domingo, 27 de fevereiro de 2022

OS MUSEUS E AS GUERRAS

           

            Guerras causam destruição e mortes. Guerras destroem pontos vitais para o domínio do inimigo, como instalações militares e aeroportos. Nunca, porém, associei guerras com destruição de museus, mesmo tendo dirigido o Museu de Geologia da CPRM por doze anos. Mas, elas podem, sim, destruí-los. E destroem.

              Neste momento em que a Rússia bombardeia a Ucrânia e tenta dominar sua capital, é bom lembrar o que guerras já fizeram em termos de destruição de acervos mineralógicos que existiam em museus de muitos países.

              Segundo o World Directory of Mineral Collections*, 23 museus de dez países foram parcial ou totalmente destruídos durante guerras, vinte deles durante a II Guerra Mundial.

              Alguns poucos acervos de minerais não chegaram a ser destruídos, mas tiveram que ser removidos para local seguro, o que ocasionou perdas e danos, até pela pressa com que isso provavelmente precisou ser feito.

              O país que teve mais museus destruídos por bombas foi a Alemanha (9), seguindo-se HungrIa (4) e Polônia (3).

              A tabela abaixo mostra quais museus foram atingidos e de que maneira.

Esperamos que a invasão russa acabe logo e que não vejamos nenhum museu mais destruído por invasores.

 

 

PAÍS

 

 

MUSEU

 

SITUAÇÃO EM QUE FICOU

REPÚBLICA CHECA

Instituto de Química Tecnológica de Praga

Virtualmente destruído durante a ocupação na II Guerra Mundial.    Restaurado em 1948.

FRANÇA

Museu de História Naturalde Le Havre

Bombardeado em setembro de 1944. Reconstrução iniciada em 1950..

ALEMANHA

Instituto e Museu Mineralógico e Petrológico da Universidade de Bonn

Grande parte do prédio e do acervo destruídos em fevereiro de 1945.

Museu Estadual de Mineralogia e Geologia de Dresden

Destruído em 1945.

Museu de História Natural de Freiburg em Breisgau

Parcialmente destruído na II Guerra Mundial.

Museu de História Natural de Gera

Totalmente destruído na II Guerra Mundial, em 1945.

Museu Mineralógico da Universidade de Colônia

Maior parte destruída na  II Guerra Mundial.

Coleção de Minerais e Rochas da Universidade de Leipzig

Prédio e acervo destruídos na II Guerra Mundial, em 1943.

Museu de História Natural de Stuttgart 

Parcialmente destruído na II Guerra Mundial.

Coleção e Exposição Mineralógica daUniversidade de Tübingen

Acervo removido na

II Guerra Mundial.

Museu Mineralógico da Universidade de Würzburg

Acervo removido na    II Guerra Mundial. 

Perdas por saques.

HUNGRIA

Departamento de Mineralogia da Universidade de Loránd

Coleção desmontada na Guerra da Independência, em 1850-1894.

Departamento de Engenharia Geológica da Universidade Técnica de Budapest

Sérios danos sofridos durante a II Guerra Mundial.

Escola Secundária do Colégio Reformado de Debrecen

Sérios danos sofridos durante a II Guerra Mundial.

Departamento de Mineralogia e Petrografia da Universidade de Miskolc

Sérios danos sofridosem 1920, durante mudança forçada.

ITÁLIA

Departamento de Georrecursos e Território da Universidade Técnica de Turin

Perdas irreparáveis no bombardeio de 8 de  dezembro de 1942. 

POLÔNIA

Museu de Depósitos  Minerais da Universidade Técnica Silesiana, em Gliwice

Restos das coleções destruídas deste e de outros museus, foram reunidos,  após a II Guerra Mundial, em Gliwice, dando origem ao novo Museu da Mineração e Geologia.

Museu Geológico do Instituto Geológico Estadual de Varsóvia

Acervos muito valiosos e o próprio prédio em que estavam  foram severamente destruídos naII Guerra Mundial.

Museu Mineralógico do Instituto de Ciências Geológicas de Breslávia

No final da II Guerra Mundial, a parte mais importante do acervo foi removida de Breslávia e depositada em igrejas de Swierzawa e Strzegom.

ROMÊNIA

Museu Mineralógico da Universidade Babes-Bolyai

Entre 1940 e 1944, os acervos foram transferidos para Timisoara.

RÚSSIA

Museu Geológico Vernadsky , de Moscou

Acervos destruídos durante a guerra de 1812.

ESLOVÁQUIA

Museu Nacional Eslovaco de Bratislava

Acervos destruídos durante a II Guerra  Mundial.

INGLATERRA

Museus e Galeria de Arte de Bristol

Em novembro de 1940, a maior parte do acervo de  minerais foi destruída por bombas.

