Como eu já disse em
outro artigo deste blog, o livro World
Directory of Mineral Collections* é um cadastro de museus de todo o mundo que
possuem minerais em seu acervo. Ele informa, entre muitas outras coisas, quantas
gemas os museus cadastrados possuem e quantas pessoas os visitam por ano.
O
livro inclui apenas museus públicos, apresentados em ordem alfabética de país
e, para cada país, em ordem alfabética pelos nomes dos museus. Não estabelece
nenhum rank, nenhuma classificação por acervo, público, antiguidade, etc.
A tabela apresentada no
final deste artigo é resultado de demorada compilação de dados que fiz para
mostrar onde estão as maiores coleções de pedras preciosas e outras gemas. Os
museus são nela apresentados de acordo com o tamanho do acervo, mas alguns outros,
embora com acervo relativamente pequeno, foram também incluídos por razões que
se vê na coluna da direita.
O cadastro mostra a grande pobreza do Brasil em
termos de acervos gemológicos. Considerando-se a imensa variedade de gemas que
possuímos (mais de cem) e o enorme volume dessa produção, devia haver muito
mais É lamentável... Mas, deve-se dizer
que em Portugal, para onde foram levadas enormes quantidades de ouro e
diamantes do Brasil e de outras colônias, tampouco existe um museu onde esses
minerais sejam destaque.
O campeão dos museus
listados é o Museu Nacional de Praga, com um
fabuloso acervo de 20.000 gemas, visitado por 350.000 pessoas a cada ano. Ele tem
três salas grandes e duas menores e é numa dessas duas menores que estão as
gemas. As salas restantes exibem minerais (114.500), rochas (23.000) e tectitos
(13.000). Acho até difícil imaginar um museu com acervo tão vasto.
Em segundo lugar,
está o fantástico Museu de História
Natural da Smithsonian Institution em Washington, DC (EUA). Ele tem 10.000 gemas e recebe um público
assombroso: seis milhões de pessoas por ano!
O acervo inclui o famoso Hope,
o maior diamante azul do mundo (45,52 quilates, medindo 25,6 mm x 21,78 mm x 12
mm), que pude admirar boquiaberto por longo tempo. Não por acaso o Hope ilustra o mouse pad que uso todos os dias e que eu trouxe justamente de lá.
Foto: Wikipédia Além do Hope,
lá vi e fotografei várias outras gemas famosas, como o diamante Oppenheimer (253,7 quilates, no estado
bruto). O museu possui também o rubi Rosser
Reeves (138,7 quilates), o olho de gato Maharani
(58,2 quilates) e a safira Logan (423 quilates) todos do Sri Lanka.
De Myanmar, ele exibe a safira Estrela da Ásia (330 quilates) e o rubi Carmen Lúcia (de 23,1 quilates).
A Smithsonian possui
também a maior esfera do mundo, totalmente sem defeitos, lapidada (na China) a
partir de um único cristal de quartzo. Pesa nada menos de 48,5 kg e tem 32,7 cm
de diâmetro.
Querem mais? O museu tem dois cristais de topázio
brasileiros o estado bruto, um de 33,8
kg e o outro, de 50,4 kg, ambos de Minas Gerais. Também de Minas Gerais
receberam um topázio lapidado de 172 facetas e incríveis 22.892,5 quilates.
Ainda de Minas Gerais (Itinga), a Smithsonian recebeu um heliodoro lapidado de 2.054
quilates (abaixo, nesta ordem).
Pertencem também
à Smithsonian, a incrível Água-marinha
Dom Pedro, a maior água-marinha lapidada do mundo, com 10.363 quilates
(2,073 kg) e 35 cm de altura, doadas àquele museu em 2012 e um (mais um!) topázio lapidado de Minas
Gerais, em forma de esfera, com centenas
de facetas, pesando 12.555 quilates (2,511 kg).
Foto: Smithsonian Institution
A
Smithsonian abriga vários outros museus que, como todos os museus públicos de
Washigton, não cobram ingresso e permitem fotografar à vontade.No
acervo do Museu de História Natural de
Londres, destaca-se uma bela coleção de gemas da Birmânia, a Pen
Collection. Fiz várias fotos dela, mas nenhuma ficou boa o suficiente para
aparecer aqui. É outro campeão de visitações: 1,5 milhão de pessoas por ano. Foi
desmembrado do imenso Museu Britânico e nele deve estar um enorme geodo de ametista
do Brasil, que me disseram haver neste último, mas que não vi em nenhum dos
dois. Vi e fotografei, porém, no Museu Britânico, este lindo Buda esculpido em
marfim, num trono de turquesa.
