Já mostrei, neste blog, belas
imagens de ametistas e ágatas extraídas de basaltos, principalmente do Rio
Grande do Sul. Mostrei também os curiosos, belos e delicados dendritos,
depósitos de óxido de manganês formados nos mesmos basaltos. Mas, em alguns lugares
é o próprio basalto (às vezes, uma rocha semelhante) que nos encanta com uma feição surpreendente, a disjunção
colunar.
A lava de composição basáltica ao se resfriar solidifica,
formando o basalto. Nesse processo, podem surgir fraturas horizontais
paralelas, que permitem obter lajotas, muito usadas, por exemplo, para pisos e
calçadas no sul do Brasil e produzidas em grande escala em municípios como
Paraí e Nova Prata (RS). Em certos locais, porém, formaram-se não placas
horizontais, mas incríveis colunas verticais, limitadas por faces planas,
muitas delas com seção hexagonal quase perfeita. É o que os geólogos chamam de disjunção
colunar.
Muitos
anos atrás, eu li um artigo que descrevia em detalhe o processo de fraturamento
que resulta nessas colunas. A explicação não era simples e confesso que não
tive paciência para me deter muito nela.
Um estudo muito mais recente, publicado em 2018(*), mostrou que é quando a lava solidifica em temperaturas entre 90 e 140 oC abaixo da temperatura normal de formação do basalto (980 oC) que surgem as tais colunas. O estudo foi feito por cientistas da Universidade de Liverpool (Inglaterra), em basaltos do vulcão Eyjafjallajökull, da Islândia.
As colunas podem ter até 30 metros de altura pelo menos e
largura que vai de poucos centímetros a até 3 metros. Costumam ter cinco ou seis faces, mas algumas
chegam a sete, e outras não passam de três.
Muitas vezes, talvez na maioria delas, a rocha é, a
rigor, diabásio não basalto. Os dois têm
a mesma composição, com a diferença de que o diabásio é uma rocha subvulcânica,
pois se forma por resfriamento do magma dentro da crosta, a uma profundidade
relativamente pequena enquanto o basalto é vulcânico (forma-se, como foi dito, por
resfriamento na superfície). Como o basalto é muito mais abundante, é normal o
diabásio ser chamado também de basalto quando não se exige muito rigor
científico, como aqui.
Alguns
afloramentos com estrutura colunar são mundialmente famosos. Um deles (foto
abaixo) é a Torre do Diabo (Devils Tower), no estado de Wyoming (EUA),
cenário do filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau. Só que este é
formado por uma rocha vulcânica diferente, o fonolito, que se formou, neste caso,
invadindo rochas sedimentares (hoje completamente erodidas).
Devils Postpile, na Califórnia, é mais um afloramento mundialmente conhecido. Nele, é notável a presença de colunas encurvadas em alguns pontos.
Em 2013, eu estava dando um
curso de Gemologia em Tamanrasset, na Argélia (bem no meio do deserto do Saara)
e vi, na Casa do Artesanato, um cartaz mostrando um belo morro da região, o
monte Hoggar. Eu já vira fotos do Hoggar em vários outros locais, pois ele é
muito bonito. Um dia, porém, ao passar pelo cartaz citado, tive a
impressão de que se tratava de um morro de basalto colunar. Olhei com
mais cuidado, e a impressão ficou muito reforçada.
Em um passeio pelo deserto da região que me proporcionaram dias depois, pedi que me levassem lá e – aleluia! - era um belo afloramento de basalto colunar, o maior que eu vira até então. Não fotografei porque lá tudo é (ou era) proibido fotografar. Mas aí vai uma bela foto da Wikipédia.
Belos afloramentos desse tipo de rocha podem ser vistos igualmente em Portugal (abaixo) e nas ilhas Canárias.
O afloramento seguinte é espetacular, mas lamento não saber informar onde se situa.
O melhor que eu vi foi ao norte
da cidade de Vacaria, na BR-116, perto de um posto da Polícia Rodoviária
Federal. A rocha forma ali colunas poliédricas de três ou quatro faces, e quando
estive no local, há mais de vinte anos, eram extraídas peças de até 1 m de
comprimento por até 8 cm de largura aproximadamente. Esse tipo de rocha é usado para revestimento
de paredes, sendo comercializado com o nome de basalto palito. Meu colega
geólogo Álvaro Santos informou-me que aquele raro afloramento era usado também
para obtenção de moirões, empregados nas propriedades rurais da região. Isso mostra que peças maiores que as que eu
vi eram ali extraídas.
Esse afloramento mereceu breve descrição de Josué Camargo
Mendes, no seu ótimo livro Conheça o Solo Brasileiro, onde obtive a foto acima.
