sexta-feira, 1 de novembro de 2024

AS MARAVILHOSAS PEDRAS PRECIOSAS DA SMITHSONIAN INSTITUTION

 

Em Washington, capital dos Estados Unidos, há uma quantidade enorme de museus, como o Museu de Arte das Américas, o Museu do FBI e o Museu do Povo Palestino por exemplo. Todos os museus públicos da cidade oferecem ingresso gratuito e pode-se fotografar livremente o acervo.

No universo museológico da capital americana, destaca-se muito a Smithsonian Institution, um complexo de nada menos de dezenove museus!   Só consegui visitar poucos deles, mas o Museu de História Natural visitei três vezes. Destaco nele a coleção de meteoritos (acho que é a maior do mundo) e uma impressionante coleção de pedras preciosas, brutas e lapidadas.  Algumas delas vou mostrar a seguir.  

Muitas das gemas fantásticas que lá existem foram encontradas no Brasil. Seria muito bom, é claro, se elas estivessem em exibição aqui e não lá. Mas, saber que estão num museu como aquele nos dá garantia de que serão muito bem preservadas e, mais do que isso, nos mostra o real valor das peças brasileiras. Se estivessem em exposição aqui, acharíamos todas surpreendentes, mas lá, ao lado de gemas do mundo inteiro, é que se tem a real importância de que se revestem no cenário museológico internacional. 

A seleção aqui apresentada não foi feita priorizando as gemas do nosso país, mas simplesmente as maiores e/ou mais bonitas.

           O símbolo ct significa quilate e equivale a 200 mg (0,2 g).

  

 Blue Hope  - Famosíssimo diamante, tido como o maior do mundo com cor azul. Esta foto reproduz a que está no mouse pad que uso todos os dias, e que comprei lá naquele museu. O Blue Hope pesa  45,52 ct e foi encontrado na Índia. Tem uma longa história, que começa em 1666, quando foi comprado pelo francês Jean-Baptiste Tavernier. Teve vários donos, o último dos quais, o joalheiro Harry Winston, o doou à Smithsonian Institution em 1958. 

 


 Esfera de quartzo –esfera absolutamente límpida, sem nenhum defeito. É a maior do mundo com essa qualidade. Mede 32,7 cm de diâmetro e pesa nada menos de 48,5 kg.  Olhando-a, me parecia impossível pesar tanto. Mas, usei a fórmula para cálculo do volume de uma esfera e a densidade do quartzo e fiz as contas. O peso é exatamente aquele. Ela provém provavelmente de Myanmar, mas foi lapidada na China entre 1923 e 1924.

 

 Esfera facetada de topázio – esta outra esfera é de topázio, procedente do Brasil. Pesa 12.555 quilates (2,5 kg) e foi lapidada em Idar-Obersteim, na Alemanha, cidade historicamente famosa pela lapidação de gemas.

 

 Esmeralda Chalk – esmeralda de 27,8 ct, procedente da Colômbia, país que produz as melhores esmeraldas do mundo.

 

Heliodoro brasileiro – maravilhoso heliodoro (variedade de berilo, como a esmeralda e a água-marinha), de 2.054 ct, procedente de Itinga, MG. A qualidade da foto é muito ruim porque, além de a gema estar dentro de um expositor fechado, foi fotografada em 2006, com uma máquina fotográfica digital, avançada para a época mas muito inferior à dos celulares de hoje.

  

American Golden Topaz – topázio brasileiro considerado uma das maiores gemas lapidadas do mundo. Pesa 22.892 ct (4,6 kg!), tem 172 facetas e foi encontrado em Minas Gerais. No estado bruto, pesava 11,8 kg (é normal com a lapidação o peso de uma gema ficar reduzido à metade aproximadamente). O trabalho de lapidação, executado por Leon Agee, durou dois anos (o topázio tem uma direção de clivagem perfeita, o que torna sua lapidação uma operação delicada).

 

 Diamantes - o diamante bruto amarelo da esquerda, é o Oppenheimer, de 253,7 ct (a maioria dos diamantes brutos comerciais pesa 0,3 a 1,0 ct). O outro é um diamante português lapidado de 127,01 ct. É o maior diamante lapidado da Smithsonian (pelo menos era em 2006).

