terça-feira, 27 de janeiro de 2015

E A ENERGIA DOS CRISTAIS ? - Motivos para crer e para duvidar





           
           Muitas vezes me perguntaram o que eu acho da falada energia dos cristais, do seu poder de cura, etc. Essas indagações tornaram-se particularmente frequentes quando comecei a coordenar exposições do Museu de Geologia em locais de grande circulação de público, principalmente shopping centers.

            Inicialmente, meus colegas e eu dizíamos que nós trabalhávamos com pesquisa mineral e não com energia dos cristais. Portanto, não sabíamos dizer se ela existia e se funcionava em tratamentos de saúde. Há, porém, pessoas que acreditam nisso - e muito - e que não admitem que um geólogo, profissional que tão bem conhece os minerais, nada saiba sobre o assunto ou, o que é pior, não acredite nele.

Como as perguntas eram frequentes nas exposições, passamos a levar alguns folhetos desses que são distribuídos em lojas que vendem os produtos ditos esotéricos. Eram impressos sobre uso energético das principais pedras preciosas, listas das pedras dos signos, das pedras do mês, etc. Como o conteúdo desses folhetos é um tanto variado, cheguei a fazer uma breve compilação de vários deles. Aí, quando alguém nos perguntava algo sobre a energia dos cristais, meus colegas e eu dizíamos: Não trabalhamos com isso, mas dizem que é assim. E mostrávamos nossa compilação.

Bem, isso era então o que eu dizia aos nossos visitantes, uma resposta atenciosa e polida. Mas, ela não me satisfazia. Eu queria poder dizer que eu acreditava ou não acreditava porque estudara o assunto e me convencera disso, não por ouvir falar. Só que eu não havia estudado o assunto.

Inicialmente, eu julgava que tudo se tratava de fantasia. A crença na cura pelos cristais surgira provavelmente do fascínio que suas formas, cores e brilho  exercem sobre todas as pessoas. É algo realmente fascinante e me parecia natural que nossos ancestrais duvidassem que aquilo fosse simplesmente resultado de um processo físico-químico.

Minha formação acadêmica, por outro lado, não me autorizava a crer que cristais pudessem curar, induzir à meditação, relaxar, etc. O que eu aprendera depois de diplomado também não. Eu poderia então, do alto do meu diploma de geólogo, dizer que era tudo misticismo, pois não havia nada provado cientificamente.

Mas, dizer simplesmente que aquilo não tinha fundamento não era uma atitude intelectualmente honesta. Não faltam exemplos, na história da Ciência, de coisas que eram tidas por fantasia, superstição, e que depois se viu terem um fundamento científico. Há terapias muito antigas e que hoje são aceitas inclusive pela Medicina oficial, como a Acupuntura.  A Homeopatia, do mesmo modo, embora ainda contestada por alguns, é amplamente aceita e reconhecida como especialidade médica.

Meu colega Mário Farina, brilhante geólogo, é dos que não acreditam na energia dos cristais. E tem um bom argumento para isso: se houvesse algum fundamento nessa crença, já se saberia alguma coisa, depois de tanto tempo de uso dessa suposta energia.

De qualquer forma, eu queria poder negar por estar convencido disso em razão de minha experiência pessoal, não pelo que os outros diziam. Por isso, tratei de buscar as informações de que precisava para decidir.

E o que eu penso então sobre tudo isso?  Vamos por partes. Mas quero desde já dizer que, se tenho bons motivos para não acreditar na energia dos cristais, pelas razões que mostrarei, devo também reconhecer que vivi algumas experiências no mínimo intrigantes e que não posso ignorar. Essa conversa vai ser longa, mas é preciso que assim seja para que eu exponha com honestidade o que sei e o que não sei. 
 

RAZÕES PARA DUVIDAR

Vejamos primeiro as razões que eu tenho para duvidar do poder dos cristais de curar ou de exercer alguma ação sobre o ser humano, como acalmá-lo, fortalecê-lo, etc.