Outro município em que encontrei
basalto prismático foi num corte de estrada em Nova Bréscia, também no Rio
Grande do Sul.
Meu colega Sérgio Freitas Borges
informa que há basalto desse tipo entre Lages e São Joaquim, em Santa Catarina.
Outro
colega, Antônio Pedro Viero, relata a existência de uma pedreira em atividade
nesse tipo de rocha em Santo Antonio da Patrulha (RS). É um afloramento que ele
considera sensacional e aonde leva sempre seus alunos da Petrologia Ígnea para
atividade de campo. Fica um pouco antes do pedágio de Santo Antonio da Patrulha,
na BR-290 (Free Way) indo no sentido de Osório. Se não me falha a memória - informa
ele - fica no km 25 da Free Way, a esquerda de quem vai para a praia. É
uma pedreira de brita da Sultepa. Dá para vê-la da rodovia.
Como geólogo, lamento muito a
destruição desses belos afloramentos para fins industriais. O geólogo Prof.
Luiz Fernando Scheibe, sente o mesmo. Certamente movido por esse sentimento,
ele comprou algumas colunas do tal basalto palito numa loja de pedras para
revestimento e montou esta escultura na sacada da sua casa, à qual deu o nome
de “Ode ao Diabásio”.
Para encerrar, mais um maravilhoso basalto colunar, este da República Checa. Não sei se é efeito do ângulo da foto, mas esta imponente “catedral” de basalto me encanta como poucos afloramento desse tipo conseguem encantar.
_______
(*)http://www.geologyin.com/2018/04/new-insight-into-how-giants-causeway.html
#l4b0M9UwbMrZiW8l.99
Créditos:
- Várias das fontes onde
obtive as fotos aqui apresentadas foram citadas no texto, mas outras não sei informar,
porque as fotos foram obtidas no Facebook ou na Wikipédia sem essa informação.
- Dados sobre disjunção colunar em geral podem ser obtidos em http://volcano.oregonstate.edu/columnar-jointing.
Salve, Percio!
ResponderExcluirPeguei o link do seu blog num zap de um grupo de geólogos da UFMG, não resisti e cliquei:
Bela surpresa!
Vc realmente é um craque! Geólogo raiz!
Parabéns.
Vou virar piolho do blog.
Abraço.
Ernesto von Sperling
Oi, Ernesto!
ExcluirQue bom ter notícias tuas.
A divulgação científica é minha missão nesta vida e neste planeta. Que bom que você gostou do blog.
Um grande abraço.
Caro amigo Percio.
ResponderExcluirSou fã de teu Blog.
Informações interessantíssimas. Guardo teu emails com teus comentários.
Ré-encaminho muitos desses para amigos e colegas.
Verdadeiras aulas de Geologia.
Obrigado.
ExcluirFico contente por saber que minhas lições leves de Geologia e Gemologia agradam a um bom número de pessoas.
Um abraço.
O afloramento existente numa pequena elevação ao sul da cidade de Teorres/RS Vale a visita.
ResponderExcluirObrigado pela informação. Fica perto da BR-101? Perto da praia?
ExcluirCaro Pércio,
ResponderExcluirAcompanhei as discussões sobre basaltos e disjunções colunares.
Tema que muito me atrai e magistralmente ilustrado no seu blog.
Parabéns.
Abraço
Zaine/Unesp- Rio Claro
Projeto Geoparque Corumbataí
Obrigado, colega.
ResponderExcluirTenho uma foto de um afloramento no interior de São Paulo, mas não publiquei porque não está boa e porque não sei em que município fica o afloramento.
Um abraço.
L. P. Fragomeni, Cibele C., Vanderlei P., Ernesto von S., Katia C. e demais seguidores do blog. Se me informarem seus e-mails, informarei quando eu postar alguma novidade.
ResponderExcluirMuito bom. Este lapidário é TOP!
ResponderExcluirMuito encantador a explicação e imagens. Porém me surgiu uma dúvida. Esta disjunção colunar tem relação com as colunas de diques do pacote da sequência ofiolítica ? ou são formações diferentes ?
ResponderExcluirAbraços
Obrigado, Thiago. Lamento, mas não sei te responder. Eu acredito, porém, que a relação exista, sim.
ExcluirAcho que encontrei uma formação dessas aqui no Brasil. Não tenho conhecimento algum pra confirmar se é ou não. Mas queria saber se é possível ocorrer na Serra do Mar.
ResponderExcluirMateus, meu colega lembrou que as colunas de basalto são formadas por resfriamento rápido do magma. Assim, é difícil que ocorram em rochas graníticas, como são as da serra do Mar.
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