Há algumas estruturas naturais que
lembram muito animais ou plantas fossilizadas, mas que têm origem inorgânica,
sendo, por isso, classificadas como pseudofósseis.
Entre esses
pseudofósseis, os dendritos talvez
sejam os mais notáveis, tanto pela frequência com que são encontrados quanto
pelo seu aspecto.
Dendron,
em grego, significa árvore. O nome – muitas vezes confundido com detrito - é muito apropriado, porque a
forma dos dendritos realmente assemelha-se muito à de uma planta, arborescente,
com numerosas ramificações.
Dendritos formados sobre
rochas vulcânicas
da Formação Serra Geral (Rio Grande do Sul)
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Os dendritos ocorrem principalmente em
fraturas de algumas rochas ou entre duas camadas sucessivas delas. Eles são particularmente
abundantes nas rochas vulcânicas da Formação Serra Geral, do Rio Grande do Sul,
comercialmente chamadas de basaltos, embora sejam principalmente riodacitos. Em
muitos locais, essas rochas mostram-se em estratos horizontais, limitados por
superfícies bem planas, o que as torna muito adequadas para uso na pavimentação
de calçadas. Com isso, nas cidades do Rio Grande do Sul é fácil encontrar
calçadas com belos dendritos, como os que ilustram este artigo, quase todos de calçadas
de Porto Alegre ou de Capão Novo (Capão da Canoa, RS).
A água que penetra nos espaços vazios da
rocha pode trazer manganês dissolvido. Quando encontra uma fenda horizontal,
escoa nessa direção e, com isso, perde velocidade. Essa perda de velocidade
permite que o manganês dissolvido precipite na forma de óxido. O dendrito,
portanto, não se formou junto com a rocha, mas depois que ela já existia.
Dendritos formados em ambos os lados de um pequeno
sulco em riodacito do Rio Grande do
Sul (Acervo do Museu de Geologia da
CPRM)
Apesar de seu aspecto
tão delicado, ele é bastante resistente, resistindo surpreendentemente bem ao atrito
dos calçados.
Outra rocha que pode mostrar dendritos
são os quartzitos micáceo, aquela rocha usualmente colocada em torno das
piscinas.
Além das rochas, também alguns minerais podem
mostrar dendritos, alojados em fraturas. São exemplos a opala e algumas
variedades de quartzo como ágata e cristal de rocha. A foto abaixo mostra um belo quartzo lapidado,
com inclusão de dendrito, que pode ser usado para confecção de uma joia muito
original.
Dendrito em quartzo lapidado
Coleção Pércio M. Branco
Neste caso, o dendrito forma-se numa
fratura ou fissura do mineral. Isso permite que ali penetrem também outras
substâncias, de modo que não é fácil encontrar um dendrito tão perfeito como o
que se vê na foto acima.
A foto seguinte mostra um tipo intrigante de dendrito. Ele é claro, num fundo escuro, dando a impressão de que houve deposição de óxido de manganês na forma de manchas contínuas (isso acontece) e depois penetração de uma substância que dissolveu esse manganês lentamente, à medida que penetrava, formando ela então os dendritos.
A foto seguinte mostra um tipo intrigante de dendrito. Ele é claro, num fundo escuro, dando a impressão de que houve deposição de óxido de manganês na forma de manchas contínuas (isso acontece) e depois penetração de uma substância que dissolveu esse manganês lentamente, à medida que penetrava, formando ela então os dendritos.
Enviei fotos desse tipo de dendrito por
e-mail a centenas de geólogos, perguntando como, em seu entender, havia se dado
a sua formação. Recebi oito respostas, cada uma delas com uma explicação
diferente das demais e diferente da minha. Outros três geólogos responderam, considerando
esses dendritos claros muito interessantes, mas sem arriscar um palpite sobre o
processo de formação.
Vejam as explicações aventadas, na linguagem
informal em que me foram enviadas:
1. Como mera
especulação, parece que eram dendritos de minerais escuros que foram posteriormente
“lavados” e redepositados ao redor dos dendritos primitivos, que ficaram assim
descoloridos e rodeados por manchas escuras dos óxidos deles removidos. É
apenas um chute...
