Entre as piadas mais antigas ouvidas no Brasil, estão aquelas de português. E nossos irmãos lusitanos dão o troco, contando piadas de brasileiros. Essa gozação com a gente de outros países é o que elegantemente se chama de humor étnico. Atualmente a “moda” no Brasil não é mais piada de português, e sim piada de argentino. Elas correm soltas na internet, por exemplo, e, na época da Copa do Mundo, só aumentaram.
Isso que nós fazemos com os portugueses e agora mais ainda com os argentinos, existe em todo o mundo. Quem vê filmes norte-americanos, por exemplo, sabe que eles gozam com a cara dos mexicanos. Mas, não só deles: também dos poloneses, que consideram burros, e dos chineses, porque comem carne de cachorro.
O humor étnico existe não apenas em um país com relação a outro, mas também dentro de suas fronteiras. No Rio de Janeiro, por exemplo, são alvo de gozação (ou eram pelo menos anos atrás) os baianos. Aquelas manobras no trânsito sabidamente proibidas, mas que muitos de nós fazemos, são chamadas, no Rio, de baianadas.
Zombar de outros povos pode ser só brincadeira, mas trata-se de antilocução, o primeiro estágio da Escala de Preconceito e Discriminação, criada pelo sociólogo norte-americano Gordon Allport. Nada indica que a gozação dos brasileiros para cima dos argentinos tenha uma tendência a passar disso, porém a escala de Allport tem cinco níveis: Antilocução, Esquiva, Discriminação, Ataque Físico e Extermínio.
No primeiro e menos grave, o grupo alvo da agressividade é objeto de piadas, preconceito e frases insultuosas. No segundo nível, a esquiva, passa a ser ativamente evitado. Subindo na escala, passa a haver discriminação ostensiva, como havia na África do Sul. Vem depois o ataque físico, como foram os linchamentos de negros nos EUA, e, por fim, a tentativa de extermínio, sendo exemplos o Holocausto e, mais recentemente, a “limpeza étnica” na Bósnia.
Piadas e anedotas são uma forma de humor, politicamente incorreta, mas humor apenas. Se elas, porém, passam a ser muito frequentes, corre-se o risco de passar a crer que as pessoas alvo desse humor são realmente como as anedotas as retratam. E aí a coisa começa a ficar perigosa. Portanto, o melhor mesmo é procurar outro tipo de piada, para não correr o risco de ofender ou de reforçar preconceitos.
Hoje com essa histeria de "politicamente correto" ocorrem alguns exageros, até mesmo uma eventual brincadeira entre amigos pode ser interpretada por um terceiro como um ato de preconceito, e a uma piada que não seja apelativa demais (caso daquelas fazendo referência à prática de crimes como em piadas de negro ou a uma morte violenta como em algumas piadas de extremo mau gosto sobre o Holocausto) vem sendo dado o mesmo tratamento que a uma agressão física por motivação racial ou religiosa.
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