Jogador de futebol quando se aposenta pendura as chuteiras. Por isso, para mim, geólogo aposentado é aquele que pendurou o martelo.
Coerente com isso, decidi que, quando me aposentasse, penduraria meu valente companheiro numa parede de casa, em lugar de destaque.
Estou aposentado há quatro anos, mas apenas do ponto de vista legal. Embora raramente use meu precioso instrumento de trabalho, me considero um geólogo na ativa e, por isso, nunca quis pendurar meu martelo. Só que, na mudança de minhas coisas do meu local de trabalho para casa, ele acabou ficando junto com outras ferramentas, ao lado de um simples martelo de carpinteiro.
Isso me incomodava e me deixava com remorso. Aquilo não era lugar para martelo de geólogo, um símbolo da nossa profissão, muito menos para um martelo que me acompanhou em tantas jornadas, algumas épicas e memoráveis. Mas, eu não encontrava um lugar adequado para ele e o coitado continuava lá, em indigno local para um merecido repouso.
Um espaço para ele, bem à altura de sua importância, seria a estante onde está a minha coleção de minerais. Mas, ela já estava muito cheia, e eu relutava em colocá-lo ali.
Este mês, porém, o remorso falou mais alto e, incentivado também pela Jane, companheira de longa caminhada que também admira os minerais e a Geologia, resolvi finalmente dar-lhe um lugar à altura do seu valor e dignidade. Primeiro, removi a ferrugem que nele havia, fruto não do desuso ou do descaso, mas das intempéries que por tanto tempo enfrentamos juntos. Depois, limpei seu cabo de nylon, removendo até as impurezas de cada reentrância das palavras nele gravadas, a começar pela marca famosa (Estwing). E, por fim, coloquei-o entre os minerais e fósseis da minha coleção, em lugar sempre bem iluminado, seja de dia ou de noite.
Lindo relato de amor à sua profissão.
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