quarta-feira, 17 de março de 2021

A SURPREENDENTE ÁGATA

               Considero a ágata surpreendente por vários motivos, mas principalmente porque é infinita sua capacidade de nos surpreender com seu arranjos de formas e cores.  Se um colecionador de minerais quiser colecionar só ágatas, ele poderá formar uma grande coleção. Se quiser manter um blog como este escrevendo apenas sobre ela, provavelmente irá conseguir, pelo menos por um bom tempo.

A ágata surpreende também por sua origem, mas, não vou falar sobre isso. Primeiro porque conheço menos sobre esse assunto do que gostaria de conhecer. Segundo porque, como disse Prashnowsky, em 1990, seu processo de formação “é um dos mais fascinantes problemas”.  Mas, se algum leitor tiver boas informações sobre o tema, por favor me mande.

      Entre as muitas variedades de quartzo, há um grupo que reúne as variedades criptocristalinas, aquelas que formam cristais invisíveis a olho nu. Estão nesse grupo o ônix, a cornalina e a ágata.

O que caracteriza esta última gema é sua formação em camadas plano-paralelas ou concêntricas que se traduzem, quando ela é serrada, em faixas de cores ou tons variados, formando desenhos muito diversificados, a ponto de se poder dizer que não há duas ágatas que sejam iguais.

Ela se forma normalmente preenchendo cavidades de rochas, principalmente nas vulcânicas, e sua forma externa traduz a forma da cavidade em que se originou.  

Os padrões de preenchimento

    Os tipos de preenchimento são outro aspecto muito diversificado dessa gema. 

    Para início de conversa, o preenchimento da cavidade da rocha pode ser total ou parcial; pode ser todo com camadas plano-paralelas, todo em camadas concêntricas ou ambos os tipos, com uma camadas concêntricas na parte externa e plano-paralelas no centro.

Vejam um exemplo de preenchimento quase 100% plano-paralelo.


 

Se o preenchimento não é total, fica um espaço vazio (às vezes mais de um), que pode conter ametista, quartzo incolor, calcita, zeólitas ou outros minerais. 

Às vezes o preenchimento começa a se dar por camadas concêntricas, mas lá pelas tantas, além de elas passarem a ser plano-paralelas, destroem parcialmente o arranjo original.

              A superfície externa da ágata é arredondada, mas ela pode ter forma muito diferente da esférica, sendo frequentemente bem alongada. E pode ser bem irregular, como a da foto a seguir.



               É normal haver ágata na arte externa do geodo e quartzo incolor na porção mais interna; mas pode acontecer o contrário e até mesmo ocorrer uma alternância de várias camadas de ágata e de quartzo incolor.           

As cores

            As ágatas do Rio Grande do Sul – o estado que mais a produz no mundo – são muitas vezes cinza a cinza-azuladas, a chamada ágata Umbu. Mas, podem ter cores quentes, como vermelho, laranja, marrom e amarelo (ágata do campo). E podem mostrar cores brancas e preta. 

              As muitas ágatas de cores rosa, verde, azul ou roxa vistas no mercado são obtidas por tingimento (mas, em Queensland, na Austrália, há uma ágata azul que é única no mundo). Como ela é porosa, quando suas cores são pouco atraentes pode ser tingida, obtendo-se assim resultados às vezes muito bons. Para isso, a ágata é imersa, depois de lapidada, em uma solução corante, onde fica por várias semanas, absorvendo o corante, que colore apenas uma porção de alguns milímetros de espessura da sua parte externa. Se o tingimento for feito aquecendo a solução, o processo se torna mais rápido, mas a cor obtida pode não ser estável.

              É importante destacar que esse tingimento, praticado desde o século XIX, não é uma fraude. É um tratamento de gema bem conhecido e que os produtores não escondem. E é tão comum, que a gema tingida tem o mesmo preço de mercado que a de cores naturais.

              Cerca de 90% das ágatas são tingidas, mas, no Rio Grande do Sul, essa porcentagem chega a apenas 40%, já que as belas cores naturais das gemas daqui dispensam o tingimento.  

              Abaixo, duas ágatas de cores naturais, procedentes do Rio Grande do Sul.




              Outro belo exemplar, este do acervo do Museu de Geologia da CPRM.

 


 

              As seguintes são peças tingidas, também do RS.



              Mas, devo lembrar que existe a lindíssima ágata-íris, que mostra as belas cores do arco-íris (foto obtida na internet, sem autoria e sem procedência da ágata).

 


 

Dimensões

              Uma maneira fácil e eficiente de exibir as cores dessa gema é cortá-la em fatias, com serra diamantada e a seguir dar-lhe polimento. Isso mostra muito bem os padrões de preenchimento e as cores. Essas chapas podem medir desde 4-5 cm de diâmetro até em torno de 1 m, estas encontradas também aqui no Rio Grande do Sul. As da foto abaixo estavam à venda, anos atrás, na Exposol, em Soledade (RS). Para ter ideia melhor do tamanho, saibam que o moço simpático da foto mede 1,80 m de altura.