Minha busca começou pela leitura de livros sobre energia dos cristais e seu poder de cura.  As duas ou três primeiras obras que li não me convenceram. Um dos livros até parecia bem fundamentado na descrição dos métodos usados na Cristaloterapia (tratamento pelos cristais), mas quando começou a descrever as pedras preciosas usadas para cada tipo de problema o autor demostrou tal desconhecimento de Mineralogia que me fez descrer por completo. Você pode saber curar uma doença com cristais, mas se está usando para isso um mineral e ele é na verdade outro, só vai curar por sorte.

Naquela época em que estava nessa busca (era 1989), eu participava de um grupo que se dedicava, em Porto Alegre, à Bioenergia e Projeciologia e que viria a ser o IUPP - Instituto Universalista de Psicobioenergia e Projeciologia. Um dia, a presidente me pediu que eu proferisse uma palestra para os sócios sobre energia dos cristais. Expliquei-lhe que eu não conhecia o assunto e que, pelo contrário, também eu estava querendo conhecê-lo melhor.

Passado um tempo, ela tornou a fazer o mesmo pedido e eu lhe dei a mesma resposta. Ela então pediu-me que eu procurasse alguém que nos brindasse com a tão desejada palestra.

Dispus-me a fazer isso, mas não precisei procurar. Na mesma hora uma colega mencionou uma pessoa que poderia ser o tal palestrante. Tratava-se de um advogado que, dizia ela, tinha grande experiência no assunto.

Em junho de 1989, tive dois encontros com esse advogado, que foi depois meu aluno de Gemologia. Em ambos a conversa foi muito interessante, mas seria muito longo relatá-las aqui.

No segundo encontro, que durou 3h 30min, ele conheceu minha coleção de minerais e instruiu-me sobre o primeiro passo: como sentir a vibração de um cristal.  Recomendou, para esse aprendizado, que eu escolhesse um cristal de minha coleção, o qual não deveria ser tocado por mais ninguém a partir dali. Ensinou-me como segurá-lo e como buscar sentir a sua energia. Fiz alguns poucos testes, não senti nada e larguei o treinamento. Confesso, pois, que me faltou persistência.

Contei-lhe sobre minha descrença a respeito do assunto com base nos três livros que lera e ele dispôs-se a me emprestar duas obras que me convenceriam, uma delas escrita por um médico indiano.  Recebi os livros, com a orientação de ler só depois de haver testado meus cristais, e li com particular interesse aquele do médico.

Eu pensava encontrar nele algo do tipo de um grupo de tantas pessoas com a doença tal, tratei metade dos pacientes com cristais do mineral tal e a outra metade com recursos médico-farmacêuticos convencionais e os cristais mostraram poder de cura significativamente alto.  Para minha decepção, porém, o que o médico relatava era algo do tipo o paciente X, que tinha a doença Y, foi tratado com cristais do mineral Z e ficou curado depois de n dias ou semanas. Ou seja, não havia um grupo de controle para comparação, de modo que a cura poderia ou não ser decorrente do uso dos cristais.

Muito tempo depois, em 10 de julho de 2001, li, num jornal, que haveria uma palestra sobre energia dos cristais.  Pelo anúncio, parecia ser algo mais sério do que vinha encontrando, e resolvi assistir. Naquela noite, desaprendi bastante. Vejam algumas afirmações feitas pelo palestrante:

- Os minerais têm milhares de anos de idade. (O mais correto seria dizer milhões de anos.)

- Ninguém sabe explicar por que o quartzo é claro se ele é formado por silício, que é escuro, e oxigênio (Existem variedades de quartzo de muitas cores, inclusive preto. O silício tem cor acinzentada, e há muitas centenas de minerais com esse elemento químico, tanto claros quanto escuros.)

- O quartzo tem piezoeletricidade e, assim, se forem atritados dois cristais, um contra o outro, acende-se uma luz no interior deles.  (Ter piezoeletricidade significa que sob efeito de uma pressão o cristal gera correntes elétrica e, em sentido inverso, sob efeito de uma corrente elétrica ele vibra. É o princípio do uso do quartzo em relógios digitais. Mas isso nada tem a ver com luminosidade. Talvez o palestrante estivesse querendo falar em triboluminescência.)