  

Quartzo com rutilo – grande bloco de quartzo no estado bruto contendo agulhas de rutilo, procedente de Diamantina (MG). Mede 35 cm x 22 cm x 10 cm.

 


 Rubi Carmen Lúcia - gema lapidada de 23,1 ct, de cor belíssima, procedente de Myanmar. Ela foi doada ao Museu de História Natural pelo Dr. Peter Buck, em memória de sua esposa, a brasileira Carmen Lúcia Buck.  (Foto: Smithsonian Institution) 

 

Safira Logan – gema lapidada de 423 ct, procedente do Sri Lanka. É uma das maiores safiras azuis lapidadas do mundo. Doada à Smithsonian por Rebecca Logan. (Foto: Wikipedia)

  

Tanzanitas – a tanzanita é uma gema muito rara até hoje encontrada apenas na Tanzânia. Elas pesam no total 15 ct e estão circundadas por diamantes que totalizam 24 ct. 

 

Topázio amarelo bruto. Cristal de 50,4 kg, descoberto em Minas Gerais.

 

 

Topázio rosa bruto Cristal de 31,8 kg, procedente também de Minas Gerias.  O cristal ao fundo é o topázio amarelo da foto anterior.

  

 Topázios brasileiros irradiados – belíssimos topázios cuja cor original foi alterada através de irradiação. O da esquerda pesa 7.033 ct e o da direita, 571,5 ct. Ambos procedem de Minas Gerais.

  

Outros topázios brasileiros - mais dois enormes topázios brasileiros de Minas Gerais, o da esquerda, com sua cor natural e o da direita, após tratamento por irradiação. O de cor natural pesa 7.725 ct e o outro, 2.470 ct.

 

Rosser Reeves - rubi de 138,7 ct, com asterismo, proveniente do Sri Lanka. (Foto: Smithsonian Institution)

 

 


Estrela da Ásia - safira de 330 ct, com asterismo, encontrada em Myanmar. (Foto: Smithsonian Institution)

  

Água-Marinha Dom Pedro – esta incrível água-marinha é a maior do mundo com qualidade gemológica. Pesa cerca de 2 kg (10.000 ct) e tem cerca de 35 cm de altura. Foi encontrada em Pedra Azul (MG), na década de 1980 e pesava, no estado bruto, 45 kg.  Foi lapidada nesta forma de obelisco na Alemanha, por Bernd Münsteiner. (Foto: Smithsonian Institution) 

         Quer ver mais gemas lindas daquele museu?  Acesse o site   https://naturalhistory.si.edu/explore/collections/geogallery


  Fotos: Pércio de Moraes Branco, salvo indicação em contrário. 


terça-feira, 15 de outubro de 2024

PHOTOSHOP DO BEM

            Todos sabemos que o uso de Photoshop para melhorar e/ou modificar fotografias é rotina. Como tantas outras, esta é uma ferramenta que pode ser usada para o bem ou para o mal.

Quando se fotografa uma pedra preciosa ou outro mineral qualquer, o uso de um editor de imagens pode tornar sua aparência bem melhor do que realmente é. Isso, é claro, é ilegal se se pretende com a imagem modificada vender aquela gema.  Mas, às vezes a foto que fazemos não capta bem a beleza do mineral ou gema fotografada.

Eu tive esse problema tentando fotografar alguns cristais para meu Dicionário de Mineralogia e Gemologia.  Fiz várias tentativas, com diferentes iluminações, com diferentes fundos e em ambientes variados, mas o resultado nunca era bom, pois não traduzia a real beleza do mineral.

Lembro bem a luta que foi para obter boas fotos de cristais de pirita.  Sua bela cor e seu intenso brilho metálico (em Mineralogia se chama de poder refletor) nunca eram bem captados. Atribuo isso ao forte brilho, na falta de uma explicação melhor.

Diante do problema insolúvel, tentei usar um editor de imagens para ver se conseguia reproduzir a verdadeira cor dos cristais de pirita que estava fotografando.  Eu sabia que estava adulterando a foto obtida, mas com uma intenção nobre, pois não era para melhorar de modo fraudulento sua beleza, mas sim para reproduzi-la o mais fielmente possível.  E é isso que eu chamo de Photoshop do bem.

