova ciência, chamada Meteorítica. E é por isso que a cratera é também conhecida como Cratera de Barringer.
Os descendentes de Barringer honraram seu legado de luta e a Cratera do Meteoro é ainda uma propriedade particular administrada pela sua família, aí incluídas todas as instalações do local. 
O meteorito que caiu no local tinha aproximadamente 50 m de diâmetro e deslocava-se com a velocidade de 40.000 km/h. Era do tipo siderito, isso é, formado por ferro e níquel Estima-se que o volume de metal nele contido daria para fabricar 42.000 automóveis. Na foto abaixo, vê-se o maior dos fragmentos recuperados do meteorito.






 

A cratera fica próximo à cidade de Winslow, mas pode-se acessá-la a partir de Flagstaff (56 km de distância), bom ponto de partida para visitar também o Grand Canyon do Colorado, a Sunset Crater, as lindas formações rochosas de Sedona, e outras atrações naturais do Arizona.
A estrutura geológica tem quase 1.245 m de diâmetro e 165 m de profundidade. O choque do meteorito deslocou 175 milhões de toneladas de rocha. Ela pode ser visitada descendo até ao centro, andando ao longo de seu bordo ou, se o tempo não estiver bom, através de uma área envidraçada.
Um aspecto curioso é que a cratera, em vista aérea, é mais quadrada do que circular (ver foto abaixo, da Wikipedia). Isso se explica pelo sistema de juntas (fraturas) de suas rochas. É o que os geólogos chamam de controle estrutural.


 



O terreno lembra a superfície da Lua e foi usado pela Nasa para treinamento de astronautas do Projeto Apolo. Por isso existe ali um memorial aos astronautas norte-americanos (Parede da Fama do Astronauta Americano), com o nome de todos eles gravados em uma parede e exibição de uma réplica da cápsula que usaram em para treinamento de voos espaciais.

 




            Além desse memorial, o local abriga um cinema para 80 espectadores, que exibe um documentário de 10 minutos, restaurante, loja de presentes e um interessante museu.
A loja é excelente para quem deseja comprar minerais para coleção, fósseis e, é claro, variados objetos sobre meteoritos.  Uma das coisas mais interessantes é uma coleção de oito pequenos cartões que mostra como deve ter sido a queda do meteorito que formou a cratera no momento do impacto e nos 10 minutos seguintes.
Em 30 de junho de 1908, outro grande meteorito caiu em Tugunska, na Sibéria (Rússia). A queda provocou uma grande explosão, devastando uma área de milhares de quilômetros quadrados.  Apesar de ainda ser assunto de debate, segundo os estudos mais recentes a destruição provavelmente foi causada pelo deslocamento de ar subsequente a uma explosão de um meteorito ou fragmento de cometa a uma altitude de 5 - 10 km, devido ao atrito da entrada na atmosfera. Diferentes estudos concluíram que objeto media algumas dezenas de metros.
A explosão liberou uma energia equivalente a mil bombas como a lançada sobre Hiroshima e derrubou cerca de 80 milhões de árvores em uma área e 2.150 quilômetros quadrados. Os troncos da foto, expostos no museu da Cratera do Meteoro, são alguns daqueles 80 milhões.