Em setembro de
1987, o Brasil foi palco do maior acidente com substâncias radioativas registrado
no país e o maior do mundo fora de usinas nucleares. Em Goiânia (GO), uma clínica
de radioterapia abandonou sem qualquer cuidado equipamento contendo césio 137, substância
altamente radioativa. O equipamento foi recolhido por catadores de lixo reciclável
para aproveitar o chumbo que continha. Com isso, o césio foi liberado e se espalhou
pelo ambiente, levado pelos próprios catadores.
O homem que retirou o material o levou
para a casa e o distribuiu a vizinhos e amigos porque achava muito interessante
o modo como ele brilhava no escuro, com uma cor azul. Sua filha não só espalhou
o césio 137 pelo corpo como chegou a ingeri-lo. Resultado: um mês depois quatro
pessoas morreram em virtude da radiação. Outras mais viriam a morrer nos meses
seguintes.
Em janeiro do ano seguinte, o jornalista
Sérgio Danilo, talvez alertado pelo acidente de Goiânia, quis saber se uma
amostra de material radioativo que tinha em casa havia dez anos podia ser perigosa.
Ele tinha 44 anos de idade e 22 de jornalismo. Trabalhava na Gazeta Mercantil e era bem conhecido no
meio geológico por ser o editor do setor mineral daquele jornal.
Submetido a exames, descobriu-se que
Sérgio Danilo estava irremediavelmente contaminado pela radiação em quarenta diferentes
partes do corpo, restando-lhe apenas dois anos de vida. Fora vítima do que ele
próprio chamou de desinformação mineral.
Quando eu era estudante de Geologia,
aprendi que no manuseio de minerais radioativos deve-se ter cuidado para não permitir
que partículas dele fiquem retidas sob as unhas. O que não me ensinaram e fui
aprender por iniciativa própria muitos anos depois é que o risco de
contaminação depende da intensidade da radiação e do tempo em que o corpo fica
a ela exposto. Também tive que ir atrás de informações sobre qual é a intensidade
máxima de radiação suportada sem danos pelo corpo humano.
Por isso tudo, em outubro de 1988 decidi
fazer uma varredura na minha coleção de minerais para ver se algum deles emitia
radioatividade perigosa. Munido de um cintilômetro, aparelho que mede a
radiação, aproximei-o do meu acervo mineral e descobri que dois minerais, uma
columbita e uma autunita, faziam o aparelho disparar acelerados bips-bips. A
columbita não me assustou muito, mas a autunita (fosfato hidratado de urânio e
cálcio), sim. O aparelho mostrou que ela emitia radiação altíssima, em torno de
10.000 cps (choques por segundo).
Quando minha mulher soube do que eu descobrira,
não quis saber de conversa: pediu que eu desse um fim à autunita imediatamente.
Eu sabia do risco que ele representava,
mas não queria me desfazer de uma importante peça da coleção. Coloquei-a então
numa lata de conserva e a levei para minha sala na empresa em que eu trabalhava. A lata, eu sabia bem, não me protegia, mas
era um recurso temporário até decidir o que fazer com a autunita.
Não demorei a me dar conta de que eu
estava agora mais vulnerável que antes, pois passei a ficar várias horas por
dia a menos de um metro de distância da fonte radioativa. Não era, pois uma
solução inteligente.
O que fazer então? Eu não queria perder
minha autunita nem mantê-la escondida, mas tampouco queria correr risco de ser
contaminado por ela. Fiz então um teste: medi a radiação encostando o
cintilômetro nela (o que dava os já citados 10.000 cps), e a seguir fiz várias
outras medidas afastando o cintilômetro 10 cm cada vez. Vi então que a 10 cm da
autunita a radiação já caía para metade. E a distâncias maiores as quedas na
intensidade eram também aceleradas.
Concluí, assim, que eu podia manter o mineral
na minha coleção, mas sem ficar perto dele por muito tempo.
Se você tem minerais radioativos, é bom
saber qual a intensidade da radiação que eles estão emitindo. E deixá-los pelo menos
uns metros longe de você.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear publicou uma cartilha intitulada CUIDADOS NO GARIMPO COM MINÉRIOS RADIOATIVOS: URÂNIO E TÓRIO.
ResponderExcluirO professor de Mineralogia da UFRGS Heinrich Theodor Frank, coordenador do Museu Luis Englert, contou-me que já retirou do Museu grande parte dos minerais radioativos, encaminhando-os à Comissão Nacional de Energia Nuclear. Mas, ainda se preocupa com os que estão em outra coleção, no Institudo de Geociências.
ResponderExcluirse tratando de todos os minerais que emitem radiação, todo cuidado é pouco, um dia quando visitava uma pedreira de rochas ornamentais na Bahia, ficamos sabendo que alguns blocos continha urânio, sai de perto imediatamente.
ResponderExcluirO que dizer de caetete? A populacao mora no uranio...e os azulejos, pisos do nosso chao?
ResponderExcluirSe eu morasse lá daria um jeito de medir a radioatividade na minha casa.
ResponderExcluirTantalite e` radioativo? e Mercúrio vermelho em liquido
ResponderExcluirPode ser radioativa, sim, mas acredito que não seja dw forte intensidade.
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