Abaixo, fotos de pirita que obtive antes e depois de usar um editor de imagem (que não foi o Photoshop).







                


Recentemente, tive a surpresa de saber que alguns colegas gemólogos muito competentes e absolutamente confiáveis e honestos, também fazem isso com certas gemas.  Sim, usamos bastante pra não deixar pedra laranja parecer amarela, pedra verde parecer azul e vice-versa, afirmou um deles. E acrescentou:  Esmeraldas são danadas pra mudar a cor!

Outro gemólogo disse ter enfrentado o mesmo problema com a turmalina Paraíba, mas não na obtenção da foto e sim na sua impressão. O neon da Paraíba é impossível de ser reproduzido com fidelidade na impressão, pois de acordo com a gráfica que nos atendeu, faltam cores disponíveis de tinta para reproduzir, disse ele. Aquela cor aparece lindamente na tela, mas na impressão o azul néon acaba substituído por tons de azul e verde limitados. Isso comprova mais uma vez como o néon da Paraíba é raro realmente.

E prosseguem meus caros colegas:

Geralmente, usamos o Photoshop em um laudo gemológico para que a imagem nele inserida retrate com maior fidelidade possível a cor da pedra analisada, pois nem sempre esta é captada adequadamente no ato da fotografia.

Portanto, não pensem que o Photoshop serve apenas para enganar incautos.



terça-feira, 9 de julho de 2024

UMA FRAUDE SURPREENDENTE

A criatividade dos fraudadores não tem limites. Quem trabalha com gemas sabe muito bem disso. Mesmo assim, às vezes a gente ainda se surpreende. 

O video mostra uma gema que eu não teria a menor dúvida em afirmar que é um diamante bruto.  Pois o gemólogo Felipe C. Pereira, que fez o vídeo, analisou-a e descobriu que é uma moissanita.



A moissanita é a melhor imitação de diamante que existe atualmente e é produzida em laboratório. Pois  pegaram uma moissanita e lapidaram de modo a lhe dar a aparência de um diamante bruto!  Já viram isso, lapidar uma gema para que fique parecendo que ela está no estado bruto?

Obrigado, Felipe, por esta aula. 


sábado, 25 de maio de 2024

A OBSIDIANA

             A lava vulcânica, ao resfriar, solidifica e forma uma rocha, ou seja, um agregado de minerais composto de grãos cristalinos de formato e tamanho variáveis.

A rocha assim formada poderá ser basalto, andesito, riolito, etc., dependendo da composição do material em fusão que saiu do interior da crosta terrestre.  O tamanho dos seus grãos por sua vez, dependerá da velocidade de resfriamento da lava. Quanto mais lento ele for, para uma dada pressão, maiores serão os cristais.  

Se o resfriamento for muito rápido, em vez de se formar grãos de minerais, a lava gera um vidro natural, que difere dos cristais fundamentalmente por não ser formado por um arranjo ordenado de átomos, ou seja, por não ter estrutura cristalina.

A obsidiana é um desses vidros naturais, relativamente fácil de ser reconhecida por ter brilho vítreo, uma fratura conchoidal bem pronunciada e cor escura.  Essa cor usualmente é preta, mas pode ser verde, cinza, marrom, amarelada ou vermelha (obsidiana Mahogany)

A composição química da obsidiana corresponde aproximadamente à do riolito, possuindo 66% a 77% de sílica, 13 % a 18% de alumina, além de água e óxidos diversos.

Em razão de seu brilho e translucidez, ela é usada como gema há mais de 5.000 anos, e é hoje empregada na forma de cabuchões, gemas facetadas, camafeus e entalhes.  A obsidiana procedente do México (Querétaro e Hidalgo) é a preferida para isso.

Abaixo, uma obsidiana típica, medindo 9 x 2 x 6,5 cm. 

Outros países produtores são Geórgia, Itália, Estados Unidos, Hungria, Nova Zelândia e Rússia. No Brasil, pode-se encontrar obsidiana preta nos basaltos do Sul do país. No Rio Grande do Sul, já a encontrei, por exemplo, no Itaimbezinho, Nova Bréscia e Barracão. A ocorrência deste último município prolonga-se além do rio Uruguai, ao longo da BR-470 aparecendo também em Campos Novos, no estado de Santa Catarina.

