Por diversas vezes, tanto em conversas
pessoais quanto na mídia, vi pessoas confundirem Geologia com Arqueologia,
atribuindo atividades de uma à outra. São áreas da ciência bem distintas, mas o
fato de ambas lidarem com materiais antigos pode levar quem não as conhece a essa
confusão.
Segundo a Wikipédia, a Arqueologia
estuda as culturas e os modos de vida do passado a partir
da análise de vestígios materiais. É uma ciência social que estuda as sociedades já extintas, desde o surgimento da
espécie humana (transição do Australopitecos para o Homo habilis) até o presente.
Alguns arqueólogos definem a Arqueologia como a
reconstrução da vida dos povos antigos.
A Geologia estuda a Terra, sua composição, estrutura, propriedades físicas,
história e os processos que lhe dão forma. Ela não estuda sociedades, povos ou
culturas.
Vê-se então que a Arqueologia trabalha com o ser humano, com as
civilizações. A Geologia dedica-se às rochas, minerais e fósseis. Assim, a primeira
trabalha com maternais que têm séculos ou milhares de anos de idade; a Geologia,
com materiais que têm milhões ou bilhões de anos de idade (a Terra formou-se há
4,54 bilhões de anos).
A datação radiométrica desses materiais utiliza, por isso,
métodos semelhantes, mas com elementos químicos diferentes. Enquanto a
Arqueologia trabalha com um isótopo instável do carbono (o carbono 14), próprio
para materiais de pouca idade (alguns milhares de anos), a Geologia usa isótopos
instáveis de rubídio, potássio, samário ou, para as rochas mais antigas, de urânio,
que permitem datar materiais com milhões
ou bilhões de anos.
Ambas se relacionam com outras ciências, como é
natural. A Arqueologia se relaciona, por exemplo, com a História,
Geografia e a Física. A Geologia tem ligações com a Química, Física e Biologia,
mas principalmente com a Geografia e a Astronomia.
Um exemplo de interação entre Geologia e Arqueologia ocorreu no
Rio Grande do Sul. O geólogo Carlos Henrique Nowatzki, da Unisinos, pesquisou e
descobriu de onde foram extraídos os blocos de arenito usados na construção,
pelos jesuítas, da igreja de São Miguel, no município de Santo Ângelo (RS), importante
atração turística do estado. Eles têm hoje sua procedência bem estabelecida
graças à Geologia.
A Geologia procura descobrir depósitos minerais de valor
econômico (jazidas), para extração de minerais metálicos, material para a
construção civil, pedras preciosas, metais nobres, etc. Procura também petróleo
e recursos hídricos (Hidrogeologia). Já a Arqueologia busca materiais de valor
histórico, museológico e cultural, não de valor comercial ou industrial. Uma
exceção: houve uma época em que as múmias eram tão abundantes no Egito que
foram vendidas toneladas delas aos Estados Unidos, para uso como combustível em
locomotivas.
O Brasil conta hoje com quatorze cursos de
graduação em
Arqueologia, todos relativamente novos. A Geologia tem cursos de graduação mais numerosos,
em torno de trinta.
Se uma obra civil, como abertura de túnel, barragem, estrada ou
mesmo de uma mina revela a existência de um sítio arqueológico, ela deve ser
paralisada até que o local seja estudado por arqueólogos. Só em casos
excepcionais esses achados arqueológicos são suficientemente importantes para
justificar a anulação de obras de grande porte, mas estudar, fotografar e
amostrar o sitio arqueológico são coisas que podem e devem ser feitas antes que
ele seja destruído pela obra civil em andamento. Um exemplo dramático disso é a
cidade de Roma, cujo metrô tem uma extensão total relativamente pequena porque
em qualquer local que se faça uma escavação não é difícil encontrar um sítio
arqueológico.
A Arqueologia passou a ser vista com interesse e tornou-se uma
ciência popular graças aos filmes de Indiana Jones,
em que o herói, representado por Harrison Ford,
é um professor de arqueologia. A Geologia tem forte apelo popular em filmes,
livros e outras mídias que tratam de terremotos, vulcões, pedras preciosas,
metais nobres e dinossauros, sendo estes os personagens principais do filme Parque Jurássico, por exemplo.
Em alguns aspectos, Geologia e Arqueologia se assemelham
bastante. Ambas envolvem trabalhos de prospecção, escavação e análises do
material recolhido. Não basta ao arqueólogo
recolher um pedaço de cerâmica para conhecer a história local; é preciso ver de
que tipo de objeto ele fazia parte e em que tipo de ambiente provavelmente era
usado, entre outras coisas, para só depois mandar a amostra para datação. De
modo semelhante, não basta ao geólogo coletar uma amostra de rocha e mandar
fazer uma análise química, mineralógica ou geocronológica, para saber sua
composição e idade. É preciso examinar todo o afloramento de onde ela foi
extraída, ver sua estrutura, relação com outras rochas do local (se existirem),
medir a direção e mergulho das camadas, veios, foliações ou fraturas, etc.
Simplificando, então, podemos dizer que as duas
ciências têm semelhanças, mas a Geologia trabalha com materiais muito mais
antigos que a Arqueologia e nos quais não esteve envolvida ação humana.
Será preciso e urgente divulgar a terceira ciência PALEONTOLOGIA já que a química auxilia em datações
ResponderExcluirDaniel, você tem toda razão e acho mesmo que a maior confusão que se faz não é entre Geologia e Arqueologia, mas sim entre Paleontologia (um ramo da Geologia) e Arqueologia.
ExcluirA Paleontologia estuda os fósseis, que são restos ou vestígios de seres vivos que ficaram preservados nas rochas.
No primeiro e no último parágrafos, o mais adequado teria sido escrever Paleontologia em vez de Geologia.
Obrigado por sua observação e pela oportunidade de esclarecer melhor essa confusão entre as duas ciências.