segunda-feira, 23 de maio de 2011

GEMAS ABUNDANTES E DE GRAÇA!

Muitas pessoas têm sonhos que se repetem com frequência. Alguns são terríveis pesadelos, que apavoram. Mas, outros, felizmente são sonhos bonitos que só dão prazer.

Eu sou uma dessas pessoas que têm um sonho que se repete. Infelizmente, não com a freqüência que eu gostaria, pois é um sonho emocionante. Nele, eu me vejo descobrindo enorme quantidade de minerais lindos, grandes, brilhantes. São tão bonitos que aí vem o lado chato do sonho: eu não consigo me convencer de que estão sendo vistos pela primeira vez. Não é possível, digo para mim mesmo, isso tem que ter dono ! Tantas coisas bonitas num mesmo lugar têm que ser de alguém !

Mas, mesmo assim, mesmo com essa dúvida atroz que me faz hesitar se levo comigo ou não aquelas maravilhas, são sonhos que me fazem feliz e que gosto de ter.

Bem, contei tudo isso para dizer que há sim, na natureza, lugares onde podem ser encontradas pedras preciosas em abundância, fáceis de achar, fáceis de pegar, sem problemas para carregar e, sim, que são de graça ! Mas... – tinha que ter um mas... – são muito pequenininhas...

Falo de areias de praia. As areias de praia são formadas praticamente só de grãos de quartzo incolor. Mas, há alguns locais onde elas mostram manchas escuras, e esses pontos de areias negras são concentrações de minerais mais pesados que o quartzo. A onda traz com ela a areia e, à medida que vai perdendo velocidade, essa areia vai se depositando. Os minerais pesados depositam-se primeiro, e o quartzo que é leve, depois.

Formam-se, assim, concentrações onde podem ser encontrados minerais pretos ou cinza-escuros, como magnetita, ilmenita e schorlita (turmalina preta), junto a outros bem coloridos, como granadas, monazita, epídoto, zircão, espinélio, etc.

Há um desses lugares que eu conheço bem porque colhi amostra da areia negra e mandei analisá-la. É a Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (foto da Wikipédia ao lado), ali juntinho ao ponto onde a gente embarca no bondinho que leva ao Pão de Açúcar.

Aquela areia contém várias gemas, como granadas (vermelha e rosa) e turmalina preta.

Como fazer para admirar essas pedras preciosas se são tão pequenas ? A primeira coisa a fazer é coletar a amostra, como eu disse, num ponto onde se concentram minerais escuros. O passo seguinte é lavar essa areia com cuidado para remover o sal da água. Feito isso, deixar a areia secar, ao sol ou num forno. Os grãos ficarão bem soltinhos, facilitando a observação.

Eles podem ser observados a olho nu. As imagens abaixo foram obtidas fotografando a areia sem nenhum equipamento ótico de ampliação. Mas, o ideal é observar com uma lupa binocular. É um aparelho semelhante a um microscópio, mas que aumenta menos e dá uma imagem direta, e não invertida como o microscópio. A imagem aparece bem iluminada e a observação é muito confortável.

Se não conseguir uma lupa dessas, o jeito é usar uma lupa de 10 aumentos, como a usada por geólogos, joalheiros e em laboratórios gemológicos. Aí, a areia terá que estar local bem iluminado e ser mantida bem perto do olho.

Uma coisa é ver os minerais, outra é identificá-los. Como fazer isso ?

A magnetita é fácil. Qualquer ímã comum atrai os grãos do mineral, pois ele é fortemente magnético (do seu nome vem a palavra magnetismo). A primeira coisa a fazer então, após secar a areia lavada, é retirar a magnetita (se houver, claro) com um ímã comum.

Se você não for geólogo ou laboratorista experiente na identificação de minerais em grãos, a separação dos demais é feita em um laboratório de Sedimentologia. Nele, a areia é submetida à ação de um separador eletromagnético.

Muitos minerais são atraídos por um íma, embora não com a mesma facilidade que a magnetita. Então, o que o separador eletromagnético faz é atrair primeiro aqueles mais magnéticos. Depois, aumentando a intensidade da corrente elétrica, ou seja a capacidade de atração do eletroímã, passa-se a amostra de novo e aí ele atrai aqueles um pouco menos magnéticos. Fazem-se novas passagens, sempre aumentando a intensidade da corrente, e outros minerais vão sendo separados, até restar aqueles sem magnetismo.

A areia da Praia Vermelha de que falei mostrou o seguinte comportamento quando submetida a esse processo (e após a separação da magnetita):

a) Minerais atraídos com corrente de 0,3 ampère: ilmenita e granada vermelha.

b) Minerais atraídos com corrente de 0,5 ampère: ilmenita, epídoto e granada rosa;

c) Minerais atraídos com corrente de 0,75 ampère: schorlita.

d) Minerais não atraídos com corrente de 0,75 ampère: estaurolita, monazita, sillimanita, andaluzita, zircão e espinélio.


À esquerda, magnetita separada com íma de mão. À direita, minerais pesados antes da separação, mas já sem a magnetita


Ilmenita e granada vermelha, à esquerda. Ilmenita, epídoto e granada rosa, à direia.


À esquerda, schorlita (turmalina preta). À direita, minerais não atraídos pelo ímã: estaurolita, monazita, sillimanita, andaluzita, zircão e espinélio

Os interessados em fazer uma análise dessas podem procurar, por exemplo, o laboratório do Serviço Geológico do Brasil, em Porto Alegre. A análise custa R$ 180,00.

A ação constante das ondas do mar deixa os grãos de areia tão polidos e tão arredondados que mesmo aqueles de quartzo incolor são muito bonitos quando vistos com dez aumentos ou mais. Quem tiver acesso a uma lupa binocular procure observá-los. Garanto que ficarão surpresos. Aliás, até mesmo prosaicos cristais de sal e de açúcar já surpreendem quando vistos assim.

Nas praias muito abertas, como as do Rio Grande do Sul, onde a ação das ondas é mais enérgica, os grãos costumam ser menores e mais arredondados, pois o desgaste é maior.

O polimento do grão de areia surge em decorrência do atrito dele contra os outros grãos, na presença de água. Nos desertos, esse atrito também existe, mas, por faltar água, os grãos ficam foscos.

Por fim um esclarecimento: a Praia Vermelha tem este nome porque sua areia se mostra avermelhada, mas não pela presença das granadas, e sim pela luz do Sol, no fim do dia.

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Artigo publicado originalmente no Portal das Joias (www.portaldasjoias.com.br).

Um comentário:

  1. Olá Pércio, sou geólogo (trabalho com micropaleontologia) e sou amante de rochas, minerais e ciências naturais como um todo. Estive coletando umas zeolitas em Carlos Barbosa - RS. Conversei com o Wilson Wildner e ele me disse que tu poderia me ajudar a "dar nome aos bois". Posso te enviar umas fotos? Se sim, pode entrar em contato comigo pelo e-mail: rodrigomguerra1@gmail.com

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