Testes de polimento feitos, a nosso pedido, com material procedente dessa ocorrência mostraram que a obsidiana tem uma boa resistência física, mas não adquire bom brilho por ser porosa. Como os vidros fabricados, a obsidiana não tem dureza alta (5,0 a 5,5), o que também contribui para um brilho pouco intenso. Mas, meu amigo Osvaldino Rosa coletou amostras de obsidiana em Lagoa Vermelha (RS) e mandou-as lapidar, obtendo excelente resultado (uma gema facetada de 15 x 10 x 5 mm e um cabuchão de 17 x 13 x 7 mm).


No Estados Unidos, em Utah, ocorre uma bela obsidiana preta com porções claras de cristobalita. Ela é facilmente encontrada no mercado brasileiro, onde é chamada de obsidiana floco-de-neve e obsidiana nevada. Abaixo, uma amostra dela, com 11 x 11 x 8 cm.



Na Geórgia, são extraídos blocos enormes de obsidiana preta.


Outra bela obsidiana é a Mahogany, com cores avermelhadas, como a que e vê abaixo, com 9 x 8 x 8 cm. A de cor verde, não sei de onde provém. 


Fotos: Pércio M. Branco, exceto a antepenúltima, obtida no Facebook, Lovely Cats.

Peças da Coleção Percio M. Branco, exceto a última, que pertence ao acervo do Museu de Geologia da CPRM.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

AS SURPREENDENTES E INTRIGANTES ÁGATAS POLIÉDRICAS

     Há muitos tempo, em 1982, ganhei de Carmen Rocha uma estranha ágata que vi em sua loja, em Porto Alegre. Era uma peça pequena (7 cm), mas com uma característica inusitada: tinha forma triangular, com bordos retos, e não curvos como em todas as ágatas. Foi justamente por meu espanto e interesse que ela me deu aquela peça.

     Passei muitos anos tentando entender como aquela ágata havia se formado. A única explicação que encontrei foi que deveria ter havido deposição de sílica num espaço vazio entre paredes de rocha fraturada.

    Anos depois, encontrei à venda, acho que na Feira de Pedras Preciosas de Soledade, outras ágatas como aquela, muitas maiores e mais bonitas. Comprei então uma peça em forma de losango, de 3 cm. 




    
A origem da ágata poliédrica continuou a ser um mistério para mim. E, se eu soubesse o quanto ela era rara, teria comprado outras. Hoje, isso está bem mais difícil.





(As fotos que ilustram este artigo, com exceção das duas primeiras, recebi do meu amigo e colecionador de minerais Alessandro Takeda, sem créditos de autoria).

 Foi somente alguns anos atrás que passei a conhecer melhor a ágata poliédrica, através do excelente artigo Les agates du Sitio Garguelo (Municipe de Cachoeira dos Índios – Paraíba), do Prof. Jacques Pierre Cassedane (Anais da Academia Brasileira de Ciências, 56(2),1984).  Cassedane nos deixou excelentes trabalhos de pesquisa sobre a geologia de gemas brasileiras e este foi um deles.

Em seu trabalho, em que ele chama as peças de ágata de nódulos, não geodos, o mestre informa que eles ocorrem em uma sequência de rochas de idade pré-cambriana, incluindo filitos, xistos, gnaisses, quartzitos, leptinitos e calcário cristalino. A ágata está encaixada em uma rocha vítrea, com estrutura fluidal, que passa irregularmente a uma brecha fina. (Peço desculpas aos leitores, mas este texto terá inevitavelmente muitos termos técnicos.)






As ágatas foram ali extraídas esporadicamente e de forma artesanal entre 1972 e 1978 pelo dono da fazenda, que as enviava para o sul do país. Para isso, foram abertas escavações de até 3 m de profundidade. Os nódulos obtidos tinham dimensões que variavam de alguns centímetros até quase um metro. Eram em geral decimétricos, alongados e com três a cinco faces. As ágatas tinham externamente cores cinza a preta, formando leitos de espessura variável. 

O preenchimento das cavidades por ágata nem sempre foi total. Nestes casos, a superfície interna é mamelonar, feição que nunca aparece na superfície externa. A ausência de qualquer simetria nos nódulos mostra que eles não correspondem a nenhum mineral ou pseudomorfo conhecido. Do mesmo modo, as reentrâncias não correspondem a maclas.






Descritas as ágatas e o ambiente geológico em que elas se formaram, Cassedane procurou explicar o modo como elas surgiram.  Para isso, antes descreveu nada menos de sete possíveis explicações, dadas por diferentes autores, concluindo que nenhuma delas explicava a gênese das ágatas do Sítio Garguelo. Citou também jazimentos semelhantes, em pegmatitos de Minas Gerais, basaltos do Rio Grande do Sul, dolomitos do Paraná e tactitos do Rio Grande do Norte. Uma dessas hipóteses se assemelha à única explicação que me ocorrera: preenchimento de espaços vazios entre colunas de basalto. Mas, ela não se sustenta porque as encaixantes das ágatas da Paraíba são completamente diferentes.

Descartadas as sete hipóteses de formação descritas, Cassedane expôs uma oitava – a sua – sobre como as ágatas poliédricas teriam se formado. Ele descreveu quatro fases na complexa origem dos nódulos.  E, no final de sua hipótese, ele admitiu, vejam só, que essa história geológica complicada talvez deva ser retocada e completada no futuro. Isso deixa clara a extrema complexidade envolvida no processo que nos brindou com essas inusitadas ágatas poliédricas.

Não vou expor aqui sua explicação por ser extensa e muito técnica. Mas, proponho-me a enviar aos interessados o artigo, com ela e muitas outras informações.

 

 





 

sexta-feira, 20 de maio de 2022

OS MAIORES ACERVOS DE GEMAS DO MUNDO

Como eu já disse em outro artigo deste blog, o livro World Directory of Mineral Collections* é um cadastro de museus de todo o mundo que possuem minerais em seu acervo. Ele informa, entre muitas outras coisas, quantas gemas os museus cadastrados possuem e quantas pessoas os visitam por ano.   

        O livro inclui apenas museus públicos, apresentados em ordem alfabética de país e, para cada país, em ordem alfabética pelos nomes dos museus. Não estabelece nenhum rank, nenhuma classificação por acervo, público, antiguidade, etc. 

A tabela apresentada no final deste artigo é resultado de demorada compilação de dados que fiz para mostrar onde estão as maiores coleções de pedras preciosas e outras gemas. Os museus são nela apresentados de acordo com o tamanho do acervo, mas alguns outros, embora com acervo relativamente pequeno, foram também incluídos por razões que se vê na coluna da direita.

O cadastro mostra a grande pobreza do Brasil em termos de acervos gemológicos. Considerando-se a imensa variedade de gemas que possuímos (mais de cem) e o enorme volume dessa produção, devia haver muito mais  É lamentável... Mas, deve-se dizer que em Portugal, para onde foram levadas enormes quantidades de ouro e diamantes do Brasil e de outras colônias, tampouco existe um museu onde esses minerais sejam destaque.

O campeão dos museus listados é o Museu Nacional de Praga, com um fabuloso acervo de 20.000 gemas, visitado por 350.000 pessoas a cada ano. Ele tem três salas grandes e duas menores e é numa dessas duas menores que estão as gemas. As salas restantes exibem minerais (114.500), rochas (23.000) e tectitos (13.000). Acho até difícil imaginar um museu com acervo tão vasto.

Em segundo lugar, está o fantástico Museu de História Natural da Smithsonian Institution em Washington, DC (EUA).  Ele tem 10.000 gemas e recebe um público assombroso: seis milhões de pessoas por ano!  O acervo inclui o famoso Hope, o maior diamante azul do mundo (45,52 quilates, medindo 25,6 mm x 21,78 mm x 12 mm), que pude admirar boquiaberto por longo tempo. Não por acaso o Hope ilustra o mouse pad que uso todos os dias e que eu trouxe justamente de lá.

                                                                     Foto: Wikipédia

 Além do Hope, lá vi e fotografei várias outras gemas famosas, como o diamante Oppenheimer (253,7 quilates, no estado bruto). O museu possui também o rubi Rosser Reeves (138,7 quilates), o olho de gato Maharani (58,2 quilates)  e a safira Logan (423 quilates) todos do Sri Lanka. De Myanmar,  ele exibe a safira Estrela da Ásia (330 quilates) e o rubi Carmen Lúcia (de 23,1 quilates).

