Vou contar-lhes uma história que só contei para outros geólogos uns vinte anos depois que ela aconteceu. Depois explico por quê.
Na década de 90, estava eu
fazendo cadastro de ocorrências minerais na região de Caçapava do Sul (RS), quando,
rodando por numa daquelas estradas de terra do interior, vi, à esquerda, uma
pedreira de granito abandonada. Parecia nada ter de importante, mas, precisava
ser cadastrada, afinal era um ponto onde houvera produção de um bem mineral.
Deixei o carro na estrada, passei
a cerca com meu colega e comecei a examinar o afloramento.
Era, como eu esperava, uma pedreira
comum, abandonada havia bastante tempo, onde provavelmente fora extraído
granito para produção de brita.
Estava eu ali examinando o
afloramento, quando, em dado momento, senti um perfume muito agradável. Minha primeira
reação foi atribuí-lo a alguma flor silvestre. Mas, eu estava bem no melo da
pedreira e não via nenhuma flor. Bem, pensei, pode ser de alguma planta mais
distante, com perfume sendo trazido pelo vento. Só que não soprava a mais
mínima brisa.
Intrigado, lembrei que os
espíritas e espiritualistas em geral dizem que uma das maneiras pelas quais
espíritos do bem se manifestam é através de perfume. Assim, na falta de outra
explicação, pensei comigo: Bem, se é um bom espírito a origem desse perfume,
ótimo, Estou em boa companhia. E continuei meu trabalho.
Feitas as anotações na caderneta
de campo, coletada uma amostra, voltamos, meu colega e eu, para o carro.
Quando estávamos a poucos metros
dele e da pedreira, vi um veio de quartzo e hematita que atravessava a estrada
em diagonal. Surpreso, pois eu não vira
nada quando passarai por ali rumo á pedreira, parei e o examinei usando o martelo.
Era algo diferente, que não havíamos encontrado em nenhum outro local. Tinha
apenas uns 10 cm de espessura, o que não lhe dava grande importância econômica,
mas era uma ocorrência de minério e fero e, como tal, devia ser cadastrada.
A direção do veio mostrava que
ele deveria se estender para dentro da pedreira que acabáramos de examinar. Assim,
voltamos para lá, até porque na pedreira ele deveria estar menos alterado e,
talvez, com espessura maior.
Começamos a procurá-lo e, por
mais que andássemos, não conseguíamos encontrar o bendito veio. Insisti, porém, pois eu estava convencido de
que ele deveria aparecer lá, afinal a distância da estrada até ali era muito pequena.
Foi aí que, em dado momento,
lembrei-me do intrigante perfume que eu sentira. Será que havia um espirito
amigo me mostrando a local do veio?
Eu lembrava perfeitamente do
ponto em que sentira o perfume e fui lá. Não deu outra. Ali estava o veio de
hematita. O perfume, portanto, tinha por objetivo não me fazer olhar para os lados
em busca de uma flor, muito menos olhar para o céu em busca de uma improvável
visão espiritual. O objetivo era me fazer olhar para o chão: eu estava pisando
num veio de hematita.
Foi uma experiência única, que
eu nunca vivera antes nem vivi de novo depois.
E por que eu demorei tanto para contar isso
aos meus colegas geólogos? Ora simplesmente porque eles, e em especial meus
chefes, poderiam pensar, preocupados (e com uma boa dose de razão), que eu
estava fazendo “geologia espiritual”.
Gostei da postagem...Eu vou ficar atento quem sabe tenho tambem alguma ajuda....Eu tenho umas terras na região de de um Distrito que tem o Nome de Hematita ..Municipio de Antonio Dias , Minas Gerais.
ResponderExcluirLocal de muitas ocorrências ,quem sabe ...
Aproveito e lhe convido para fazer um passeio aqui ,preciso de um Geólogo para fazer este estudo ,mas o dinheiro é pouco ....
Um abraço ...
Carlos
Visitar essa região de Minas é sempre uma grande alegria. Espero voltar logo.
ExcluirMuito legal a história!! Parabéns!
ExcluirFica a curiosidade se foi um espírito eventual, um que gosta daquele local ou o teu Anjeólogo?
ResponderExcluirAbraço
Marcos do Amfr e Luz
Acho que foi um anjeólogo, Marcos :-)
ExcluirBela história, Pércio, na linha onírica do Cortázar. Abraços.
ResponderExcluirUm abraço, Du Bois.
ExcluirUma boa história mesmo! Abraço
ResponderExcluirObrigado, Larissa. Um abraço.
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