- O cristalino do olho tem esse nome porque nele existem microcristais minerais. (O cristalino é formado por finíssimas camadas celulares com estrutura semelhante à da cebola e mede poucos milímetros de espessura - ver Wikipédia.)

- São descobertos 2.000 minerais novos por ano. (Foram 1.048 entre 1987 e 2003, o que dá 65,5 em média por ano.)

- A mica se esfarela porque tem dureza baixa. (Aqui, ele confundiu dureza com tenacidade. Mica tem baixa dureza, mas se esfarela porque tem baixa tenacidade, que é a resistência a fratura, torção e deformação.)

- A ametista perde a cor quando exposta ao Sol, porque o silício é muito sensível à luz. (Como já foi dito, há muitas centenas de minerais com silício e a sensibilidade à luz solar não é uma característica comum a eles.)

- Algumas pedras ficam mais densas depois de lapidadas, mas eu não sei por quê. (Nem poderia saber porque não há nenhuma razão para uma pedra ficar mais densa depois de lapidada, a não ser que sejam removidas porções porosas. Mas, aí a explicação é óbvia.)

- O diamante incolor é extremamente raro. (Segundo Chaves & Chambel, 99,9% dos diamantes são incolores ou levemente amarelados.  A ABNT classifica os diamantes lapidados, quanto à cor, em absolutamente incolores, excepcionalmente incolores, acentuadamente incolores, nitidamente incolores, aparentemente incolores para só então entrar nas categorias aparentemente coloridos, levemente coloridos, etc. Talvez extremamente raros sejam então os diamantes absolutamente incolores. )

O palestrante recomendou os livros ABC dos Cristais e O Caminho das Pedras, de Antônio Duncan. Vindo de quem vinha a recomendação, não li nenhum deles.

Depois disso, ainda li vários artigos sobre a energia dos cristais, mas nada me acrescentaram. Concluindo, pois, tenho boas razões para duvidar que os cristais tenham uma energia que possa nos influenciar de maneira sensível, curando doenças, por exemplo. Mas, como prometido, mostrarei, a seguir, o outro lado desta moeda.
 

RAZÕES PARA CRER

Eu disse, lá atrás, que os testes que fiz para sentir a energia dos cristais não haviam dado resultado.  Não foi bem assim.

Em agosto de 1989, depois de tentar sem êxito perceber a energia do cristal que eu escolhera para ser “o meu”, resolvi testar um par de brincos de zircônia cúbica que uma pessoa da família vinha usando e me assustei.  Senti um forte latejamento no dedo que estava em contato com a gema e uma estranha sensação de azedo. Como assim, azedo? perguntareis. Afinal, azedume se sente pelo paladar, não pelo tato. Pois, é... Por isso falei em estranha sensação.  Não sei explicar: era no dedo, mas me parecia algo azedo. Outras joias não causaram isso.

A dona da joia vinha tendo problemas de saúde, mas três dias depois falei com o advogado que mencionei, e ele disse que o latejamento não devia ser devido aos problemas de saúde dela, já que eles persistiam mesmo sem ela usar os brincos. Recomendou-me fazer uma descarga energética pisando na terra descalço. Mas, preferi testar os brincos de novo e não mais senti o latejamento. Teriam descarregado espontaneamente por não terem sido mais usados?

= X =

Numa das exposições de que o Museu de Geologia participou com outras entidades, uma colega de trabalho ganhou de presente de uma empresa expositora um pequeno saquinho plástico, com fragmentos de cristais.  Ela veio me mostrar o presente muito impressionada:

- Pércio, sinta só a energia destes cristais!

Olhei para o saquinho e vi que eram fragmentos irregulares de quartzo, alguns deles com claros indícios de terem sido tingidos artificialmente. Pensei comigo, antes de pegá-lo: devem ter dito a ela alguma coisa relacionada aos cristais que a deixou impressionada. Pois, para minha surpresa, ao tocar nos cristais senti sabem o quê?  O mesmo latejamento que sentira tocando no cristal de zircônia cúbica! Não havia dúvida, não era impressão minha. Aliás, como eu disse, eu estava achando que ela é que estava impressionada. Pois os tais cristais me deram a mesma estranha sensação que eu sentira antes. 

