No
início da madrugada do dia 1º de outubro, um meteorito pesando possivelmente sete
a dez toneladas, caiu na região entre Lagoa Vermelha e Vacaria, provavelmente no
município de Muitos Capões, no nordeste do Rio Grande do Sul.
Ele
causou uma explosão tão grande antes de chegar ao solo que impediu de se ver as
estrelas no momento em que ela ocorreu. Isso dificultou, num primeiro momento, definir
o que se chama de elipse de dispersão dos seus fragmentos. Além disso, não havia dados sobre os ventos na região, e eles afetam bastante a
trajetória dos fragmentos menores. Porém, dados coletados pela Rede
Brasileira de Observadores de Meteoros permitirão que seja definida sua
trajetória. Por enquanto, está sendo considerada elipse de dispersão a área
mostrada na imagem de satélite abaixo (Vacaria é a cidade no centro e bem à direita). A
provável trajetória dele está na imagem seguinte (ambas fornecidas pela citada
rede).
A busca pelo meteorito começou logo após sua queda, mas até dia 11 de outubro ainda não tínhamos nenhuma notícia de que alguém houvesse encontrado pelo menos um pequeno fragmento dele.
O
grande clarão, que várias câmeras captaram, indica que era um meteoro grande. Mas, há vários fatores que podem
estar dificultando a descoberta. Conheço
bem a região Vacaria – Lagoa Vermelha e sei que são numerosas ali as áreas de
lavoura, o que dificulta o acesso e a visualização de fragmentos. Além disso,
informações que recebi – ainda não confirmadas – dão conta de que havia vento
muito forte na hora da queda. Desse modo, o melhor é buscar fragmentos ao longo
das estradas.
Procurar
um meteorito ou mesmo pequenos fragmentos dele é muito importante porque esses
corpos rochosos têm um grande valor científico e podem ter também um grande
valor de mercado, pois há muita gente que os coleciona e compra. A importância
científica advém do fato de eles serem material com a idade da formação do
nosso sistema solar (4,6 bilhões de anos).
Assim, cada um que se coletar é um dado a mais no estudo do nosso
planeta e dos demais que circundam o Sol.
É importante que a busca seja iniciada tão logo esteja definida a elipse de dispersão, porque a grande maioria dos meteoritos se altera facilmente por ação do intemperismo (chuva e sol, por exemplo), passando a se assemelhar a uma rocha comum (a menos que caia num deserto).
Para
a ciência, o tamanho dos fragmentos coletados não importa muito, pois os
pequenos e os grandes têm a mesma composição. Para colecionadores, sim, quanto
maior ele for maior seu valor comercial e museológico. O meteorito de que
falamos poderá ser encontrado em fragmentos de até talvez dezenas de quilos,
mas deve-se começar procurando aqueles entre dez e oitenta gramas. À medida em
que forem sendo encontrados, ficará mais fácil saber onde procurar os maiores.
A
imensa maioria dos meteoros se fragmenta de modo explosivo ao atingir camadas
mais baixas da atmosfera. A pressão aerodinâmica sobre eles se torna tão
intensa que se rompem, caindo no solo em
incontáveis pedaços (que só então passam a ser chamados de meteoritos). Há poucos casos de meteoros que chegaram até
à superfície sem explodir, abrindo crateras no solo.
A
Rede Brasileira de Observadores de Meteoros foi criada em 2014 por Carlos
Augusto Di Pietro, que mora em São Paulo. Ela reúne 118 operadores, que
monitoram 185 estações em 21 estados. Os operadores são as pessoas que instalam
as estações e divulgam os dados coletados por sua(s) câmeras(s) de
monitoramento ligada(s)a um computador. A rede usa a sigla Bramon (de Brazilian
Meteor Observation Network), não tem fins lucrativos e fornece informações
gratuitas para todo o Brasil e outros países.
Geralmente
um operador da rede possui uma só câmera. Mas, alguns possuem até dez
equipamentos desses, como Carlos Fernando Jung, de Taquara (RS), que
possui doze dessas câmeras, cobrindo todo o céu.
A
instalação de uma estação é simples e custa entre R$ 300,00 e R$ 1.000,00,
informa Carlos Di Pietro. A Bramon conta com pessoal que orienta sobre como
fazer isso. A estação pode ser instalada, inclusive por quem mora em apartamento.
Com
os dados de duas dessas câmeras, desde que afastadas pelo menos 100 km uma da
outra, já dá para traçar a trajetória do meteoro e definir o local de sua
queda.
Quem quiser procurar fragmentos de um meteorito caído recentemente, deve buscar pedaços de rocha como os da foto abaixo.
Eles são escuros na superfície, com depressões (chamadas regmaglitos) semelhantes às que se formam quando se pressiona uma argila com os dedos. No interior, porém, costumam ser semelhantes a um pedaço de cimento. Deve-se procurar fragmentos pequenos, pois, embora sejam mais difíceis de serem visualizados, para cada fragmento de 500 gramas deve haver uns mil menores.
O
melhor lugar para procura, na elipse de dispersão, são as estradas. Se choveu
depois da queda, olhar com cuidado as valetas por onde escorre a água da chuva.
Quem
encontrar um fragmento de possível meteorito deve fotografá-lo e enviar a foto
ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde trabalha astrônoma Maria
Elizabeth Zucolotto, a maior especialista em meteoritos do Brasil. O Museu
possui um dos poucos laboratórios do mundo capazes de identificar e atestar a
autenticidade desse material. Se ela achar que pode ser de fato um meteorito,
recomenda-se enviar um fragmento que deve ter pelo menos 30 gramas, já que 5 a 10 gramas são usados para análise e 20
gramas devem ficar depositados no Museu.
Os
meteoritos recebem sempre o nome da localidade onde foram encontrados. Assim,
talvez eu tenha em breve a satisfação de saber que foi encontrado o meteorito Lagoa
Vermelha, nome da cidade em que eu nasci.
Quisera eu possuir um meteorito...Aula rara, parabéns. Lagoa Vermelha está te chamando...
ResponderExcluirObrigado, Afonso.
ResponderExcluirantes do incêndio, o Museu Nacional doava pequenos fragmentos do Bendengó. Talvez ainda façam isso, inclusive com outros meteoritos. Tenta lá.
Muito bom saber mais sobre os meteoros e meteoritos, Pércio!
ResponderExcluirFaço votos que logo identifiquem o meteorito com o nome da sua cidade.
Seria muito bom!
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