Uma dos trabalhos mais gratificantes que
desenvolvi em minha vida profissional foi decorrência de duas decisões tomadas
antes mesmo de concluir o curso universitário.
A primeira foi trabalhar na CPRM (Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais), empresa onde atuei durante 35 dos primeiros
36 anos de minha vida de geólogo. Eu queria trabalhar naquela empresa, mas a
demora em me chamarem me levou inicialmente para outra. O chamado da CPRM veio
uma semana depois de eu assumir nesta outra, mas aí preferi ficar ali, só saindo treze meses depois.
A CPRM era uma empresa de economia mista
recém-criada e ninguém sabia ao certo como seria seu futuro. Aliás, seu
surgimento foi recebido com críticas de vários brasileiros ilustres, como Roberto
Campos e Glycon de Paiva (que era geólogo). Por que então meu entusiasmo e interesse
por ela? É que a empresa atuaria em todo o país e em todas as áreas da pesquisa
mineral, com exceção de petróleo (que era monopólio da Petrobras) e minerais
nucleares (monopólio da Nuclebras). Essa
diversidade de atuação me atraía e, de fato, ela me permitiu trabalhar com
mapeamento geológico no Nordeste, com pesquisa de carvão e de gemas no Rio Grande
do Sul e em Santa Catarina e com supervisão de projetos no Rio de Janeiro.
A outra decisão
foi falar sobre Geologia com quem era leigo no assunto sempre de um modo acessível,
de fácil entendimento, pois era uma ciência, na época da minha formação
universitária, muito desconhecida. De certo modo ainda é, mas hoje bem menos.
Esse interesse em divulgar a Geologia e a diversidade de atuação da CPRM me fizeram ver, em 1998, quando já estava nela
havia 16 anos, que nenhuma empresa brasileira estava mais capacitada
que ela para esclarecer dúvidas do grande público sobre Geologia, fossem jornalistas,
professores, alunos ou o cidadão comum. E aí me veio a ideia de propor que a
companhia se dispusesse a fazer isso, e num serviço gratuito, já que era uma empresa
controlada pelo governo federal.
Em 11 de maio de 1998, atuando na Superintendência
Regional de Porto Alegre, depois de haver trabalhado em Salvador, Rio de Janeiro
e Criciúma (SC), elaborei um documento propondo a criação do serviço Pergunte
a Um Geólogo (PUG). Através dele, a CPRM, mais precisamente a nossa
superintendência regional se disporia a responder qualquer consulta técnica sobre
Geologia que fosse feita à sua equipe de geólogos e engenheiros.
Três dias depois, submeti a proposta ao
superintendente regional, Cladis Presotto, que a achou “excepcional”. No dia 19
daquele mês, porém, quando ela foi apresentada em uma reunião com todos os
gerentes e supervisores (eu era um dos supervisores), a aprovação se deu com algum
receio e nenhum entusiasmo.
No início de mês seguinte, divulguei o Pergunte a Um Geólogo em toda a empresa,
através de correspondência interna e no dia 24 daquele mês, foi impresso um pequeno folder com mesma finalidade.
Em 3 de julho, o superintendente
regional falou sobre a iniciativa numa reunião realizada na sede nacional da
empresa, e contou, na volta a Porto Alegre, que a apresentação da ideia fora um sucesso.
O PUG ganha o mundo
O PUG ganha o mundo
Mas, até aí, o PUG andava devagar. Era pouco conhecido e, portanto, pouco
utilizado.
Quatro dias depois, entretanto, em 7 de julho
de 1998, ele passou a estar disponível na internet, no site da companhia. E aí
tudo mudou. Os usuários não precisavam mais mandar suas perguntas por carta, podendo
simplesmente usar um e-mail.
Com isso, já no dia seguinte, recebi cinco
perguntas e no dia 9, mais duas. E no dia 10, o presidente da CPRM, Carlos Oiti
Berbert, reconhecendo a importância da iniciativa, pediu que todas as superintendências
regionais (eram umas nove) implantassem o Pergunte
a Um Geólogo.
E as perguntas continuaram chegando.
O volume sempre crescente de consultas
acabou exigindo uma reunião do superintendente de Porto Alegre com sua secretária, o gerente
de Relações Institucionais e Desenvolvimento
(Geride) e eu para acertarmos o modo como seriam controladas as respostas
enviadas.