O que eles tinham em comum ?  A zircônia cúbica é um material artificial e alguns dos cristais de minha colega haviam sido tingidos artificialmente.  Mera coincidência?

= X =

            Certo dia, quando eu estava trabalhando no Museu de Geologia, um colega de trabalho da gerência administrativa, veio falar comigo meio encabulado, cheio de rodeios, e perguntou se era possível mudar de lugar um determinado mineral. Era uma obsidiana que estava exposta perto da porta de entrada da sua sala de trabalho.

            Eu respondi que podia, sim, mas quis saber a razão do inusitado pedido.

            - É que – disse ele, sempre constrangido – o pessoal está dizendo que desde que essa pedra veio para cá está dando azar.  Contou que uma colega caíra e quebrara o braço; um colega perdera o emprego e um terceiro tivera também um problema sério.

            Eu não tinha razões para acreditar que as desgraças fossem culpa da obsidiana, mas, para tranquilizar o colega, pedi ao estagiário que estava trabalhando comigo que a mudasse de lugar e indiquei um expositor bem afastado dali para seu novo destino.

            Isto foi numa sexta-feira. Na segunda-feira seguinte, o estagiário me contou que, naquele fim de semana, sofrera um acidente de carro...

= X =

            Mas a história mais impressionante aconteceu comigo em São Paulo, em 1991.

            Eu estava participando, com geólogos da CPRM vindos de vários estados, de um treinamento em Geologia Ambiental em Atibaia e fazíamos uma viagem de estudos a Ribeirão Preto. Um dia, por ser domingo, estávamos de folga e saímos a caminhar pela cidade. 

            Acabamos passando por uma feira ao ar livre em que eram vendidos artesanato, roupas, e varias outras coisas. Uma das bancas chamou minha atenção por vender cristais.  Eram cinco drusas de quartzo incolor de uns 15 a 18 cm cada uma.

            Olhei-as e me pareceram todas pouco interessantes. Eram obviamente diferentes umas das outras, mas muito semelhantes, de modo que eu não saberia dizer qual a melhor ou a menos valiosa delas. Deixei-as e segui adiante.

Alguns metros depois, uma senhora veio falar comigo e perguntou se eu podia lhe prestar um grande favor. Disse-me que sua filha lhe pedira que levasse um presente, e ela decidira escolher um das tais drusas de quartzo.  Só que ela não conhecia minerais e não sabia qual devia escolher e, orientada por um colega do grupo, viera falar comigo para saber se eu poderia escolher os cristais por ela.

Concordei, é claro. Não me custava nada fazer aquilo. Mas, enquanto nos dirigíamos para a banca, fui pensando comigo mesmo que critério eu usaria para escolher uma das cinco drusas, pois, como eu disse, elas eram muito semelhantes.

Chegando lá, olhei a primeira drusa e não vi nada de especial; olhei a segunda, e também não me impressionou; olhei a terceira e... surpresa !

Sabem aquela vozinha interior que às vezes fala com a gente ? Pois ela me disse: É essa aí!

Como esta aqui? perguntei a mim mesmo. Ela não tinha nada de especial. Era como as outras todas.

- É essa aí, repetiu a voz interior.    

Ainda sem acreditar muito no que estava acontecendo, olhei a quarta drusa e a quinta e elas nada mostraram de especial. Voltei a olhar para a terceira e de novo me veio a indicação de que ela devia ser a escolhida.

Como eu não tinha mesmo nenhum critério que me permitisse definir qual a melhor das cinco, fiquei com a terceira que alguém me dizia ser a melhor.

Peguei-a, entreguei-a à senhora e lhe disse:

- Não sei por que, mas estão me dizendo que a senhora deve levar esta.

Ela ficou imensamente agradecida e afastou-se muito feliz.

 Bem, dirão vocês que me leram até aqui, este caso nada tem a ver com energia dos cristais; foi uma experiência espiritual.

Tudo bem, pode ter sido um espírito que me disse para escolher aquela drusa e não ela que se mostrou a melhor. Mas, aí eu pergunto: por que foi aquela a escolhida pelo espírito e não qualquer uma das outras?

