quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RIQUEZA QUE NÃO APARECE

A recente divulgação do ranking dos municípios gaúchos de acordo com o PIB (produto interno bruto) de 2008 permite constatar algumas realidades desoladoras e, ao mesmo tempo desfazer alguns mitos. Comecemos por estes.

Quando se fala em produção de pedras preciosas no Rio Grande do Sul, muitas pessoas – boa parte delas bem informadas - pensam logo em Lajeado e Soledade. E aí estão dois enganos: embora nosso estado seja o segundo maior produtor brasileiro de gemas, atrás apenas de Minas Gerais, essa produção encontra-se principalmente em Ametista do Sul (maior produtor de ametista) e Salto do Jacuí (maior fornecedor de ágata). Lajeado e Soledade são importantes centros de beneficiamento e comercialização, mas não de produção. E Lajeado hoje é muito menos importante do que foi no passado, voltada que está mais para a indústria de alimentos.

Uns 40 anos atrás, Soledade assumiu a liderança e em 1997 pertenciam ao setor de gemas as quatro maiores empresas do município e oito das nove maiores. Na mesma época, Lajeado tinha apenas uma empresa trabalhando com gemas entre as cem maiores do município. Segundo um empresário de Soledade, há hoje na cidade cerca de 80 empresas que lidam com pedras preciosas, 50 delas com vendas no varejo.

A primeira constatação desoladora é que o Brasil cresceu 5,2% no período, enquanto o Rio Grande do Sul avançou só 2,7%, metade, portanto, do índice de crescimento nacional.

Como estão, nesse panorama, os municípios ligados ao setor de gemas ?

Lajeado está bem, é o 21º colocado entre os 496 municípios gaúchos. Mas, isso deve-se certamente não às gemas, mas à diversificação que a economia municipal mostra hoje, muito apoiada na indústria alimentícia. Soledade é o 102º colocado, e aí já se começa a ver que gemas não são um grande gerador de riquezas, até porque sua extensão territorial é bem maior que a de Lajeado.

Salto do Jacuí tem em seu território uma grande hidroelétrica (e, nela, o maior lago artificial do Estado) e, sendo o maior produtor brasileiro de ágata, podia escolher entre dois títulos: “Capital Gaúcha da Energia Elétrica” ou “Capital Brasileira da Ágata”. Sensatamente, optou pelo primeiro, pois eletricidade é um insumo de demanda sempre crescente enquanto a ágata está sujeita a variáveis que vão desde a flutuação cambial até a influência da moda. O município situa-se em 143º lugar de acordo com PIB estadual e não temos dúvida de que essa colocação seria muito pior não fosse a produção de energia elétrica. Aliás, com a queda na cotação do dólar ocorrida nos últimos anos, vários garimpos de ágata estão paralisados.

Por fim, temos Ametista do Sul, simpática cidadezinha que a cada nova visita que fazemos se mostra maior, mais organizada e mais desenvolvida. É o maior produtor brasileiro da bela ametista que lhe dá o nome, com uma igreja toda revestida internamente com esta pedra preciosa, mas situa-se apenas em 348º lugar no ranking dos municípios gaúchos. Para quem conhece o enorme volume de ametista ali produzido, o igualmente enorme volume que é exportado, e sobretudo, o preço que atinge a ametista depois de lapidada e montada numa joia, é desolador ver como isso gera tão escassa riqueza para o povo que a produz com tanto esforço...

Consola um pouco - mas só um pouco - saber que o município cresceu 6% em 2008, um pouco mais que a média brasileira. É indispensável, porém, lembrar que essa economia está calcada em um recurso natural não renovável, que mais cedo ou mais tarde, portanto, deixará de existir.

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