Quando
eu trabalhava na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), a
Superintendência Regional de Porto Alegre criou, por sugestão minha, o serviço Pergunte
a Um Geólogo. Através dele, nos dispúnhamos a responder gratuitamente qualquer
questão relacionada com a Geologia, feita por qualquer pessoa.
O início foi tímido,
mas logo a procura explodiu, quando a divulgação passou a ser feita pela
internet. Ela aumentou tanto que o Pergunte a Um Geólogo passou a ser centralizado
no Rio de Janeiro, de onde as questões passaram a ser distribuídas a membros de
uma equipe de voluntários que se dispuseram a atender os consulentes.
Fiz parte, é claro, dessa
equipe, respondendo questões relacionadas com Gemologia e Mineralogia principalmente,
o que ainda faço, mesmo estando fora daquela empresa já há cinco anos.
Como as questões são
feitas sobretudo por pessoas leigas, normalmente não oferecem muita dificuldade
para serem respondidas. Quando requerem alguma pesquisa, esta não costuma ser
demorada.
Mas, às vezes surgem
perguntas estranhas que exigem mais atenção e dedicação na resposta. Foi assim
quando um cliente quis saber se o diamante que é progressivamente aquecido
acaba queimando ou fundindo.
Como gemólogo, a imagem
de um diamante sendo destruído pelo calor nunca me passara pela cabeça, não só
por ser improvável, mas também por ser, é óbvio, totalmente indesejável.
E a verdade é que eu
não sabia responder. O diamante é composto apenas de carbono, formado a temperatura
e pressão muito elevadas, mas será que queimaria?
Comecei minha pesquisa
com a bibliografia de que eu dispunha e não achei a resposta. Procurei na internet
e não encontrei também uma resposta segura. A essa altura saber o que acontece
com o diamante aquecido a altas temperaturas já era não apenas um compromisso
com o cliente, mas também uma meta pessoal minha. Eu não sossegaria enquanto
não descobrisse aquilo.
Parti então para algo
que nunca tinha feito no trabalho do Pergunte a Um Geólogo. Procurei
especialistas externos, do Instituto de Física da UFRGS. E foram eles que me
deram a resposta. Sabem o que acontece com o diamante quando a coisa esquenta? Depende.
Aquecido
a 900-1.000 ºC, em presença de oxigênio, o diamante, assim como a grafita,
volatiliza na forma de gás carbônico (CO2). Ou seja, eles passam
diretamente do estado sólido para o gasoso.
Mas,
em ausência de oxigênio, eles fundem (sem oxigênio, não existe combustão), só
que a temperaturas bem mais altas: o diamante funde a 1.500 ºC e a grafita, a
1.600 ºC.
Portanto,
se você quer ver um diamante virar fumaça diante dos seus olhos, basta
aquecê-lo a 1.000 ºC.