sábado, 19 de fevereiro de 2011

O HUMOR ÉTNICO

Entre as piadas mais antigas ouvidas no Brasil, estão aquelas de português. E nossos irmãos lusitanos dão o troco, contando piadas de brasileiros. Essa gozação com a gente de outros países é o que elegantemente se chama de humor étnico. Atualmente a “moda” no Brasil não é mais piada de português, e sim piada de argentino. Elas correm soltas na internet, por exemplo, e, na época da Copa do Mundo, só aumentaram.

Isso que nós fazemos com os portugueses e agora mais ainda com os argentinos, existe em todo o mundo. Quem vê filmes norte-americanos, por exemplo, sabe que eles gozam com a cara dos mexicanos. Mas, não só deles: também dos poloneses, que consideram burros, e dos chineses, porque comem carne de cachorro.

O humor étnico existe não apenas em um país com relação a outro, mas também dentro de suas fronteiras. No Rio de Janeiro, por exemplo, são alvo de gozação (ou eram pelo menos anos atrás) os baianos. Aquelas manobras no trânsito sabidamente proibidas, mas que muitos de nós fazemos, são chamadas, no Rio, de baianadas.

Zombar de outros povos pode ser só brincadeira, mas trata-se de antilocução, o primeiro estágio da Escala de Preconceito e Discriminação, criada pelo sociólogo norte-americano Gordon Allport. Nada indica que a gozação dos brasileiros para cima dos argentinos tenha uma tendência a passar disso, porém a escala de Allport tem cinco níveis: Antilocução, Esquiva, Discriminação, Ataque Físico e Extermínio.

No primeiro e menos grave, o grupo alvo da agressividade é objeto de piadas, preconceito e frases insultuosas. No segundo nível, a esquiva, passa a ser ativamente evitado. Subindo na escala, passa a haver discriminação ostensiva, como havia na África do Sul. Vem depois o ataque físico, como foram os linchamentos de negros nos EUA, e, por fim, a tentativa de extermínio, sendo exemplos o Holocausto e, mais recentemente, a “limpeza étnica” na Bósnia.

Piadas e anedotas são uma forma de humor, politicamente incorreta, mas humor apenas. Se elas, porém, passam a ser muito frequentes, corre-se o risco de passar a crer que as pessoas alvo desse humor são realmente como as anedotas as retratam. E aí a coisa começa a ficar perigosa. Portanto, o melhor mesmo é procurar outro tipo de piada, para não correr o risco de ofender ou de reforçar preconceitos.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PEDRAS PRECIOSAS SINTÉTICAS – Um outro olhar


A produção de gemas sintéticas é cada vez maior e mais aperfeiçoada. Até mesmo o diamante, que começou a ser produzido sinteticamente em 1954, mas apenas para uso na indústria, chega hoje ao mercado com qualidade gemológica e em volume considerável. E aqui é bom lembrar que gemas sintéticas existem desde o século XIX. Ou seja, a pedra que está naquela joia antiquíssima, que foi de sua avó ou bisavó, pode, sim, ser rubi, safira ou um espinélio sintéticos. O que, é óbvio, de modo algum depõe contra a idoneidade de sua antepassada.
É natural que se prefira uma gema natural à sintética correspondente. Entre os geólogos, sem dúvida a grande maioria – na qual nos incluímos – prefere as pedras formadas na natureza, não as de laboratório.
Essa natural predileção pelas pedras naturais não deve, porém, nos levar a olhar as gemas sintéticas com desprezo. Conhecendo-se o processo usado para obtê-las, as características físicas e até mesmo o seu preço, chega-se à conclusão de que as pedras sintéticas são um produto que merece ser visto se não com admiração, pelo menos com uma boa dose de respeito.
Antes de tudo, é preciso esclarecer que gema sintética não é gema artificial. Em Gemologia há uma grande diferença entre esses dois tipos e é importante que assim seja. Pedra sintética é aquela produzida em laboratório, mas que tem uma correspondente natural. Já a artificial, não. Ela foi totalmente inventada pelo ser humano, não se conhecendo uma correspondente natural. Assim, fala-se em esmeralda sintética, diamante sintético, rubi sintético, etc., mas não em zircônia cúbica sintética. A zircônia cúbica não existe ou, pelo menos nunca foi encontrada, na natureza, sendo, portanto, artificial. O consumidor menos exigente talvez não valorize esta diferença, mas ela é, sim, importante.
Deve-se lembrar também que as gemas obtidas em laboratório são produzidas a partir de gemas naturais. Estas são pulverizadas, e o material assim obtido é fundido e recristalizado, sob condições que variam conforme o processo usado. Por serem obtidos com material natural, possuem propriedades físicas (cor, brilho, densidade, índice de refração, dureza, etc.) iguais ou muito semelhantes às da gema natural. São, portanto, muito similares na aparência, e somente com uso de microscópio gemológico se consegue identificar a síntese. Essa é outra razão para que não se olhe as pedras sintéticas com desprezo. Elas trazem em si praticamente tudo aquilo que faz a gema natural ser admirada.
Isso mostra também que gema sintética não é imitação de gema natural. É muito mais do que isso. Imitação é aquilo feito com vidro, acrílico ou outro tipo de plástico.
Há pessoas que desconfiam de qualquer produto de preço baixo. Ele sempre desperta nelas a impressão de que se trata de produto de má qualidade. Não condenamos quem pensa assim, até porque essa premissa muitas vezes é verdadeira. Mas, se alguém pensa que uma pedra sintética deve ser barata pelo simples fato de ter sido produzida em laboratório, pode se surpreender. Gemas obtidas através de síntese por fluxo podem custar até 400 dólares por quilate (um quilate são 200 miligramas). Isso no atacado ! O processo emprega cadinhos de irídio e de platina, que são caríssimos e acabam por encarecer o produto final.
Na natureza, é bem sabido, os minerais levam muito tempo para se formar. Num laboratório, é de se esperar que isso seja um processo incomparavelmente mais rápido. De fato, a produção de gemas sintéticas leva muito menos tempo, mas não é tão rápida quanto se imagina. Pelo processo citado, cristais de rubi, esmeralda, safira, espinélio e alexandrita, por exemplo, levam 6 a 12 meses para ficar prontos. E é depois desse tempo todo que eles vão ser lapidados.
No final do processo de síntese, a gema tem o formato de uma garrafa, de dimensões centimétricas, a chamada pera de fundição. Devido à existência de tensões internas, esta pera é partida ao meio no sentido longitudinal, e só então é enviada para a lapidação.
Como se vê, as gemas sintéticas resultam de técnicas e investimentos nada desprezíveis. Não é, pois, de estranhar a grande dificuldade que existe para se distinguir, por exemplo, rubi e lápis-lazúli naturais daqueles produzidos em laboratório.
Apesar de tudo que foi dito até agora, sempre haverá quem não queira de modo algum adquirir joia feita com gema sintética. Para estes, uma boa notícia: não são sintetizadas com fins gemológicos ainda (vejam bem, ainda) água-marinha, turmalinas, quartzo (exceto cristal de rocha e ametista), granadas, kunzita e hiddenita, entre outras gemas.
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Artigo publicado originalmente no Portal das Joias (www.portaldasjoias.com.br).