quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A GEOLOGIA E A ARQUEOLOGIA


Por diversas vezes, tanto em conversas pessoais quanto na mídia, vi pessoas confundirem Geologia com Arqueologia, atribuindo atividades de uma à outra. São áreas da ciência bem distintas, mas o fato de ambas lidarem com materiais antigos pode levar quem não as conhece a essa confusão.
Segundo a Wikipédia, a Arqueologia estuda as culturas e os modos de vida do passado a partir da análise de vestígios materiais. É uma ciência social que estuda as sociedades já extintas, desde o surgimento da espécie humana (transição do Australopitecos para o Homo habilis) até o presente. Alguns arqueólogos definem a Arqueologia como a reconstrução da vida dos povos antigos.
A Geologia estuda a  Terra, sua composição, estrutura, propriedades físicas, história e os processos que lhe dão forma. Ela não estuda sociedades, povos ou culturas.
Vê-se então que a Arqueologia trabalha com o ser humano, com as civilizações. A Geologia dedica-se às rochas, minerais e fósseis. Assim, a primeira trabalha com maternais que têm séculos ou milhares de anos de idade; a Geologia, com materiais que têm milhões ou bilhões de anos de idade (a Terra formou-se há 4,54 bilhões de anos).
A datação radiométrica desses materiais utiliza, por isso, métodos semelhantes, mas com elementos químicos diferentes. Enquanto a Arqueologia trabalha com um isótopo instável do carbono (o carbono 14), próprio para materiais de pouca idade (alguns milhares de anos), a Geologia usa isótopos instáveis de rubídio, potássio, samário ou, para as rochas mais antigas, de urânio, que permitem datar materiais com  milhões ou bilhões de anos.
Ambas se relacionam com outras ciências, como é natural. A Arqueologia se relaciona, por exemplo, com a História, Geografia e a Física. A Geologia tem ligações com a Química, Física e Biologia, mas principalmente com a Geografia e a Astronomia.
Um exemplo de interação entre Geologia e Arqueologia ocorreu no Rio Grande do Sul. O geólogo Carlos Henrique Nowatzki, da Unisinos, pesquisou e descobriu de onde foram extraídos os blocos de arenito usados na construção, pelos jesuítas, da igreja de São Miguel, no município de Santo Ângelo (RS), importante atração turística do estado. Eles têm hoje sua procedência bem estabelecida graças à Geologia.
A Geologia procura descobrir depósitos minerais de valor econômico (jazidas), para extração de minerais metálicos, material para a construção civil, pedras preciosas, metais nobres, etc. Procura também petróleo e recursos hídricos (Hidrogeologia). Já a Arqueologia busca materiais de valor histórico, museológico e cultural, não de valor comercial ou industrial. Uma exceção: houve uma época em que as múmias eram tão abundantes no Egito que foram vendidas toneladas delas aos Estados Unidos, para uso como combustível em locomotivas.
O Brasil conta hoje com quatorze cursos de graduação em Arqueologia, todos relativamente novos. A Geologia tem cursos de graduação mais numerosos, em torno de trinta.
Se uma obra civil, como abertura de túnel, barragem, estrada ou mesmo de uma mina revela a existência de um sítio arqueológico, ela deve ser paralisada até que o local seja estudado por arqueólogos. Só em casos excepcionais esses achados arqueológicos são suficientemente importantes para justificar a anulação de obras de grande porte, mas estudar, fotografar e amostrar o sitio arqueológico são coisas que podem e devem ser feitas antes que ele seja destruído pela obra civil em andamento. Um exemplo dramático disso é a cidade de Roma, cujo metrô tem uma extensão total relativamente pequena porque em qualquer local que se faça uma escavação não é difícil encontrar um sítio arqueológico.
A Arqueologia passou a ser vista com interesse e tornou-se uma ciência popular graças aos filmes de Indiana Jones, em que o herói, representado por Harrison Ford, é um professor de arqueologia. A Geologia tem forte apelo popular em filmes, livros e outras mídias que tratam de terremotos, vulcões, pedras preciosas, metais nobres e dinossauros, sendo estes os personagens principais do filme Parque Jurássico, por exemplo.
Em alguns aspectos, Geologia e Arqueologia se assemelham bastante. Ambas envolvem trabalhos de prospecção, escavação e análises do material recolhido. Não basta ao arqueólogo recolher um pedaço de cerâmica para conhecer a história local; é preciso ver de que tipo de objeto ele fazia parte e em que tipo de ambiente provavelmente era usado, entre outras coisas, para só depois mandar a amostra para datação. De modo semelhante, não basta ao geólogo coletar uma amostra de rocha e mandar fazer uma análise química, mineralógica ou geocronológica, para saber sua composição e idade. É preciso examinar todo o afloramento de onde ela foi extraída, ver sua estrutura, relação com outras rochas do local (se existirem), medir a direção e mergulho das camadas, veios, foliações ou fraturas, etc. 

Simplificando, então, podemos dizer que as duas ciências têm semelhanças, mas a Geologia trabalha com materiais muito mais antigos que a Arqueologia e nos quais não esteve envolvida ação humana.