Em 27 de julho, uma surpresa: chegou o
primeiro pedido procedente do Exterior, mais especificamente do Canadá. Estava
indo longe nosso serviço, graças, é claro, ao imenso alcance da internet.
Problemas
Problemas
Pela descrição que fiz até aqui, tudo
corria às mil maravilhas. Mas, não era assim.
Perguntas relacionadas com minerais,
pedras preciosas e alguns outros assuntos eu mesmo respondia. Mas, quando
chegavam questões ligadas a áreas que exigiam outros especialistas, era preciso
repassar a consulta a eles. E aí começou a haver pequenos problemas. O Pergunte
a Um Geólogo era um trabalho voluntário e sem equipe própria, que dependia
da boa vontade dos técnicos da empresa. Só que, compreensivelmente, nem todos
estava dispostos a assumir uma tarefa extra, principalmente algo que alguém de
outra gerência havia inventado...
O PUG não era um serviço da Geride, nem
mesmo da nossa superintendência apenas. Ele devia estar disponível em todas
as unidades regionais da CPRM, conforme decidira o presidente. Mas, a boa
vontade não era a mesma em todos os setores, e foi preciso ter jogo de cintura
para levar a ideia adiante.
Felizmente, veio de cima uma decisão que
me tranquilizou: em 27 de julho recebemos memorando dando conta que, a partir daquela data, o Pergunte a Um Geólogo passava a ser um serviço de âmbito nacional, centralizado no Rio de
Janeiro. Uma coordenação lá criada receberia as perguntas e as distribuiria entre os membros de uma equipe de voluntários.
Isso me deixou mais tranquilo, mas também com uma sensação desagradável de perda. Era algo como ver
um filho tornar-se adulto e partir, assumindo sua própria vida, escapando ao nosso
controle. Era bom, era natural e era necessário, mas foi inevitável um pouco de
tristeza também.
Surpreendentemente, porém, continuamos
recebendo muitas consultas enviadas diretamente a Porto Alegre, reflexo talvez
da grande divulgação que aqui fazíamos do serviço.
Dois anos após a criação do PUG, em 9 de abril de 2000, sua coordenadora nacional, Tania Freire, criou, no site da CPRM, uma página do tipo FAQ (frequently asked questions), reunindo as respostas às perguntas feitas com mais frequência. Com isso, os usuários eram aconselhados a consultar aquela página antes de enviar sua consulta, pois a resposta desejada podia já estar lá.
Dois anos após a criação do PUG, em 9 de abril de 2000, sua coordenadora nacional, Tania Freire, criou, no site da CPRM, uma página do tipo FAQ (frequently asked questions), reunindo as respostas às perguntas feitas com mais frequência. Com isso, os usuários eram aconselhados a consultar aquela página antes de enviar sua consulta, pois a resposta desejada podia já estar lá.
O sucesso do Pergunte a Um Geólogo continuou
crescendo, e, em 20 de outubro de 2006, a revista Planeta incluiu-o na seção Sites que Valem Ouro, mantida pela revista.
Laços que não se rompem. O Canal Escola.
Laços que não se rompem. O Canal Escola.
Em julho de
2007, desliguei-me da CPRM e, fazendo isso, pensava estar me desligando também
do serviço de utilidade pública que eu criara nove anos antes. Ledo
engano... A empresa continuou pedindo
minha colaboração, enviando-me consultas relacionadas com minerais e gemas,
principalmente. Embora já sem vínculo trabalhista com a companhia, o amor à camiseta
não me permitiu negar o apoio.
E um ano depois, em 7 de agosto de
2008, recebi uma proposta surpreendente. Surpreendente e irrecusável. A CPRM propôs
me contratar por três meses para revisar e ampliar o FAQ do Pergunte a Um Geólogo, escrevendo
artigos de divulgação científica para uma página que seria criada no site da empresa e que se
chamaria Canal Escola. A remuneração era boa e o trabalho agradável.
Além disso, me permitiria suprir uma deficiência que eu sabia existir: o Pergunte a Um Geólogo, fora sempre uma de
muitas atividades que eu desenvolvia na empresa e, por isso, eu só conseguia responder
as perguntas de modo bastante resumido. Eram textos curtos, restritos ao que o
cliente perguntava. Com o Canal Escola,
eu poderia ampliá-los e dar informações adicionais relevantes sobre o assunto.
