quinta-feira, 29 de novembro de 2012

COLEÇÃO DE MINERAIS, UM ASSUNTO SÉRIO




Colecionar coisas faz parte da natureza humana e é normal que a gente colecione alguma coisa ou tenha feito isso em alguma fase da nossa vida, ainda que sem método e sem muita dedicação. Moedas, selos, miniaturas de caros, discos, etc. são algumas das muitas coisas que se coleciona mundo afora.

            Eu coleciono minerais. Faço isso há 45 anos, mais precisamente desde março de 1967, quando iniciei o curso de Geologia. Até então, para mim cristais eram substâncias transparentes, com brilho de vidro ou um pouco mais intenso. Quando descobri que existiam também cristais opacos e de brilho metálico, fiquei extremamente surpreso. E decidi: vou colecionar minerais.  Comecei e não parei mais.
            Como eu, acho que muitos estudantes de Geologia começam uma coleção de minerais durante o curso. Mas, poucos continuam fazendo isso quando saem da universidade. Ao longo do período universitário, a beleza e raridade dos cristais nos motivam a colecioná-los, mas, passado esse período, o interesse desaparece ou diminui, permanecendo registrado apenas na posse de algumas poucas peças.
Se são poucos os geólogos que colecionam minerais, mais raros ainda são os colecionadores entre o restante da população. De fato, os brasileiros não valorizam muito esse tipo de coleção, ao contrário do que vê em países como Estados Unidos, Canadá e Itália, por exemplo. Isso é estranho porque o Brasil tem uma fantástica diversidade em temos de pedras preciosas, minerais que se destacam pela beleza e que são avidamente procurados por colecionadores estrangeiros.
Uma consequência negativa disso é a existência de poucos museus de Mineralogia em nosso país. Por isso, acabam indo parar no exterior peças muito valiosas, quando não coleções inteiras, como aconteceu com a excepcional coleção de cristais gigantescos de Ilia Deleff, sobre a qual escrevemos neste blog em julho de 2011.
Em sentido inverso, por haver poucos museus de Mineralogia, não há estímulo para os brasileiros colecionarem minerais, e assim se estabelece um círculo vicioso.
Se pensarmos um pouco, veremos que colecionar minerais tem várias vantagens para nós, geólogos. O manuseio constante dessas substâncias, por exemplo, é a melhor maneira de aprendermos a reconhecê-las macroscopicamente.  A comparação de amostras de um mesmo mineral procedente de diferentes lugares habitua-nos às pequenas variações que a espécie pode exibir no hábito, cor, brilho, etc., o que vai consolidando nosso conhecimento sobre aquele mineral.
Outra vantagem: podemos adquirir peças para nossa coleção sem comprar ou trocar, apenas com nosso próprio trabalho de campo. Além disso, nem sempre dependeremos de um especialista para identificar um mineral adicionado à nossa coleção, ao contrário do que acontece, por exemplo, no mercado de arte, de antiguidades, etc.
Mas, colecionar minerais oferece ainda outras vantagens, seja o colecionador geólogo ou não: pode-se colecionar material procedente do mundo inteiro e até de fora da Terra, como os meteoritos. E é bom lembrar que meteoritos são valiosos não apenas pela raridade, mas também, em certos casos, pela beleza, como é o caso dos pallasitos.
Além disso, minerais são o que pode haver de mais antigo para se colecionar.  Outras coleções podem ter peças com séculos de idade ou mesmo com milhares de anos de existência. Mas, com milhões ou bilhões de anos, só mesmo  minerais, rochas ou fósseis.
Querem mais? Com algumas poucas exceções, os minerais não requerem muito cuidado em sua conservação, ao contrário de obras de arte, selos, etc.

Há, portanto, excelentes motivos para se colecionar minerais, principalmente vivendo no Brasil. Ainda assim, porém, muitas pessoas dirão que, seja como for, colecionar minerais será sempre apenas um passatempo, uma atividade para as horas de lazer. Pois eu respondo: Não necessariamente.

Em 1996, vendi 1.350 peças da minha coleção de minerais (90% do total) para o Museu de Ciências Naturais de uma universidade do Rio Grande do Sul. O professor que intermediou a compra, um geólogo que se tornou, a partir daí, meu amigo, me disse várias vezes que eu vendi barato.  Não concordo muito com ele, mas, mesmo que assim tenha sido, não me importo. O que eu quero dizer é que a venda dessa parte da minha coleção (ela já é grande de novo) me permitiu dar um carro 0 km para minha filha. E ainda sobrou um pouquinho de dinheiro.

 Então, uma coleção bem organizada, com suas peças devidamente catalogadas, pode se tornar bem mais que um passatempo.

Por tudo isso que foi dito até aqui, acho importante que as escolas, a Sociedade Brasileira de Geologia, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia e outras entidades ligadas à Geologia incentivem os estudantes e o público em geral a colecionar minerais.  Quando eu dirigia o Museu de Geologia da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), criei um folder intitulado Como Colecionar Minerais, que era amplamente distribuído pelo museu, sobretudo nas exposições por ele promovidas. Nesse folder, ensina-se como organizar a coleção, como obter, guardar e registrar os minerais, como avaliar o acervo, etc.  É uma ferramenta de baixo custo para quem edita e distribui, e muito útil para quem deseja conhecer melhor os minerais e quer ter pelo menos uma pequena coleção.