sexta-feira, 13 de março de 2020

O DIA EM QUE PORTO ALEGRE TREMEU




Fugindo um pouco da temática deste blog, que são os minerais e em especial as gemas, mas ficando ainda dentro da Geologia, quero contar a história do dia em que Porto Alegre (RS) tremeu com um terremoto.
Em 8 de junho de 1994, esta cidade foi atingida pelas ondas sísmicas provocadas por um abalo que ocorreu na Bolívia, a 2.200 km daqui.
O abalo, que atingiu 7,8 graus na Escala Richter, foi mais forte que outro, ocorrido nos Estados Unidos em janeiro daquele ano, e que, com uma magnitude 6,6 destruiu diversos bairros de Los Angeles. O terremoto da Bolívia, porém, teve consequências bem menos sérias porque seu hipocentro (local no interior da Terra onde ele ocorre; não confundir com epicentro) situou-se a grande profundidade, 600 km abaixo da superfície.
Em 90% dos casos, a magnitude de um terremoto não passa de 7,0 graus. Deve-se lembrar que a Escala Richter é uma escala logarítmica. Isso significa que a magnitude 7,0 é dez vezes maior que a 6,0, cem vezes maior que a 5,0, mil vezes maior que a 4,0, e assim por diante.
Essa escala avalia os terremotos de acordo com a energia liberada ou, mais precisamente, de acordo com a amplitude das ondas sísmicas que eles provocam. Em áreas urbanas, como Porto Alegre, a importância do terremoto é avaliada de modo mais apropriado se se usar a Escala de Mercalli, que classifica os sismos de acordo com os efeitos que eles provocam sobre a população e as edificações. O sismo de 08.06.1994 foi sentido desde o Canadá até à Argentina. Em Porto Alegre, ele:
              - foi sentido por algumas pessoas (não pela maioria);
               - fez sacudir lustres e objetos suspensos;
             - fez vibrar móveis nos andares mais altos de alguns edifícios;
          - fez girar ventiladores que estavam des-ligados.
              Esses sinais permitem dizer que o abalo teve uma intensidade IV na Escala de Mercalli, que varia de I a XII, sendo por isso classificado como moderado.        
              A Escala Richter, ao contrário da Escala de Mercalli, não tem um limite definido, entretanto, nunca se registrou um terremoto com magnitude 10,0. A mídia brasileira muitas vezes informa erroneamente que a escala vai até 9,0, mas ela não tem limite, nem superior, nem inferior.
              O terremoto boliviano de que estamos falando levou 5min 38s para ser sentido em Porto Alegre. Este foi o tempo que as ondas sísmicas, viajando a 6,5 km/s, levaram para percorrer os 2.200 km que nos separam do seu epicentro (ponto da superfície situado exatamente acima do hipocentro).
             
Origem dos terremotos

              A crosta terrestre, camada rígida e mais superficial da Terra, está dividida em blocos, chamados placas tectônicas. Essas placas movem-se muito lentamente (alguns centímetros por ano) e podem se chocar umas contra as outras. Daí, surgem os terremotos. A América do Sul é uma dessas placas e desloca-se para Oeste. Nesse movimento, afasta-se da placa onde está a África, à qual já esteve unida no passado, e choca-se com a placa de Nazca, que forma parte do fundo do oceano Pacífico. Desse choque, surgiu a cordilheira dos Andes, um amarrotamento da crosta terrestre. Isso explica por que ocorrem fortes terremotos nos países andinos, mas apenas abalos pouco intensos no Brasil.

Sismógrafos e sismogramas

              Os terremotos são registrados e estudados nas estações sismográficas. Em 1994, a única dessas estações existente na Região Sul estava em Porto Alegre. Hoje, só no Rio Grande do Sul existem três.
Nas estações sismográficas, aparelhos chamados sismômetros medem os terremotos e outros, chamados sismógrafos, registram seus efeitos numa folha de papel. Esse registro é chamado de sismograma.
              O sismograma é desenhado por uma agulha que se apoia sobre um papel, que, por sua vez, envolve um cilindro giratório em posição horizontal (na verdade, em posição muito levemente inclinada). À medida que o cilindro vai girando, a agulha vai desenhando o sismograma, através de movimentos em zigue-zague. Quando não há atividade sísmica (abalos), a linha é praticamente reta. Quando os abalos surgem, a agulha começa a dar saltos, movendo-se horizontalmente.
              A figura abaixo mostra o sismograma do terremoto de que estamos falando, conforme foi registrado em Porto Alegre. Nele, cada linha longitudinal (vertical) está separada das linhas vizinhas por um intervalo de tempo de 5 min. As linhas transversais (formadas por pequenos saltos da agulha) distam 10 s das linhas transversais vizinhas.
              O papel onde foi registrado o sismograma, como dissemos, envolvia um cilindro giratório. Ele girava de baixo para cima. Os traços vistos no sismograma formaram-se da direita para a esquerda, de cima para baixo. Vinham-se formando linhas praticamente retas, mas exatamente às 21h 37min 28s começou a ação frenética da agulha, desenhando o nervoso zigue-zague. Lembrando: esse não foi o momento exato do início do terremoto, mas o momento exato em que as ondas sísmicas chegaram à estação sismográfica de Porto Alegre.

              Para encerrar, uma curiosidade: no dia 7 de setembro de 2001, um milhão de crianças do Reino Unido pularam nos pátios de suas escolas ao mesmo tempo para tentar provocar um terremoto. A iniciativa foi do governo britânico, como parte das atividades do Ano da Ciência, que teve por objetivo despertar o interesse pela ciência em crianças e jovens de 10 a 19 anos de idade.
O resultado não foi além de um ligeiro rabisco nos sismógrafos, mas foi aceito pelo Guiness – O Livros dos Recordes como o maior salto simultâneo da história.