= X =

            Por fim, convido os caros amigos que tiveram paciência de ler este depoimento até aqui que vejam o vídeo a seguir. Acreditando ou não, vocês hão de ficar, como eu fiquei, impressionado com a segurança e a convicção do guri quando fala respeito da ação dos cristais sobre nosso planeta e o universo: https://www.youtube.com/watch?v=EjKSRVFII_E

            No vídeo, a legenda menciona diamante. Trata-se de erro de tradução; o guri queria dizer losango.

= X =

            Para encerrar: o que, afinal, eu concluo a partir do que vi, ouvi, li e senti?  Existe a tal energia dos cristais?  Pois com toda a convicção e segurança lhes digo: Não sei!
 
 
 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

COMO AVALIAR SUA COLEÇÃO DE MINERAIS


 
Quando decidi vender minha primeira coleção de minerais (1.350 peças de um total de 1.500), em 1996, minha maior dificuldade foi estabelecer seu valor. Cerca de 1/3  dos meus minerais eu próprio havia coletado; 1/3 eu havia obtido por troca e só o 1/3 restante eram minerais que haviam sido comprados. Mesmo para os minerais obtidos por compra era difícil estabelecer um valor porque eu não havia anotado o preço pago ou anotara, mas em moeda nacional, em uma época de inflação galopante.

Porto Alegre, onde eu moro, tem hoje um número muito reduzido de lojas que vendem minerais para coleção o que torna impossível estabelecer um preço de mercado para eles, a não ser, talvez, para daqueles produzidos no Rio Grande do Sul. Na época em que vendi a coleção, as lojas eram ainda menos numerosas. Na verdade, eu conhecia só duas, e uma delas era minúscula.

Isso se justifica: a tribo dos colecionadores de minerais é ainda muito pequena neste estado, mesmo na capital. E talvez o seja também em outros estados, ao contrário do que acontece em países como Estados Unidos, Canadá e Itália, por exemplo.

Após um bom tempo pensando em como estabelecer o preço da coleção, decidi adotar o seguinte critério: o preço de cada peça seria o preço que eu estaria disposto a pagar caso fosse comprá-la.  Sobre o total assim obtido, eu poria um acréscimo como margem de negociação.

A experiência como coordenador de um Museu de Geologia, porém, fez-me ver que o valor era bem maior.  De fato, em qualquer acervo, seja particular ou de museu, o valor total é maior que a soma dos valores das peças que o compõem.  Por quê?  Por várias razões:

             Há que se levar em conta o valor do conjunto.  Uma coleção de minerais variados pode valer menos que uma coleção menor de minerais de um grupo específico. Por isso, sempre oriento quem coleciona minerais a optar, mais cedo ou mais tarde, por um ou alguns grupos de minerais. Colecionar de tudo permite ter uma coleção grande, mas não necessariamente uma grande coleção.

            Nesse aspecto, meu acervo era misto: eu tinha uma quantidade bem grande de espécies variadas, mas, entre as 1.350 peças que eu pretendia vender, havia um grupo bem específico de mais de cem, formado por minerais raros a extremamente raros, daqueles de que a imensa maioria dos geólogos sequer haviam ouvido falar alguma vez, como campigliaíta, balangeroíta, walstromita, peretaíta, carfolita, etc.  E estes eram justamente os mais difíceis de avaliar em termos de preço. 

             Ao valor das peças do acevo, eu devia acrescentar algo pelo fato de todas elas estarem devidamente identificadas, a grande maioria com a procedência geográfica estabelecida.

             Há que considerar ainda, na avaliação de um acervo, o trabalho que se teve para reuni-lo e conservá-lo.

            Levando em conta isso, pedi pela coleção o dobro do que eu considerava o valor comercial do acervo e a ela assim foi vendida. O Prof. Paulo Neves, que intermediou a transação, várias vezes me disse que eu a vendi barato. Pode ser, mas nunca me arrependi (com o valor da venda, pude dar um carro 0 km para minha filha e ainda sobrou num pouquinho).