Esse
novo trabalho de divulgação cientifica começou em outubro e, decorridos os três
meses do contrato, havia resultado em 22 artigos (ver relação no final). Isso
me deixou satisfeito, pois se estava oferecendo agora aos internautas algo bem
mais consistente em termos de informação científica.
Passado
um tempo, em 2010 tive outra boa surpresa: a CPRM renovou a proposta e fui
contratado por mais três meses com a mesma finalidade, e escrevi para o Canal Escola, por coincidência, outros
22 artigos, estes, porém, totalmente inéditos.
Mas,
as boas surpresas trazidas pelo Canal Escola
não haviam acabado. Ele passou a ser usado não apenas por estudantes e professores,
como se esperava, mas também por editoras de livros didáticos. E muitas vezes
elas procuraram – e continuam procurando – a CPRM, solicitando autorização para
reproduzirem em suas obras, textos existentes no Canal Escola. A
empresa tem deixado essa decisão sempre comigo e eu, é claro, sempre concordo.
Não fosse assim, eu estaria traindo os objetivos e princípios que levaram à
criação do Canal Escola e traindo também
os milhares de estudantes que visitaram o Museu de Geologia da empresa quando
eu era seu coordenador e que continuam indo lá em busca de conhecimento sobre
Geologia.
Em 2013, deveremos fazer uma revisão, atualização e ampliação do conteúdo hoje existente, tornando ainda melhor essa fonte de divulgação científica da Geologia.
Uma história semelhante
Sem saber da história do Pergunte a Um Geólogo, ou conhecendo-a apenas superficialmente, meu filho, Daniel de Moraes Branco, criou um serviço muito semelhante, o Medicínia.
Trata-se de um site (medicinia.com.br) em que uma equipe de mais de cem médicos responde a dúvidas dos internautas sobre saúde, sem prescrever tratamento.
Ao contrário do PUG, desde o início foi organizado em bases muito profissionais, embora o atendimento seja também gratuito. Já o usei duas vezes e me surpreendi com a rapidez e a qualidade das respostas recebidas.
Uma história semelhante
Sem saber da história do Pergunte a Um Geólogo, ou conhecendo-a apenas superficialmente, meu filho, Daniel de Moraes Branco, criou um serviço muito semelhante, o Medicínia.
Trata-se de um site (medicinia.com.br) em que uma equipe de mais de cem médicos responde a dúvidas dos internautas sobre saúde, sem prescrever tratamento.
Ao contrário do PUG, desde o início foi organizado em bases muito profissionais, embora o atendimento seja também gratuito. Já o usei duas vezes e me surpreendi com a rapidez e a qualidade das respostas recebidas.
ARTIGOS ESCRITOS PARA O CANAL ESCOLA
DISPONÍVEIS EM WWW.CPRM.GOV.BR
A Terra em números
Os terremotos
O que são e
como se forma os fósseis?
Como identificar
os minerais
Mineral, rocha
ou pedra?
Os metais preciosos
Como sabemos a idade das rochas
O geólogo e a Geologia
Pedras preciosas, metais nobres e pedras ornamentais
Os minerais e os colecionadores
Coisas que você deve saber sobre a água
Os meteoritos
O real tamanho do nosso planeta
Os dinossauros
Breve história da Terra
Não existem pedras semipreciosas
Fatores que determinam o preço das gemas
Fatores que determinam o preço das gemas
As rochas
Os vulcões
A identificação de pedras preciosas lapidadas
Forças que atuam na superfície da Terra
A diversidade das gemas brasileiras
O petróleo
Os minerais argilosos
O âmbar – uma gema com registro de vida
Os elementos que caracterizam o clima
Os pigmentos minerais
A estrutura interna da Terra
Como ser dono de uma mina
Nossos vizinhos do sistema solar
Os desertos
As gemas tratadas
Espeleologia, o estudo das cavernas
Os sistemas cristalinos
O diamante, uma gema singular
O petróleo do pré-sal
As águas minerais
A produção mineral brasileira
Os muitos usos do diatomito
Os corais
A fluorescência dos minerais
O intemperismo e a erosão
Algumas gemas clássicas
A utilidade dos minerais
Fiquei muito feliz em ter tido a oportunidade de visualizar tuas postagens. Parabéns, és muito especial. Abraços.
ResponderExcluirObrigado, Neneca. Cada um a seu modo, todos nós somos especiais. Você, por exemplo, é especial e merece parabéns pelo trabalho que faz com a garotada em defesa das tradições gaúchas. Um abraço.
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