A Smithsonian possui também a maior esfera do mundo, totalmente sem defeitos, lapidada (na China) a partir de um único cristal de quartzo. Pesa nada menos de 48,5 kg e tem 32,7 cm de diâmetro.  

Querem mais?  O museu tem dois cristais de topázio brasileiros o estado bruto, um de  33,8 kg e o outro, de 50,4 kg, ambos de Minas Gerais. Também de Minas Gerais receberam um topázio lapidado de 172 facetas e incríveis 22.892,5 quilates. Ainda de Minas Gerais (Itinga), a Smithsonian recebeu um heliodoro lapidado de 2.054 quilates (abaixo, nesta ordem).



Pertencem também à Smithsonian, a incrível Água-marinha Dom Pedro, a maior água-marinha lapidada do mundo, com 10.363 quilates (2,073 kg) e 35 cm de altura, doadas àquele museu em 2012 e um (mais um!) topázio lapidado de Minas Gerais, em forma de esfera, com centenas de facetas, pesando 12.555 quilates (2,511 kg).

                                                Foto: Smithsonian Institution


         A Smithsonian abriga vários outros museus que, como todos os museus públicos de Washigton, não cobram ingresso e permitem fotografar à vontade.

No acervo do Museu de História Natural de Londres, destaca-se uma bela coleção de gemas da Birmânia, a Pen Collection. Fiz várias fotos dela, mas nenhuma ficou boa o suficiente para aparecer aqui. É outro campeão de visitações: 1,5 milhão de pessoas por ano. Foi desmembrado do imenso Museu Britânico e nele deve estar um enorme geodo de ametista do Brasil, que me disseram haver neste último, mas que não vi em nenhum dos dois. Vi e fotografei, porém, no Museu Britânico, este lindo Buda esculpido em marfim, num trono de turquesa.


O Museu Americano de História Natural, de Nova York, um dos mais importantes do mundo (público anual de 4 milhões de pessoas), possui belas coleções de gemas. Muitas delas são provenientes do Brasil, mas as ametistas que lá vi expostas decepcionam quem conhece aquelas  produzidas no Rio Grande do Sul.  Eles devem ter geodos e drusas bem maiores, mas que, por alguma razão, não estavam em exposição.

O Metropolitan Museum of Arts, de Nova York, não aparece no cadastro dos museus com acervo de gemas porque, como o Louvre, é um museu de arte. Mas vale a pena incluir aqui este maravilhoso vaso de malaquita que vi lá. 


                                                            Foto: Jane M. Branco

O Museu McKissick, da Universidade da Carolina do Sul (EUA), possui também um belo acervo de gemas, com 3.200 peças.

Em Paris, o Museu Nacional de História Natural possui um número de gemas um pouco menor, mas ali está a fabulosa coleção de cristais gigantescos montada pelo búlgaro Ilia Deleff, com cristais brasileiros. A triste história de como o Brasil perdeu essa incrível coleção, visitada por 300.000 pessoas a cada ano, está contada neste blog (julho de 2011). Não vou repeti-la aqui por falta de espaço e porque relembrá-la me faz mal muito mal...

Além da sala dos cristais gigantescos, o museu possui uma sala de pedras preciosas e objetos de arte.

Quando visitei este museu, tive uma enorme frustração: a seção de gemas e minerais estava fechada à visitação.

O Museu Nacional “Terra e Homem”, de Sofia (Bulgária), tem grande parte do seu acervo formada por cristais gigantescos doados pelo mesmo Ilia Delef. 

Também em Paris, está o pequeno, mas muito bonito, Museu da Universidade Pierre e Marie Curie. Seus expositores e sua iluminação criam um ambiente muito bonito e agradável de visitar. Foi lá que eu fiquei sabendo o que é tenebrescência, propriedade física que eu desconhecia.

Em Toulousse, ainda na França, o Laboratório de Mineralogia da Universidade Paul Sabatier possui um cristal bem formado de granada com 4,750 kg.

