Nos últimos
anos, tornou-se comum no Brasil um golpe em que estelionatários oferecem um
lote de esmeraldas brutas. Eles
apresentam as esmeraldas acompanhadas de um laudo de avaliação em papel timbrado, com assinatura, carimbo, etc.,
dando a aparência de um documento muito confiável. Além disso, as pedras estão em uma embalagem
que permite ver o conteúdo, mas que está fechada e lacrada, o que aumenta a impressão
de ser um negócio sério.
Essas pedras são de fato esmeraldas e costumam ser oferecidas
para venda, pagamento de dívida ou garantia de empréstimo.
Se elas são realmente esmeraldas e têm um laudo de avaliação,
qual é o problema? O problema é que a
avaliação é irreal, muito acima do verdadeiro valor da mercadoria. Atraída por
isso, a pessoa que recebe a oferta fica muito tentada a aceitá-la. Talvez nem
saiba o que fará com as esmeraldas, mas acredita poder vendê-las por valor bem abaixo
do que consta no documento de avaliação e ainda assim ter um bom lucro. Ou aceita
a oferta porque a proposta é um meio de receber o pagamento de uma dívida antiga
da qual não vê perspectiva de quitação.
Feita a transação, o comprador das gemas procura vendê-las e
aí descobre que elas valem muito menos do que lhe fizeram crer. Pior: o laudo de avaliação informa que se o lacre
da embalagem for rompido, a avaliação ficará sem efeito e nisso o
estelionatário está certo. Quem viola o lacre
pode introduzir na embalagem qualquer coisa de valor inferior e o avaliador não
pode ser responsabilizado pelo que acontecer dali em diante com a mercadoria
que avaliou. Se a pessoa que comprou as esmeraldas desejar, mesmo assim, nova avaliação,
vai ter que pagar por ela e ficará
sabendo que as esmeraldas realmente valem muito menos do que ele pagou.
Esse golpe, como eu disse, vem acontecendo há vários anos e
já fui procurado por muitas pessoas que desejavam vender esmeraldas assim
adquiridas. Nos últimos meses, porém, os
estelionatários mudaram seu modo de agir.
O golpe das esmeraldas já devia estar muito conhecido e passaram então a
oferecer quartzo incolor (cristal de rocha), um mineral extremamente comum, como
se fosse diamante. Não vi ainda nenhum
laudo com essa falsa identificação, mas já fui procurado por umas dez pessoas
pedindo que confirmasse se as pedras que têm são realmente diamantes. Para complicar
as coisas, existem na internet vários testes que se afirma serem capazes de
identificar o diamante. São testes principalmente de resistência ao fogo, que não
funcionam.
Além de ter alguma semelhança com o diamante, o quartzo
incolor recebe, no mercado internacional, muitas denominações comerciais ou
populares em que aparece a palavra diamante. No meu Dicionário de
Mineralogia e Gemologia, registro quase trinta desses nomes. Ex.: diamante
Arkansas, diamante Baffa, diamante de Herkimer, diamante Quebec, etc. Isso só contribui para facilitar as fraudes.
Uma das pessoas que me procuraram foi um homem acompanhado
da esposa, ambos aparentando muita preocupação e ansiedade. As pedras que tinham
já haviam sido examinadas por outra pessoa, que disse não serem diamantes, e tinham
realmente a aparência de quartzo. Eles queriam nova identificação e que ela
fosse feita na hora, na frente deles. Entendi sua preocupação e concordei.
Quando lhes mostrei que não eram diamantes, a mulher olhou para o marido sem dizer
nada, mas deixando claro que já esperava por aquele resultado. Eles agradeceram, o homem disse que estava
sem dinheiro e sem cheques, mas que me pagaria depois. E nunca mais voltou.
Não sei
que negócio ele havia feito, mas um colega meu recebeu para identificação dez cristais
de quartzo
que seu cliente havia recebido como se fossem diamantes, em pagamento
de um caminhão...
Vender cristal de rocha como se fosse diamante custa menos, é um golpe mais simples, mas exige muito mais poder de convencimento.
Vender cristal de rocha como se fosse diamante custa menos, é um golpe mais simples, mas exige muito mais poder de convencimento.
Quem receber uma
proposta como essas, deve lembrar que:
1. O Código Civil (art. 313)
estabelece que “o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe
é devida, ainda que mais valiosa". Portanto, não está obrigado a receber pedras preciosas como pagamento de divida em dinheiro, ainda que sejam de valor muito maior.
2. Nenhum mineral risca um diamante, a não ser outro diamante, mas é muito fácil quebrar essa pedra com um martelo.
2. Nenhum mineral risca um diamante, a não ser outro diamante, mas é muito fácil quebrar essa pedra com um martelo.
3. Se o
suposto diamante for riscado por topázio, rubi ou safira, certamente não é
diamante.
4. Lembrar
também que o maior diamante encontrado até hoje (há mais de cem anos) pesava
apenas 621 gramas. Os diamantes brutos pesam, em sua grande maioria, menos de 1,5 quilate (300 miligramas) e a grande maioria dos diamantes lapidados pesa menos de
um quilate, ou seja, 200 miligramas. (Circula na internet uma fake news informando
que foi apreendido um diamante de 2,5 toneladas!) O tamanho da(s) pedra(s), portanto, é uma boa
característica a levar em conta para saber se pode ser ou não um diamante.
5. Na dúvida,
deve-se procurar um gemólogo ou empresa que disponha de um laboratório gemológico.
Isso, é claro, antes de fechar o negócio.
Caro Pércio,
ResponderExcluirUltimamente apareceram vários comerciantes querendo trocar esmeraldas por imóveis. Infelizmente existem laudos que supervalorizam o preço em até 20 vezes, mas por sorte, como está assinado, ficamos conhecendo estas pessoas. Nestes períodos, em que achar um investidor é difícil, tornam-se propensos ao surgimento de mercados escusos e sem escrúpulos. Devemos ficar cada vez mais atentos e divulgar o nosso trabalho. Concordo plenamente contigo. Abraços !!!!
Você está certo, Marco. é preciso estar atento e divulgar essas falcatruas.
ExcluirPércio,
ResponderExcluirVocê abordou muito bem este problema, de todas as formas. Alexandrita, Esmeralda e Rubi estão sendo vendidos não em quilates, mas sim em quilogramas. Sacos de 1 kg, 5 kg estão sendo vendidos na Internet, de baixíssima qualidade, rejeito de gemas, por preços irrisórios, como moeda de troca para comprar fazendas e saldar dívidas. Gemólogos e Laboratórios sérios não inserem no Laudo o valor da mercadoria, mas a Lei de Gerson, infelizmente, leva vantagem e uma vez pago o negócio, não tem retorno. Expliquei para um cliente que uma vez lacrado o lote destas gemas, não tem como atestar a cor, pureza, peso, lapidação e ele desfez o lacre em 5 segundos, sem danificar a embalagem, como você deixou bem claro este problema inviabiliza um negócio sério.
Este problema está escancarado e a solução é, no mínimo a obrigatoriedade de contratar profissionais/gemólogos em órgãos do governo que trabalham nesta área, onde esta moeda de troca seja devidamente certificada. O primeiro passo principal é investir na formação de profissionais em Universidades Federais, Especialistas, Gemólogos, seja para trabalhar em órgãos do governo ou para abastecer laboratórios a serem contratados.
Obrigado pelos seus ótimos comentários, Afonso. U
ResponderExcluirm abraço.
Prezado Percio, enviei um e-mail para o Senhor sobre um tema de sua área.
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir