Todas as rochas pertencem a uma de três categorias: ígneas, metamórficas ou sedimentares.
Rochas ígneas são aquelas primárias, as que se formam pelo resfriamento e solidificação de um magma, no interior da crosta terrestre (como o granito) ou na superfície (como o basalto).
Rochas metamórficas são aquelas
que se formam por alterações físicas e/ou químicas de uma rocha pré-existente, principalmente por
ação de pressão e calor. Exemplos bem conhecidos são o
mármore e o gnaisse.
Rochas sedimentares são as formadas
pela desagregação, transporte, deposição e compactação de fragmentos de rochas pré-existentes, chamados sedimentos (o processo pode ser diferente, mas estas são
de longe as mais importantes). Exemplo bem conhecido é
o arenito, que se forma pelo transporte, deposição e compactação
de areias.
Qualquer um
desses tipos de rocha pode ser transportado por
uma placa tectônica e chegar a uma zona de subducção, onde mergulha
rumo ao manto terrestre, e ali funde para depois ressurgir em algum lugar da crosta como nova rocha ígnea.
Algumas semanas atrás, acordei no meio da madrugada pensando que nós somos, de certa maneira, como as rochas. No nosso nascimento, infância e juventude, somos rochas ígneas: jovens, fortes, vigorosos, cheios de energia. Somos o início de um processo que é a nossa vida na Terra.
Na idade adulta, somos mais como rochas metamórficas, carregando conosco as marcas das transformações que sofremos ao longo da vida. Marcas deixadas pelas pressões a que fomos submetidos, pela dor, pelo sofrimento, pelos períodos estressantes da nossa caminhada. Mas, também marcas das mudanças que fizeram de nós pessoas mais sensíveis, mais humanas, mais tolerantes e pacientes. Pessoas em resumo, melhores. Somos, portanto, nesta fase, rochas metamórficas, que exibem o registro do que vivemos ao longo desta caminhada terrena.
Com a chegada
da velhice e antes mesmo dela, o desgaste físico e emocional
a que fomos submetidos começa a se manifestar. Perdemos
dentes, cabelos, massa corporal, massa óssea, altura,
peso. São partes de nós que vão ficando pelo caminho.
É a deterioração inevitável de uma máquina maravilhosa, mas que tem
um prazo de validade, por maior que ele seja. E esses pedaços de nós
que vão ficando pelo caminho (às vezes radicalmente, através
de cirurgias) são como os sedimentos, o produto da erosão
natural, da nossa desagregação física. Um dia, nosso corpo sucumbirá totalmente, e
tudo o que dele restou também se transformará em sedimento.
Esses
nossos sedimentos começam a passar pelo
lento processo que poderá transformá-los um
dia em uma rocha sedimentar. Assim como os fragmentos
de rocha são transportados, depositados e compactados numa bacia sedimentar, gerando uma nova rocha, nossos atos, exemplos e obras perduram após nossa morte física e constituem nossa
memória, a rocha sedimentar que mostra
quem fomos, o que fizemos, as obras e ensinamentos que deixamos.
Isto é o fim? Não! Um dia, a
placa tectônica da vida levará essa rocha que fomos para uma zona de
subducção, onde se desmanchará no manto do mundo espiritual. Para alguns,
isso é o fim da nossa estada na crosta
terrestre; para outros, porém, entre os quais me incluo, é na verdade apenas um
retorno.
Os que acreditam que é não o fim de
tudo, mas apenas o término de mais um ciclo, acreditam também que o magma em
que nos transformamos originará um dia uma nova rocha
ígnea, ressurgindo na crosta terrestre. Será então o começo de outro ciclo como rocha, ou seja, o começo de uma nova
encarnação nesta nossa caminhada evolutiva sem fim.
Magnífica Analogia! Parabéns Pércio👏👏👏👏👏👏👏👏🙋♂️
ResponderExcluirObrigado, colega!
ResponderExcluirFoi uma noite boa aquela...
Pércio.
ResponderExcluirBrilhante e emocionante a tua analogia.
Meus parabéns geólogo "ss", que continues com o brilho dos teus textos a iluminar o caminho daqueles que tiveram o prazer de te conhecer.
Obrigado, amigo(a).
ResponderExcluirAchei bonita e incentivadora sua mensagem.
Pércio
ResponderExcluirSenti um enorme prazer em ler teu texto sobre a analogia entre nós, seres humanos, e as rochas.
Espero, ou melhor, torço para que eu possa ler novos textos teus, inspirados como esse último.
Obrigado.
ResponderExcluirO sono nos traz às vezes belas surpresas.
Espero ter novas experiências como esta.
Jamais me havia ocorrido alguma ligação entre nossa jornada terrena e a formação das rochas.