Considero a ágata surpreendente por vários motivos, mas principalmente porque é infinita sua capacidade de nos surpreender com seu arranjos de formas e cores. Se um colecionador de minerais quiser colecionar só ágatas, ele poderá formar uma grande coleção. Se quiser manter um blog como este escrevendo apenas sobre ela, provavelmente irá conseguir, pelo menos por um bom tempo.
A
ágata surpreende também por sua origem, mas, não vou falar sobre isso. Primeiro
porque conheço menos sobre esse assunto do que gostaria de conhecer. Segundo
porque, como disse Prashnowsky, em 1990, seu processo de formação “é um dos
mais fascinantes problemas”. Mas, se
algum leitor tiver boas informações sobre o tema, por favor me mande.
Entre
as muitas variedades de quartzo, há um grupo que reúne as variedades
criptocristalinas, aquelas que formam cristais invisíveis a olho nu. Estão
nesse grupo o ônix, a cornalina e a ágata.
O que
caracteriza esta última gema é sua formação em camadas plano-paralelas ou concêntricas
que se traduzem, quando ela é serrada, em faixas de cores ou tons variados, formando
desenhos muito diversificados, a ponto de se poder dizer que não há duas ágatas
que sejam iguais.
Ela se forma normalmente preenchendo cavidades de rochas, principalmente nas vulcânicas, e sua forma externa traduz a forma da cavidade em que se originou.
Os padrões de preenchimento
Para início de conversa, o preenchimento da cavidade da rocha pode ser total ou parcial; pode ser todo com camadas plano-paralelas, todo em camadas concêntricas ou ambos os tipos, com uma camadas concêntricas na parte externa e plano-paralelas no centro.
Vejam
um exemplo de preenchimento quase 100% plano-paralelo.
Se o preenchimento
não é total, fica um espaço vazio (às vezes mais de um), que pode conter
ametista, quartzo incolor, calcita, zeólitas ou outros minerais.
Às
vezes o preenchimento começa a se dar por camadas concêntricas, mas lá pelas tantas, além de elas passarem a ser plano-paralelas, destroem parcialmente o arranjo original.
A
superfície externa da ágata é arredondada, mas ela pode ter forma muito diferente
da esférica, sendo frequentemente bem alongada. E pode ser bem irregular, como
a da foto a seguir.
As cores
As
muitas ágatas de cores rosa, verde, azul ou roxa vistas no mercado são obtidas
por tingimento (mas, em Queensland, na Austrália, há uma ágata azul que é única
no mundo). Como ela é porosa, quando suas cores são pouco atraentes pode ser tingida,
obtendo-se assim resultados às vezes muito bons. Para isso, a ágata é
imersa, depois de lapidada, em uma solução corante, onde fica por várias
semanas, absorvendo o corante, que colore apenas uma porção de alguns
milímetros de espessura da sua parte externa. Se o tingimento for feito aquecendo
a solução, o processo se torna mais rápido, mas a cor obtida pode não ser estável.
É
importante destacar que esse tingimento, praticado desde o século XIX, não é
uma fraude. É um tratamento de gema bem conhecido e que os produtores não escondem. E é tão comum, que a gema tingida tem o mesmo preço de mercado que a de cores naturais.
Cerca
de 90% das ágatas são tingidas, mas, no Rio Grande do Sul, essa porcentagem
chega a apenas 40%, já que as belas cores naturais das gemas daqui dispensam o
tingimento.
Abaixo,
duas ágatas de cores naturais, procedentes do Rio Grande do Sul.
As seguintes são peças tingidas, também do RS.
Mas, devo lembrar que existe a lindíssima ágata-íris, que mostra as belas cores do arco-íris (foto obtida na internet, sem autoria e sem procedência da ágata).
