Fugindo um pouco da temática deste blog,
que são os minerais e em especial as gemas, mas ficando ainda dentro da
Geologia, quero contar a história do dia em que Porto Alegre (RS) tremeu com um
terremoto.
Em 8 de junho de 1994, esta cidade foi
atingida pelas ondas sísmicas provocadas por um abalo que ocorreu na Bolívia, a
2.200 km daqui.
O abalo, que atingiu 7,8 graus na Escala
Richter, foi mais forte que outro, ocorrido nos Estados Unidos em janeiro
daquele ano, e que, com uma magnitude 6,6 destruiu diversos bairros de Los
Angeles. O terremoto da Bolívia, porém, teve consequências bem menos sérias
porque seu hipocentro (local no interior da Terra onde ele ocorre; não
confundir com epicentro) situou-se a grande profundidade, 600 km abaixo da
superfície.
Em 90% dos casos, a magnitude de um terremoto
não passa de 7,0 graus. Deve-se lembrar que a Escala Richter é uma escala
logarítmica. Isso significa que a magnitude 7,0 é dez vezes maior que a 6,0,
cem vezes maior que a 5,0, mil vezes maior que a 4,0, e assim por diante.
Essa escala avalia os terremotos de
acordo com a energia liberada ou, mais precisamente, de acordo com a amplitude
das ondas sísmicas que eles provocam. Em áreas urbanas, como Porto Alegre,
a importância do terremoto é avaliada de modo mais apropriado se se usar a Escala
de Mercalli, que classifica os sismos de acordo com os efeitos que eles
provocam sobre a população e as edificações. O sismo de 08.06.1994 foi sentido
desde o Canadá até à Argentina. Em Porto Alegre, ele:
- foi sentido
por algumas pessoas (não pela maioria);
- fez sacudir
lustres e objetos suspensos;
- fez vibrar
móveis nos andares mais altos de alguns edifícios;
- fez girar
ventiladores que estavam des-ligados.
Esses sinais
permitem dizer que o abalo teve uma intensidade IV na Escala de Mercalli, que
varia de I a XII, sendo por isso classificado como moderado.
A Escala
Richter, ao contrário da Escala de Mercalli, não tem um limite definido,
entretanto, nunca se registrou um terremoto com magnitude 10,0. A mídia
brasileira muitas vezes informa erroneamente que a escala vai até 9,0, mas ela
não tem limite, nem superior, nem inferior.
O terremoto
boliviano de que estamos falando levou 5min 38s para ser sentido em Porto
Alegre. Este foi o tempo que as ondas sísmicas, viajando a 6,5 km/s, levaram
para percorrer os 2.200 km que nos separam do seu epicentro (ponto da
superfície situado exatamente acima do hipocentro).
Origem dos terremotos
A crosta
terrestre, camada rígida e mais superficial da Terra, está dividida em blocos,
chamados placas tectônicas. Essas placas movem-se muito lentamente
(alguns centímetros por ano) e podem se chocar umas contra as outras. Daí,
surgem os terremotos. A América do Sul é uma dessas placas e desloca-se para
Oeste. Nesse movimento, afasta-se da placa onde está a África, à qual já esteve
unida no passado, e choca-se com a placa de Nazca, que forma parte do fundo do
oceano Pacífico. Desse choque, surgiu a cordilheira dos Andes, um amarrotamento
da crosta terrestre. Isso explica por que ocorrem fortes terremotos nos países
andinos, mas apenas abalos pouco intensos no Brasil.
Sismógrafos e sismogramas
Os terremotos
são registrados e estudados nas estações sismográficas. Em 1994, a única
dessas estações existente na Região Sul estava em Porto Alegre. Hoje, só no Rio
Grande do Sul existem três.
Nas estações sismográficas, aparelhos
chamados sismômetros medem os terremotos e outros, chamados sismógrafos,
registram seus efeitos numa folha de papel. Esse registro é chamado de sismograma.
O sismograma
é desenhado por uma agulha que se apoia sobre um papel, que, por sua vez, envolve
um cilindro giratório em posição horizontal (na verdade, em posição muito
levemente inclinada). À medida que o cilindro vai girando, a agulha vai
desenhando o sismograma, através de movimentos em zigue-zague. Quando não há
atividade sísmica (abalos), a linha é praticamente reta. Quando os abalos
surgem, a agulha começa a dar saltos, movendo-se horizontalmente.
A figura
abaixo mostra o sismograma do terremoto de que estamos falando, conforme foi
registrado em Porto Alegre. Nele, cada linha longitudinal (vertical) está
separada das linhas vizinhas por um intervalo de tempo de 5 min. As linhas
transversais (formadas por pequenos saltos da agulha) distam 10 s das linhas
transversais vizinhas.
O papel onde
foi registrado o sismograma, como dissemos, envolvia um cilindro giratório. Ele
girava de baixo para cima. Os traços vistos no sismograma formaram-se da direita
para a esquerda, de cima para baixo. Vinham-se formando linhas praticamente
retas, mas exatamente às 21h 37min 28s começou a ação frenética da agulha,
desenhando o nervoso zigue-zague. Lembrando: esse não foi o momento exato do
início do terremoto, mas o momento exato em que as ondas sísmicas chegaram à estação sismográfica de Porto Alegre.
Para encerrar,
uma curiosidade: no dia 7 de setembro de 2001, um milhão de crianças do
Reino Unido pularam nos pátios de suas escolas ao mesmo tempo para tentar
provocar um terremoto. A iniciativa foi do governo britânico, como parte das
atividades do Ano da Ciência, que teve por objetivo despertar o interesse pela
ciência em crianças e jovens de 10 a 19 anos de idade.
O resultado
não foi além de um ligeiro rabisco nos sismógrafos, mas foi aceito pelo Guiness – O Livros dos Recordes como o
maior salto simultâneo da história.
Muito bom! Como sempre, fatos e dados, uma aula perfeita, de um assunto tão importante e que o ser humano não tem domínio sobre ele. Você conseguiu passar um conhecimento/história desta bomba da natureza que o ser humano não tem como evitar, somente acompanhar. Conhecemos mais do espaço sideral do que 10 metros abaixo da terra.
ResponderExcluirPerdi as 2 últimas, mas agradeço pelas 2 pérolas abaixo:
“A pérola é difícil de quebrar, mas se não for tratada com cuidado pode até morrer”, assim são elas (as mulheres...).
“O resultado não foi além de um ligeiro rabisco nos sismógrafos, mas foi aceito pelo Guiness – O Livros dos Recordes como o maior salto simultâneo da história”.
Obrigado, Afonso.
ResponderExcluirUm abraço.