Em Chicago,IL (EUA), o  Museu de Campo de História Natural exibe algumas gemas e principalmente joias muito importantes, como The Chalmer’s (topázio azul lapidado de 5.900 quilates); Paloma Picasso, bracelete de pedra da lua; Nguyen, colar de esmeralda e diamante, e o broche de opala, mexicana Syn God.

Em Toronto (Canadá), no Museu Real de Ontário (o maior do país), pude ver excepcionais amostras de ouro e uma belíssima coleção de gemas coradas, com topázio, berilo, espodumênio, peridoto, turmalina,  safira, opala e jade.  Possui também excepcionais minerais de coleção, como calcita e fluorita. Está lá a Luz do Deserto, a maior cerussita lapidada do mundo, com 898 quilates (179,6 g), procedente da Namíbia.



                             Foto:Wikipédia

Na coleção de gemas do Museu de Queensland, na Austrália, destaca-se uma coleção de ágatas, entre elas a variedade ágata-íris.

Na histórica cidade de Idar-Oberstein, na Alemanha, mundialmente famosa por sua indústria de lapidação, está o Museu Alemão de Pedras Preciosas. Seu acervo não é grande (750 gemas), mas inclui gemas sintéticas, objetos de arte, gemas com efeitos especiais, inclusões raras e uma coleção especial de diamantes.  

Outro museu alemão é o Museu de História Natural, no Castelo de Bertholdsburg, em Schleusingen.  Este se destaca por possuir no acervo de 3.000 gemas, 2.000 chapas polidas de ágata, calcedônia e jaspe.

O Museu Norueguês da Mineração, em Königsberg, possui várias centenas de espécimes de prata nativa, com fios de até 40 cm de comprimento e 48 kg.

Em Varsóvia, o Museu da Terra, da Academia Polonesa de Ciências, possui nada menos de 27.000 amostras de âmbar.

O Museu de Ulster, em Belfast (Irlanda do Norte) possui mil gemas no seu acervo,  entre as quais destaca-se uma coleção de mais de mil granadas e mais de 1.500 minerais de sílica provenientes de muitos países. Destacam-se também três turmalinas, três safiras, dois diamantes, um peridoto e um rubi.

Os cerca de um milhão de visitantes que vão anualmente ao Museu de História Natural de Denver, CO (EUA), podem apreciar belas amostras de ouro e prata, incluindo a importante coleção John F. Campion, de cristais de ouro. 

A Universidade de Oxford (Inglaterra) destaca-se não pelas gemas, mas pelas rochas ornamentais. Possui 2.800 peças dessas substâncias gemológicas, mil delas na forma de placas polidas (Coleção Corsi). 

Entre as oitocentas gemas do Museu de História Natural de Genebra, está uma coleção com os maiores cristais de quartzo enfumaçado já encontrados nos Alpes.

Um acervo muito diferente está no Museu de História Natural da Universidade La Sierra, de Riverside, CA (EUA). Trata-se da maior coleção do mundo de minerais lapidados em forma de esferas, com 1.270 peças.

A Casa da Natureza, em Salzburgo, Áustria, possui um número não informado de gemas, mas estão em seu acervo os maiores cristais de quartzo do mundo.

O Museu de História Natural de Cleveland (EUA) adquiriu para o seu acervo sete coleções particulares, duas delas de gemas e são elas, em número não informado, a especialidade do museu hoje.

Também nos EUA, em Clemson (Carolina do Sul), está o Museu de Geologia, da Universidade de Clemson. Ela possui um belo acervo de 1.500 gemas facetadas.

Lá nos EUA, conheci o simpático e interessante Museu da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia, um dos primeiros do mundo a abrigar coleções de minerais, entre elas a coleção da Sociedade Filosófica Americana, fundada por Benjamin Franklin em 1743. O acervo inclui uma extraordinária turmalina brasileira. A loja do museu vende minerais e  fósseis bem interessantes.

O Instituto Gemológico Espanhol, em Madri, tem um acervo formado exclusivamente por  gemas lapidadas (trezentas), principalmente da Espanha. Possui também uma coleção muito boa de esfaleritas. Uma amiga que o conhece disse que é maravilhoso. Infelizmente, porém, ele abre somente  “às vezes”.