 

(*) International Mineralogical Association.  World Directory of Mineral Collections. Tucson (AZ), Mineralogical Record, 1994.  293 p.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

ALGUNS IMPORTANTES ACERVOS MINERAIS

 

              Sempre gostei de museus e eles fizeram parte da minha vida mais do que nunca entre 1994 e 2007, quando fui convidado a criar e dirigir um museu dessa natureza, o Museu de Geologia da CPRM.  Eu colecionava minerais havia 27 anos e organizar o Museu foi como organizar e exibir uma coleção, que era pequena mas se tornou maior.

              Sempre preferi os museus de História Natural, Geologia, Paleontologia e Ciências porque estão diretamente relacionados à minha profissão e porque, a partir de 1994, passaram a estar relacionados também à minha atividade de trabalhador em museu. Por isso, nas viagens que fiz pelo Brasil e no exterior, sempre que pude visitei museus principalmente desse tipo.

           




  
Uns três anos atrás, ganhei de presente do meu filho o livro World Directory of Mineral Collections, editado pela International Mineralogical Association (IMA). Trata-se de um cadastro de museus não especificamente de Mineralogia, mas que possuem acervo de minerais. Por isso, ele apresenta informações minuciosas sobre acervos de minerais, mas também de rochas, meteoritos, tectitos e gemas. Além disso, informa o número de visitantes que o museu recebe por ano, um resumo da sua história e o que ele possui de mais significativo em seu acervo.  Informa ainda se está aberto ou não à visitação pública e o horário para isso. A obra traz também os nomes das pessoas responsáveis pelo museu, telefones para contato e informações sobre catálogos do acervo.

              É um livro de consulta, sem nenhuma foto, mas traz informações muito importantes, até para nos situarmos, como brasileiros, no universo museológico internacional.

              O exemplar que possuímos é da terceira edição, de 1994, o que permite supor que pelo menos mais uma edição tenha sido publicada. Ele traz informações sobre 445 museus de 32 países. Só foram incluídos países onde a IMA tem representantes, pois só a estes foi enviado um formulário para ser preenchido com os dados dos museus daquele país.

              A obra inclui apenas museus públicos, sem coleções particulares. Eles são apresentados em ordem alfabética de país e, para cada país, em ordem alfabética pelos nomes dos museus.

Não é estabelecido nenhum rank, nenhuma classificação por acervo, público visitante, antiguidade, etc.  As classificações apresentadas a seguir são fruto de demorada compílação de dados que eu fiz, com elaboração de dez tabelas diferentes.

              O país com mais museus incluídos na obra -  63 - são os Estados Unidos, o que não é surpresa, até porque o livro foi publicado lá. Seguem-se Alemanha (58), Austrália (31), Itália (30), Rússia (26), Reino Unido (24), Áustria (23), França (20), Canadá (18) e Suíça (15). Estes são os dez primeiros. O Brasil vem em 12º lugar com 13 museus.

              O Museu Nacional de História Natural da Smithsonian Institution (Washington, DC), que já visitei três vezes, está em primeiro lugar em número de minerais no acervo (350.000 peças) e em público visitante (6 milhões de visitantes por ano). A seguir vem o Museu de História Natural de Londres, que foi desmembrado do Museu Britânico e que possui 325.000 minerais.

O Museu Americano de História Natural, de Nova York, um dos melhores que eu já conheci, possui a segunda maior coleção de minerais dos EUA e a terceira maior do mundo. Tem a segunda maior coleção de meteoritos do mundo e o maior meteorito conhecido exposto em ambiente fechado.

              O Museu de História Natural de Viena (Áustria) é o campeão em número de meteoritos (6.200), seguido pelo museu  da Smithsonian Institution, com 6.000. Talvez o museu de Viena inclua tetctitos entre os meteoritos, pois sempre ouvi falar que o maior acervo é o da Smithsonian.

              Em número de tectitos especificamente o campeão é o Museu Nacional de Praga, com, 13.000 tectitos. Ele é o primeiro colocado também em número de gemas, com 20.000 peças. Em segundo lugar, com muito menos (10.000), está o já citado museu da Smithsonian Institution.

   O Museu Hunteriano, de Glasgow (Escócia) é o primeiro em amostras de rocha, com nada menos de 535.000 amostras. Após ele, vem o Museu Geológico da Central de Pesquisa Chernyshow, de São Petersburgo (Rússia), com 469.700 amostras de rocha.

Surpreendentemente, vê-se que há museus com bons acervos, mas que não estão abertos ao público e, ao contrário, museus com acervos que não são excepcionais, mas que  recebem público muito grande. Um exemplo destes últimos é o Museu Nacional da Ciência, de Tóquio, que tem um acervo relativamente modesto, mas que recebe um milhão de visitantes por ano, talvez por se incentivar muito a visitação por estudantes.