Quando decidi vender minha primeira coleção de
minerais (1.350 peças de um total de 1.500), em 1996, minha maior dificuldade
foi estabelecer seu valor. Cerca de 1/3
dos meus minerais eu próprio havia coletado; 1/3 eu havia obtido por troca
e só o 1/3 restante eram minerais que haviam sido comprados. Mesmo para os minerais
obtidos por compra era difícil estabelecer um valor porque eu não havia anotado
o preço pago ou anotara, mas em moeda nacional, em uma época de inflação
galopante.
Porto Alegre, onde eu moro, tem hoje um número
muito reduzido de lojas que vendem minerais para coleção o que torna impossível
estabelecer um preço de mercado para eles, a não ser, talvez, para daqueles
produzidos no Rio Grande do Sul. Na época em que vendi a coleção, as lojas eram
ainda menos numerosas. Na verdade, eu conhecia só duas, e uma delas era
minúscula.
Isso se justifica: a tribo dos colecionadores
de minerais é ainda muito pequena neste estado, mesmo na capital. E talvez o seja
também em outros estados, ao contrário do que acontece em países como Estados
Unidos, Canadá e Itália, por exemplo.
Após um bom tempo pensando em como estabelecer
o preço da coleção, decidi adotar o seguinte critério: o preço de cada peça seria
o preço que eu estaria disposto a pagar caso fosse comprá-la. Sobre o total assim obtido, eu poria um acréscimo
como margem de negociação.
A experiência como coordenador de um Museu de
Geologia, porém, fez-me ver que o valor era bem maior. De fato, em qualquer acervo, seja particular
ou de museu, o valor total é maior que a soma dos valores das peças que o compõem. Por quê?
Por várias razões:
1º Há que se levar em conta o valor do conjunto. Uma coleção de minerais variados pode valer menos
que uma coleção menor de minerais de um grupo específico. Por isso, sempre
oriento quem coleciona minerais a optar, mais cedo ou mais tarde, por um ou
alguns grupos de minerais. Colecionar de tudo permite ter uma coleção grande,
mas não necessariamente uma grande coleção.
Nesse aspecto, meu acervo era misto:
eu tinha uma quantidade bem grande de espécies variadas, mas, entre as 1.350
peças que eu pretendia vender, havia um grupo bem específico de mais de cem, formado
por minerais raros a extremamente raros, daqueles de que a imensa maioria dos
geólogos sequer haviam ouvido falar alguma vez, como campigliaíta,
balangeroíta, walstromita, peretaíta, carfolita, etc. E estes eram justamente os mais difíceis de
avaliar em termos de preço.
2º Ao valor das peças do acevo, eu devia acrescentar
algo pelo fato de todas elas estarem devidamente identificadas, a grande
maioria com a procedência geográfica estabelecida.
3º Há que considerar ainda, na avaliação de um
acervo, o trabalho que se teve para reuni-lo e conservá-lo.
Levando em conta isso, pedi pela
coleção o dobro do que eu considerava o valor comercial do acervo e a ela assim
foi vendida. O Prof. Paulo Neves, que intermediou a transação, várias vezes me
disse que eu a vendi barato. Pode ser, mas nunca me arrependi (com o valor da
venda, pude dar um carro 0 km para minha filha e ainda sobrou num pouquinho).
Bem, mas tudo que escrevi até aqui não esclarece
o principal e que é o início de tudo: como avaliar cada peça da coleção.
Pois
depois de 47 anos colecionando minerais, descobri, no ano passado, que existe
uma tabela de preços para cerca de 2.300 minerais de coleção. Trata-se do Standard Mineralogical Catalogue, do qual adquiri, em 2014, a 8ª
edição, de 1987. A compra foi feita através da Amazon e acredito que a obra não
exista nas livrarias brasileiras. O catálogo é elaborado por E. G. Brazeau e L.
S. Brazeau e editado por Mineralogical Studies, de Karnersville (NC).
Ele classifica os minerais para coleção em três
categorias: cristais isolados ou com matriz inferior a 10% do volume total; cristais
na matriz, em que esta é 10% ou mais do volume total e minerais maciços.
Abaixo, temos exemplo de cristais isolados, no caso de topázio.
Estabelecido a qual delas a peça pertence,
vem a seguir o critério do tamanho da peça. Aí, o catálogo estabelece cinco categorias,
bem conhecidas dos colecionadores que fazem intercâmbio com parceiros dos
Estados Unidos: micromount (1/2
polegada ou 1,25 cm); thumbnail (1
polegada ou 2,5 cm); miniature (2 polegadas
ou 5 cm); small cabinet (3 polegadas
ou 7,5 cm) e cabinet (4 polegadas ou
10 cm).
Os
preços do catálogo, é claro, são dados em dólares norte-americanos.
Há uma seção do catálogo, com 5,5 páginas, que
traz uma tabela de preços de minerais que por alguma razão são considerados
excepcionais. Isso pode acontecer por provirem de uma ocorrência clássica; por
serem excepcionais em pureza, tamanho, forma ou cor ou por serem peças capazes
de ganhar um prêmio numa exposição de minerais (um tipo de premiação que não
existe por aqui).
Uma outra seção, um pouco maior, mostra preços
de minerais brutos lapidáveis, ou seja com qualidade gemológica.
O catálogo tem 94 páginas e sua consulta não é
muito amigável, pois as letras são bem pequenas e o texto, muito compacto. Mas, é uma fonte muito mais confiável do que o
critério tão subjetivo que eu usei para avaliar a coleção que vendi.
Excelente texto amigo! Eu como colecionador enfrento problemas com meu acervo que cerca 1500 amostras destas umas 300 ou 400 sao minerais que pagaria e ou paguei mais de 100 reais ou ate mais e como coleto e compro sempre procuro convencer minha esposa que nao joguei dinheiro fora e que um dia possa ser valorizado esse meu hobbie. Tambem vendi 3 lotes de 4 mil e repus meu acervo com amostras boas. Agora to fazendo umacoleçao tematica dos minerais de ferro nao valorizados nas regioes aqui de Ouro Preto, com Magnetitas octaedricas bem terminadas e umas ate gigantes, lindas Limonitas em drusas e solteiras, dodecaedricas, esfericas e cubicas, Goethitas radiadas e botrioidais, Hematita var Especularitas bem formadas,ou seja, minerais que sumiram das lojinhas de Ouro Preto por considerarem sem valor. Totaluza-se 200 amostras que julgo excelentes e quero vender para uma algum acervo e seu artigo me orientou muito a dar valor no que aos poucos coletei e comprei...Obrigado! Do amigo Toninho
ResponderExcluirParabéns, É por aí que se faz uma boa coleção. Eu tb. tive problemas de espaço quando minha coleção chegou a 1.500 peças. Vendi 90% delas, mas em pouco tempo cheguei a 1.000, principalmente gemas, os minerais mais úteis aos cursos que eu dava.
ExcluirUm abraço.