Dimensões
Uma maneira fácil e eficiente de exibir as cores dessa gema é cortá-la em fatias, com serra diamantada e a seguir dar-lhe polimento. Isso mostra muito bem os padrões de preenchimento e as cores. Essas chapas podem medir desde 4-5 cm de diâmetro até em torno de 1 m, estas encontradas também aqui no Rio Grande do Sul. As da foto abaixo estavam à venda, anos atrás, na Exposol, em Soledade (RS). Para ter ideia melhor do tamanho, saibam que o moço simpático da foto mede 1,80 m de altura.
A ágata abaixo é incrível. O material que reveste o “pássaro”
pode até ser artificial, mas o interior sem dúvida é uma ágata em forma de pássaro (Facebook, sem procedência).
Esta
outra pode não primar pela beleza, mas sim pela complexidade de seu
preenchimento, um belo desafio a que estuda o assunto.
Os objetos decorativos de ágata
As chapas polidas de que falamos são boas para mostrar as cores e arranjos, mas são uma maneira muito simples de aproveitar a ágata. Ela se presta muitíssimo bem à obtenção de objetos decorativos como pirâmides, apoios para livros (úteis e bonitos, mas que aproveitam mal a gema), caixas, alianças, maçanetas, cabos de talheres, etc. uma variedade de usos cujo único limite é a criatividade de quem os faz.
As ágatas poliédricas
A dúvida persistiu até eu ler artigo do Prof. Jacques Pierre Cassedane, intitulado Les agates du Sítio Garguelo – Municipe de Cachoeira dos Índios – Paraíba, publicado em 1984. Nele, o Prof. Cassedane analisou nada menos de oito possíveis origens, propostas por outros pesquisadores, descartando todas elas. Uma das origens preconizadas era aquela que eu imaginava, espaço vazio entre várias fraturas na rocha.
Não
vou expor aqui sua teoria, mas quero dizer que ele reconhece ser uma histoire géologique compliquée e
passível de ser retomada e completada no futuro.
E
esta história très compliquée me
acompanha há 54 anos...
CRÉDITOS: salvo informação em contrário, fotos de Pércio de Moraes Branco, de peças de sua coleção de minerais.
Se a Ágata for tingida por um sal e for depois aquecida, o sal passa a óxido e a cor se torna permanente.
ResponderExcluirAgora, uma pergunta: porque a Agatha de cor cinza é chamada UMBU?
Para quem conhece a fruta umbú, tão comum no nordeste, nada a ver!!!
Miguel M Suza
Certo, Miguel. O tratamento muitas vezes envolve aquecimento após o tingimento, assim como tratamento com ácido antes dele. Não entrei em detalhes porque a postagem já estava muito longa.
ResponderExcluirO nome ágata Umbu deriva do nome de uma fazenda. Umbu é, aqui no Rio Grande, o nome de uma árvore de grande porte. A gostosa frutinha a que você se refere nunca vi aqui.
Que ótimo saber das novidades e versatilidades em criar com a Ágata (por vezes prontas naturalmente ). Possibilita muita criatividade dos trabalhos praticados pelo lapidador.
ResponderExcluirNa Alemanha a usavam e usam na glíptica também.
Meus parabéns pelas suas exposições e das imagens únicas, Pércio! !!
Obrigado, Carlos.
ExcluirEu só fico imaginando as maravilhas que os chineses devem estar criando com a grande quantidade de ágata que importam do RS...
Adorei a postagem! Tenho uma coleção de ágatas que coleto no Mato Grosso do Sul! São surpreendentes mesmo como vc disse!!
ResponderExcluirObrigado, amiga. Um abraço.
ExcluirEstive com o Prof. Cassedane, no Sitio Garguelo, quando da coleta destas amostras de ágatas poliédricas. Intrigante a formação.
ResponderExcluirGostaria de ver aquilo, Sebastião...
ExcluirComo sempre,muito obrigado pela ótima aula de sua terra, da terra das Ágatas, Rio Grande do Sul. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado, Afonso. Um grande abraço.
Excluir