Bem, mas tudo que escrevi até aqui não esclarece o principal e que é o início de tudo: como avaliar cada peça da coleção.

 Pois depois de 47 anos colecionando minerais, descobri, no ano passado, que existe uma tabela de preços para cerca de 2.300  minerais de coleção.  Trata-se do Standard Mineralogical Catalogue, do qual adquiri, em 2014, a 8ª edição, de 1987. A compra foi feita através da Amazon e acredito que a obra não exista nas livrarias brasileiras. O catálogo é elaborado por E. G. Brazeau e L. S. Brazeau e editado por Mineralogical Studies, de Karnersville (NC).


Ele classifica os minerais para coleção em três categorias: cristais isolados ou com matriz inferior a 10% do volume total; cristais na matriz, em que esta é 10% ou mais do volume total e minerais maciços.
Abaixo, temos exemplo de cristais isolados, no caso de topázio.
 
 
                   Exemplo de cristal (pirita) na matriz.
 
                                 Bornita maciça.




            Estabelecido a qual delas a peça pertence, vem a seguir o critério do tamanho da peça. Aí, o catálogo estabelece cinco categorias, bem conhecidas dos colecionadores que fazem intercâmbio com parceiros dos Estados Unidos: micromount (1/2 polegada ou 1,25 cm); thumbnail (1 polegada ou 2,5 cm); miniature (2 polegadas ou 5 cm); small cabinet (3 polegadas ou 7,5 cm) e cabinet (4 polegadas ou 10 cm).

            Os preços do catálogo, é claro, são dados em dólares norte-americanos.

Há uma seção do catálogo, com 5,5 páginas, que traz uma tabela de preços de minerais que por alguma razão são considerados excepcionais. Isso pode acontecer por provirem de uma ocorrência clássica; por serem excepcionais em pureza, tamanho, forma ou cor ou por serem peças capazes de ganhar um prêmio numa exposição de minerais (um tipo de premiação que não existe por aqui).

Uma outra seção, um pouco maior, mostra preços de minerais brutos lapidáveis, ou seja com qualidade gemológica.

O catálogo tem 94 páginas e sua consulta não é muito amigável, pois as letras são bem pequenas e o texto, muito compacto.  Mas, é uma fonte muito mais confiável do que o critério tão subjetivo que eu usei para avaliar a coleção que vendi.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

GEOLOGIA NA PRAIA

Quem vai à praia da Joaquina, em Florianópólis, pode ter uma aula grátis de Geologia sem mestre.
Existem, no local, duas rochas bem diferentes. A que predomina é um granito rosa, Os geólogos da CPRM que mapearam a região (sou um deles) lhe deram o nome de Granito Ilha, por ser o que predomina na ilha de Santa Catarina. É uma rocha composta principalmente de feldspato alcalino (que lhe dá a cor rosa) e quartzo (incolor). Este granito tem cerca de 500 milhões de anos de idade. 
A outra rocha, cinza-escura, é um diabásio de apenas 130 milhões de anos, composto, como todo diabásio,  principalmente de plagioclásio (um outro tipo de feldspato) e piroxênio. Esses minerais ocorrem em grãos tão pequenos que não podem ser vistos a olho nu (é por isso, classificado como rocha afanítica, ao contrário do granito, que é fanerítico). Essa diferença deve-se à velocidade de resfriamento dos magmas a partir dos quais foram formados. O magma granítico resfria muito mais lentamente.     
Este diabásio forma faixas escuras no granito porque se formou em fraturas que existiam neste último. Essas faixas, que os geólogos chamam de diques, são comuns no litoral catarinense, onde costumam ter a direção Nordeste-Sudoeste, mais precisamente N30ºE. 


O granito forma-se a muitos quilômetros de profundidade (aparece hoje porque a erosão removeu o que havia sobre ele); o diabásio, poucos quilômetros apenas abaixo da superfície.
Nota-se claramente também que o diabásio é muito fraturado, com fraturas paralelas entre si e perpendiculares à direção do dique. Isso é comum em diques. 
Essas fraturas e a composição mineralógica tornam a rocha escura menos resistente à erosão, É por isso que ela aparece rebaixada em relação ao granito.