2. A
formação das dendrites deu-se de maneira normal, só que houve a formação de bolhas de fluidos e a evaporação deu-se do bordo para dentro da bolha de fluido, no seu
conjunto as bolhas não entraram em contacto umas com as outras! Daí o aspecto
não usual! Formaram-se bolhas com a
solução aquosa, a água evaporou precipitando o manganês!
3. Os dendrites são as agulhas
escuras e não as brancas.Não levanto hipóteses baseando-me numa
foto. Somente darei uma opinião com o original. Olhei mais uma vez o foto e na foto não tem diferencias
entre a parte escura e clara. Assim foi simplesmente uma sugestão em cima do
que é possível ver na foto. O foto não é muito nítida e tem n possibilidades.
4.
Mapeando
o Serra Geral no Paraná, vi dendritos deste tipo em uma ou outra pedreira. Acho
que se trata de produto de cristalização a partir de líquidos com dois ou mais
compostos misturados. Chutando, porque não me dei o trabalho de amostrar para
fazer análises detalhadas:carbonato no dendrito propriamente dito de cor
branca e óxido de Mn nas bordas. Algo assim. O que chama atenção é que o
dendrito mesmo é o clarinho no centro e que a borda é mais amebóide.
5. Representam
marcas (folhas samam-baias), mas devem ser marcas de outra substância
que penetrou ou atacou localmente.
6. Irei dar um chute, mas não tenho certeza
se acertarei o gol ou a trave. Pode ser, também, que passe longe do gol. Vai
lá. Acho que a parte negra se trata de óxidos ou hidróxidos de manganês e a
parte branca, deveria ter sido de óxidos ou hidróxidos de ferro, que, por
qualquer motivo químico foi removida, deixando os relictos brancos. O Mn tem
outro ciclo de dissolução química.
7. Pode ser alteração hidrotermal dos
plagioclásios, passando para zeólitas. Também já vi alteração de plagioclásio
por escapolita, num projeto de cobre que trabalhei na área de Carajás. Mas
neste último caso, o hábito é arredondado. Eu chutaria que são zeólitas. Pode
ser também o próprio riodacito, num processo de digestão de um magma pelo
outro.
8. Tenho pra mim que estes “pórfiros” são
de vidro natural (obsidiana) e que os “dendritos” são na verdade resultantes de
um processo de devitrificação, formando possivelmente cristobalita?
Além dos dendritos, as rochas vulcânicas
da Formação Serra Geral podem mostrar outra feição talvez de origem e composição
semelhantes. São figuras que, em vez de formato arborescente, têm forma de
curvas mais ou menos concêntricas (foto abaixo). São também formadas por
óxido de manganês? Estou inclinado a achar que sim. Mas, se são, por que
assumiram esta forma e não a forma de dendritos? Terá sido porque a solução penetrou com mais
velocidade? Com a palavra quem sabe mais que o quase nada que eu sei sobre o assunto.
Estas feições podem
aparecer junto com dendritos (ver abaixo). Neste caso, quem se formou
primeiro? Não sei. Como eu disse, essas
fotos são de lajotas de calçadas, não permitindo um exame mais acurado, com
lupa por exemplo.
Embora os dendritos
sejam geralmente óxidos de manganês, vários outros minerais podem cristalizar dessa
maneira, com hábito dendritíco, como se
diz em Geologia. Um deles é o ouro. A foto abaixo (autor ignorado) mostra um cristal
dendrítico desse metal.
Numa mina de ouro de
Jacobina (BA), obtive um fragmento de quartzo com cerca de 4 cm, contendo um
dendrito de ouro na superfície.
O cobre e a prata podem também cristalizar
com hábito dendrítico.
Por fim, uma advertência: assim com o
dendrito é um pseudofóssil, há também pseudodendritos. A foto a seguir mostra um cristal de quartzo
incolor (cristal de rocha) lapidado contendo no interior cristais aciculares de
turmalina preta (schorlita). Em várias
lojas do Rio de Janeiro vi vendedores chamar essa associação de dendrito, o que
está totalmente errado.
Turmalina em quartzo lapidado
Coleção Pércio M. Branco
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Versão ampliada de artigo
originalmente escrito para o Canal Escola
(www.cprm.gov.br)
Fotos: Pércio de Moraes
Branco, salvo indicação em contrário.
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