A Profª. Daniela Newman nos informou que a Universidade Politécnica de Madri tem “um senhor museu de Mineralogia”. Mas, ele estranhamente não aparece no cadastro da International Mineralogical Association.

O Museu de História Natural da Basileia (Suíça), possui um acervo de 2.000 gemas brutas e lapidadas.

O Museu da Morávia Ocidental, em Trebic (República Checa) tem 4.525 tectitos, com a maior coleção de moldavitos existente na Europa.

No mesmo país, está o Museu do Paraíso Boêmio, em Turnov, onde surgiu uma indústria de lapidação de gemas ainda na Idade Média. No seu acervo (1.123 gemas), há uma excepcional coleção de safiras gemológicas.

Dos museus brasileiros, devem ser citados o Museu de Geociências da USP (São Paulo, SP), com 2.000 gemas; o belo Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas de Ouro Preto (Minas Gerais), com quinhentas e o Museu de Ciências da Terra (Rio de Janeiro), com quatrocentas.

               Bela ágata que é o símbolo do Museu da USP (Foto:USP)


                  Seção de Mineralogia do Museu de Ciência e Técnica

Uma curiosidade: o acervo do Museu Herança Local, de Eggenburg (Áustria), começou com cristais de ametista que seu fundador, Johannes Krahuletz, coletou no cemitério local.

Por fim, citamos  o Museu de História Natural de Dortmund (Alemanha), que afirma possuir os mais belos espécimes do mundo de cristal de rocha, provenientes do Arkansas (EUA).

 

ALGUNS DOS PRINCIPAIS ACERVOS GEMOLÓGICOS DO MUNDO

 

 

MUSEU

 

GEMAS

VISITANTES

POR

ANO

CARACTERÍSTICAS

Museu Nacional de Praga

(República Checa)

20.000

350.00

 

Museu de História Natural

da Smithsonian Institution

Washington, DC (EUA)

 

10.000

 

6 milhões

 

Museu Mineralógico Fersman,

da Academia Russa de Ciências

7.700

20.000

“Ênfase em gemas e cristalografia”

Museu de História Natural de Londres (desmembrado do Museu Britânico)

5.000

1,5 milhão

Gemas da Birmânia

Museu Americano de História Natural, de Nova York.

3.700

4 milhões

 

Museu McKissick, da Universidade da Carolina do Sul (EUA)

3.200

-

 

Museu Nacional de História Natural de Paris

2.919

2,5 milhões

“Sala dos Cristais Gigantescos” e  “Sala das Gemas”

Museu de Campo de História Natural,de Chicago (EUA)

2.280

900.000

Topázio de 5.900 quilates.

Museu Real de Ontário, Canadá

2.000

667.893

Excelentes coleções de gemas e ouro

Museu de Queensland, Austrália

1.000

425.000

Ágatas; ágata-íris

Museu de Ulster, Belfast (Irlanda do Norte)

 

1.000

 

 Mais de 1.000 granadas; mais de 1.500 minerais de sílica

Museu de História Natural, Denver, CO (EUA)

1.000

1 milhão

Ouro e prata; cristais de ouro

Museu de História Natural, Genebra (Suíça)

 

800

 

250.000

Os maiores cristais de quartzo enfumaçado dos Alpes

Museu de Ciência e Técnica  da Univ. Fed. Federal de Ouro Preto, MG

500

50.000

“Importante museu mineralógico”

Museu da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia, MA (EUA)

400

300.000

Extraordinária turmalina brasileira

Museu da Universidade de Oxford, Inglaterra

250

75.000

Mil chapas polidas de rochas ornamentais

Museu de História Natural da Univ. La Sierra, Riverside, CA (EUA)

100

10.000

Maior coleção de esferas do mundo;  xilólitos

Casa da Natureza, Salzburgo, Áustria

 

200.000

O maior cristal de quartzo do mundo

Museu de História Natural, Cleveland, OH (EUA)

“Muitas”

300.000

Especializado em gemas; cerca de mil delas em exposição

 Instituto Gemológico Espanhol

      300Só gemas lapidadas, principalmente da Espanha. Muito boa coleção de esfaleritas. Abre “às vezes”

(*) International Mineralogical Association.  World Directory of Mineral Collections. Tucson (AZ), Mineralogical Record, 1994.  293 p.