O Museu Americano de História Natural, de Nova York, um dos mais
importantes do mundo (público anual de 4 milhões de pessoas), possui belas
coleções de gemas. Muitas delas são provenientes do Brasil, mas as ametistas
que lá vi expostas decepcionam quem conhece aquelas produzidas no Rio Grande do Sul. Eles devem ter geodos e drusas bem maiores,
mas que, por alguma razão, não estavam em exposição.
O Metropolitan Museum of Arts, de Nova York, não aparece no cadastro
dos museus com acervo de gemas porque, como o Louvre, é um museu de arte. Mas vale
a pena incluir aqui este maravilhoso vaso de malaquita que vi lá.
Foto: Jane M. Branco
O
Museu
McKissick, da Universidade da Carolina
do Sul (EUA), possui também um belo acervo de gemas, com 3.200 peças.
Em Paris, o Museu Nacional de História Natural possui um número de gemas um
pouco menor, mas ali está a fabulosa coleção de cristais gigantescos montada pelo
búlgaro Ilia Deleff, com cristais brasileiros. A triste história de como o
Brasil perdeu essa incrível coleção, visitada por 300.000 pessoas a cada ano, está
contada neste blog (julho de 2011). Não vou repeti-la aqui por falta de espaço
e porque relembrá-la me faz mal muito mal...
Além da sala dos cristais gigantescos, o
museu possui uma sala de pedras preciosas e objetos de arte.
Quando visitei este
museu, tive uma enorme frustração: a seção de gemas e minerais estava fechada à
visitação.
O Museu Nacional “Terra e Homem”, de Sofia (Bulgária), tem grande
parte do seu acervo formada por cristais gigantescos doados pelo mesmo Ilia
Delef.
Também em Paris, está o
pequeno, mas muito bonito, Museu da
Universidade Pierre e Marie Curie. Seus expositores e sua iluminação criam
um ambiente muito bonito e agradável de visitar. Foi lá que eu fiquei sabendo o
que é tenebrescência, propriedade física que eu desconhecia.
Em Toulousse, ainda na
França, o Laboratório de Mineralogia
da Universidade Paul Sabatier possui um cristal bem formado de granada com
4,750 kg.
Em Chicago,IL (EUA), o Museu de Campo de História Natural exibe
algumas gemas e principalmente joias muito importantes, como The Chalmer’s (topázio azul lapidado de
5.900 quilates); Paloma Picasso,
bracelete de pedra da lua; Nguyen,
colar de esmeralda e diamante, e o broche de opala, mexicana Syn God.
Em Toronto (Canadá), no Museu Real de Ontário (o maior do
país), pude ver excepcionais amostras de ouro e uma belíssima coleção de gemas
coradas, com topázio, berilo, espodumênio, peridoto, turmalina, safira, opala e jade. Possui também excepcionais minerais de
coleção, como calcita e fluorita. Está lá a Luz
do Deserto, a maior cerussita lapidada do mundo, com 898 quilates (179,6 g), procedente da Namíbia.
Foto:Wikipédia
Na coleção de gemas do Museu de Queensland, na Austrália,
destaca-se uma coleção de ágatas, entre elas a variedade ágata-íris.
Na histórica cidade de
Idar-Oberstein, na Alemanha, mundialmente famosa por sua indústria de
lapidação, está o Museu Alemão de Pedras
Preciosas. Seu acervo não é grande (750 gemas), mas inclui gemas
sintéticas, objetos de arte, gemas com efeitos especiais, inclusões raras e uma
coleção especial de diamantes.
Outro museu alemão é o Museu de História Natural, no Castelo
de Bertholdsburg, em Schleusingen. Este
se destaca por possuir no acervo de 3.000 gemas, 2.000 chapas polidas de ágata,
calcedônia e jaspe.
O Museu Norueguês da Mineração, em Königsberg, possui várias centenas
de espécimes de prata nativa, com fios de até 40 cm de comprimento e 48 kg.
Em Varsóvia, o Museu da Terra, da Academia Polonesa de
Ciências, possui nada menos de 27.000 amostras de âmbar.
O Museu de Ulster, em Belfast (Irlanda do Norte) possui mil gemas no
seu acervo, entre as quais destaca-se
uma coleção de mais de mil granadas e mais de 1.500 minerais de sílica
provenientes de muitos países. Destacam-se também três turmalinas, três
safiras, dois diamantes, um peridoto e um rubi.
