quarta-feira, 9 de março de 2011

MORRE UMA BRASILEIRA POUCO CONHECIDA, MAS DIGNA DE ELOGIOS

Morreu no dia 3 de março último, uma brasileira pouquíssimo conhecida em nosso país, embora tenha recebido importantes homenagens em outros países quando era ainda viva. Trata-se de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, viúva do escritor João Guimarães Rosa, ele sim, celebridade nacional.

Aracy até mereceu um verbete na Wikipédia em Português, mas a escassez de dados biográficos era tão deplorável que a própria enciclopédia informava Essa página está uma pobreza. Deixou de ser pobre em março de 1910, quando melhoramos e ampliamos as informações ali contidas

Nascida no Paraná em 1908, Aracy tinha 102 anos de idade, sofria de Mal de Alzheimer e morreu de causas naturais. Sua morte não mereceu nenhum destaque na mídia do Rio Grande do Sul, e provavelmente do Brasil todo. Vimos apenas um breve obituário no jornal Zero Hora.

O que fez ela de notável ?

Sua mãe era alemã e Aracy foi morar com uma tia na Alemanha após separar-se do primeiro marido. Por falar quatro idiomas (português, inglês, francês e alemão), conseguiu uma nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde era chefe da Seção de Passaportes.

Em 1938, um ano antes do início da II Guerra Mundial, entrou em vigor, no Brasil, a Circular Secreta nº 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou o documento e continuou preparando vistos para eles, permitindo sua entrada no Brasil. Como despachava com o cônsul geral, colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra J, que identificava quem era judeu.

Nessa época, o escritor João Guimarães Rosa era cônsul adjunto e só posteriormente viria a ser seu marido. Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte.

Aracy permaneceu na Alemanha até 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com aquele país e passou a apoiar os Aliados.

Muitos anos depois, ela ajudou também compositores e intelectuais durante o regime militar implantado no Brasil em 1964, entre eles Geraldo Vandré, de cuja tia era amiga.

Em 8 de julho de 1982, Aracy Guimarães Rosa recebeu o prêmio Justos entre as Nações, tendo seu nome inscrito no Memorial do Holocausto (Yad Vashem), em Israel. Na mesma ocasião, recebeu o mesmo prêmio o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas.

Pelo menos no Dia Internacional da Mulher, ontem comemorado, seu falecimento e sua ação humanitária bem que podiam ter merecido mais que pequenas notas em jornais.

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