 


     

 A foto a seguir mostra a maior ágata da minha coleção. Ela tem 47 x 17 cm.



 Preenchimentos exóticos

               Muitas vezes a beleza da ágata está nos arranjos exóticos que forma. Algumas são simplesmente incríveis, como as das fotos abaixo. Na primeira foto, uma das peças preferidas de minha coleção: uma chapa de ágata de 22 x 24 cm que lembra um útero e as duas trompas e que tiveram o bom gosto de tingir com cor rosa. 


Vejam que belíssimo exemplo de preenchimento bem ritmado (As três próximas fotos foram obtidas na internet, sem autoria e sem procedência da ágata).


 

 

 Uma curiosa variedade de ágata é a ágata paisagem, cujos desenhos parecem mostrar um panorama natural. Gosto muito desta, embora já tenha visto outras mais impressionantes (foto também da internet sem autoria e sem procedência).

 


 

              A ágata abaixo é incrível. O material que reveste o “pássaro” pode até ser artificial, mas o interior sem dúvida é uma ágata em forma de pássaro (Facebook, sem procedência).


 

              Esta outra pode não primar pela beleza, mas sim pela complexidade de seu preenchimento, um belo desafio a que estuda o assunto.



 E o que dizer das carinhas sorridentes deste vídeo? O geodo foi encontrado no Rio Grande do Sul e soube que está à venda por 10.000 dólares. Os olhos não são pintados, como pode parecer, mas cavidades no geodo.  (Video obtido na internet, sem autoria). 

 



Os objetos decorativos de ágata

    As chapas polidas de que falamos são boas para mostrar as cores e arranjos, mas são uma maneira muito simples de aproveitar a ágata. Ela se presta muitíssimo bem à obtenção de objetos decorativos como pirâmides, apoios para livros (úteis e bonitos, mas que aproveitam mal a gema), caixas, alianças, maçanetas, cabos de talheres, etc. uma variedade de usos cujo único limite é a criatividade de quem os faz.




 

 As ágatas poliédricas

               Em 1982, ganhei da proprietária de uma loja de joias e gemas de Porto Alegre uma intrigante chapa de ágata com limites retos, formando um triângulo.  Ela achou aquilo mera curiosidade e me deu a peça de presente.

Tempos depois, adquiri uma ágata do mesmo tipo, em forma de losango, e continuei mais intrigado do que nunca com o processo de formação daquela gema. Eu supunha, na falta de explicação melhor, que ela se formara no espaço delimitado por um conjunto de fraturas na rocha.

 


 A dúvida persistiu até eu ler artigo do Prof. Jacques Pierre Cassedane, intitulado Les agates du Sítio Garguelo – Municipe de Cachoeira dos Índios – Paraíba, publicado em 1984.  Nele, o Prof.  Cassedane analisou nada menos de oito possíveis origens, propostas por outros pesquisadores, descartando todas elas. Uma das origens preconizadas era aquela que eu imaginava, espaço vazio entre várias fraturas na rocha.

Não vou expor aqui sua teoria, mas quero dizer que ele reconhece ser uma histoire géologique compliquée e passível de ser retomada e completada no futuro.

E esta história très compliquée me acompanha há 54 anos...

CRÉDITOS: salvo informação em contrário, fotos de Pércio de Moraes Branco, de peças de sua coleção de minerais.

10 comentários:

  1. Se a Ágata for tingida por um sal e for depois aquecida, o sal passa a óxido e a cor se torna permanente.

    Agora, uma pergunta: porque a Agatha de cor cinza é chamada UMBU?
    Para quem conhece a fruta umbú, tão comum no nordeste, nada a ver!!!
    Miguel M Suza

    ResponderExcluir
  2. Certo, Miguel. O tratamento muitas vezes envolve aquecimento após o tingimento, assim como tratamento com ácido antes dele. Não entrei em detalhes porque a postagem já estava muito longa.
    O nome ágata Umbu deriva do nome de uma fazenda. Umbu é, aqui no Rio Grande, o nome de uma árvore de grande porte. A gostosa frutinha a que você se refere nunca vi aqui.

    ResponderExcluir
  3. Que ótimo saber das novidades e versatilidades em criar com a Ágata (por vezes prontas naturalmente ). Possibilita muita criatividade dos trabalhos praticados pelo lapidador.
    Na Alemanha a usavam e usam na glíptica também.
    Meus parabéns pelas suas exposições e das imagens únicas, Pércio! !!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Carlos.
      Eu só fico imaginando as maravilhas que os chineses devem estar criando com a grande quantidade de ágata que importam do RS...

      Excluir
  4. Adorei a postagem! Tenho uma coleção de ágatas que coleto no Mato Grosso do Sul! São surpreendentes mesmo como vc disse!!

    ResponderExcluir
  5. Estive com o Prof. Cassedane, no Sitio Garguelo, quando da coleta destas amostras de ágatas poliédricas. Intrigante a formação.

    ResponderExcluir
  6. Como sempre,muito obrigado pela ótima aula de sua terra, da terra das Ágatas, Rio Grande do Sul. Parabéns.

    ResponderExcluir