Há muitos tempo, em 1982, ganhei de Carmen Rocha uma estranha ágata que vi em sua loja, em Porto Alegre. Era uma peça pequena (7 cm), mas com uma característica inusitada: tinha forma triangular, com bordos retos, e não curvos como em todas as ágatas. Foi justamente por meu espanto e interesse que ela me deu aquela peça.
Passei muitos anos tentando entender como aquela ágata havia se formado. A única explicação que encontrei foi que deveria ter havido deposição de sílica num espaço vazio entre paredes de rocha fraturada.
Anos depois, encontrei à venda, acho que na Feira de Pedras Preciosas de Soledade, outras ágatas como aquela, muitas maiores e mais bonitas. Comprei então uma peça em forma de losango, de 3 cm.
(As fotos que
ilustram este artigo, com exceção das duas primeiras, recebi do meu amigo e colecionador
de minerais Alessandro Takeda, sem créditos
de autoria).
Foi somente alguns anos atrás que passei a conhecer melhor a ágata poliédrica, através do excelente artigo Les agates du Sitio Garguelo (Municipe de Cachoeira dos Índios – Paraíba), do Prof. Jacques Pierre Cassedane (Anais da Academia Brasileira de Ciências, 56(2),1984). Cassedane nos deixou excelentes trabalhos de pesquisa sobre a geologia de gemas brasileiras e este foi um deles.
Em seu trabalho, em que ele chama as peças de ágata de
nódulos, não geodos, o mestre informa que eles ocorrem em uma sequência de rochas
de idade pré-cambriana, incluindo filitos, xistos, gnaisses, quartzitos,
leptinitos e calcário cristalino. A ágata está encaixada em uma rocha vítrea, com
estrutura fluidal, que passa irregularmente a uma brecha fina. (Peço desculpas
aos leitores, mas este texto terá inevitavelmente muitos termos técnicos.)
As ágatas foram ali extraídas esporadicamente e de forma artesanal entre 1972 e 1978 pelo dono da fazenda, que as enviava para o sul do país. Para isso, foram abertas escavações de até 3 m de profundidade. Os nódulos obtidos tinham dimensões que variavam de alguns centímetros até quase um metro. Eram em geral decimétricos, alongados e com três a cinco faces. As ágatas tinham externamente cores cinza a preta, formando leitos de espessura variável.
O preenchimento das cavidades por ágata nem sempre foi total. Nestes casos, a superfície interna é mamelonar, feição que nunca aparece na superfície externa. A ausência de qualquer simetria nos nódulos mostra que eles não correspondem a nenhum mineral ou pseudomorfo conhecido. Do mesmo modo, as reentrâncias não correspondem a maclas.
Descritas
as ágatas e o ambiente geológico em que elas se formaram, Cassedane procurou explicar
o modo como elas surgiram. Para isso,
antes descreveu nada menos de sete possíveis explicações, dadas por diferentes autores,
concluindo que nenhuma delas explicava a gênese das ágatas do Sítio Garguelo.
Citou também jazimentos semelhantes, em pegmatitos de Minas Gerais, basaltos do
Rio Grande do Sul, dolomitos do Paraná e tactitos do Rio Grande do Norte. Uma
dessas hipóteses se assemelha à única explicação que me ocorrera: preenchimento
de espaços vazios entre colunas de basalto. Mas, ela não se sustenta porque as encaixantes
das ágatas da Paraíba são completamente diferentes.
Descartadas
as sete hipóteses de formação descritas, Cassedane expôs uma oitava – a sua –
sobre como as ágatas poliédricas teriam se formado. Ele descreveu quatro fases
na complexa origem dos nódulos. E, no
final de sua hipótese, ele admitiu, vejam só, que essa história geológica complicada talvez deva ser retocada e completada no futuro. Isso deixa clara a
extrema complexidade envolvida no processo que nos brindou com essas inusitadas
ágatas poliédricas.
Não
vou expor aqui sua explicação por ser extensa e muito técnica. Mas, proponho-me
a enviar aos interessados o artigo, com ela e muitas outras informações.