Os cerca de um milhão de
visitantes que vão anualmente ao Museu
de História Natural de Denver, CO (EUA), podem apreciar belas amostras de
ouro e prata, incluindo a importante coleção John F. Campion, de cristais de ouro.
A Universidade de Oxford (Inglaterra) destaca-se não pelas gemas, mas
pelas rochas ornamentais. Possui 2.800 peças dessas substâncias gemológicas,
mil delas na forma de placas polidas (Coleção Corsi).
Entre as oitocentas
gemas do Museu de História Natural de
Genebra, está uma coleção com os maiores cristais de quartzo enfumaçado já encontrados
nos Alpes.
Um acervo muito
diferente está no Museu de História
Natural da Universidade La Sierra, de Riverside, CA (EUA). Trata-se da
maior coleção do mundo de minerais lapidados em forma de esferas, com 1.270
peças.
A Casa da Natureza, em Salzburgo, Áustria, possui um número não
informado de gemas, mas estão em seu acervo os maiores cristais de quartzo do
mundo.
O
Museu de História Natural de Cleveland
(EUA) adquiriu para o seu acervo sete coleções particulares, duas delas de
gemas e são elas, em número não informado, a especialidade do museu hoje.
Também
nos EUA, em Clemson (Carolina do Sul), está o Museu de Geologia, da Universidade de Clemson. Ela possui um belo
acervo de 1.500 gemas facetadas.
Lá
nos EUA, conheci o simpático e interessante Museu da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia, um dos
primeiros do mundo a abrigar coleções de minerais, entre elas a coleção da
Sociedade Filosófica Americana, fundada por Benjamin Franklin em 1743. O acervo
inclui uma extraordinária turmalina brasileira. A loja do museu vende minerais
e fósseis bem interessantes.
O
Instituto Gemológico Espanhol, em
Madri, tem um acervo formado exclusivamente por gemas lapidadas (trezentas),
principalmente da Espanha. Possui também uma coleção muito boa de esfaleritas.
Uma amiga que o conhece disse que é maravilhoso. Infelizmente, porém, ele abre
somente “às vezes”.
A Profª. Daniela Newman nos informou que a Universidade
Politécnica de Madri tem “um senhor museu de Mineralogia”. Mas, ele
estranhamente não aparece no cadastro da International Mineralogical
Association.
O Museu de
História Natural da Basileia (Suíça), possui um acervo de 2.000 gemas brutas
e lapidadas.
O Museu da
Morávia Ocidental, em Trebic (República Checa) tem 4.525 tectitos, com a
maior coleção de moldavitos existente na Europa.
No mesmo país, está o Museu do Paraíso Boêmio, em Turnov, onde surgiu uma indústria de
lapidação de gemas ainda na Idade Média. No seu acervo (1.123 gemas), há uma
excepcional coleção de safiras gemológicas.
Dos museus brasileiros, devem ser citados o Museu de Geociências da USP (São Paulo,
SP), com 2.000 gemas; o belo Museu de Ciência
e Técnica da Escola de Minas de Ouro Preto (Minas Gerais), com quinhentas e
o Museu de Ciências da Terra (Rio de
Janeiro), com quatrocentas.
Bela ágata que é o símbolo do Museu da USP (Foto:USP)
Seção de Mineralogia do Museu de Ciência e Técnica
Uma curiosidade: o acervo do Museu Herança Local, de Eggenburg (Áustria), começou com cristais
de ametista que seu fundador, Johannes Krahuletz, coletou no cemitério local.
Por fim, citamos
o Museu de História Natural de
Dortmund (Alemanha), que afirma possuir os mais belos espécimes do mundo de
cristal de rocha, provenientes do Arkansas (EUA).
ALGUNS
DOS PRINCIPAIS ACERVOS GEMOLÓGICOS DO MUNDO
MUSEU
|
GEMAS
|
VISITANTES
POR
ANO
|
CARACTERÍSTICAS
|
Museu
Nacional de Praga
(República
Checa)
|
20.000
|
350.00
|
|
Museu
de História Natural
da
Smithsonian Institution
Washington,
DC (EUA)
|
10.000
|
6 milhões
|
|
Museu
Mineralógico Fersman,
da
Academia Russa de Ciências
|
7.700
|
20.000
|
“Ênfase em gemas e
cristalografia”
|
Museu
de História Natural de Londres (desmembrado do Museu Britânico)
|
5.000
|
1,5 milhão
|
Gemas da Birmânia
|
Museu
Americano de História Natural, de
Nova York.
|
3.700
|
4 milhões
|
|
Museu
McKissick, da
Universidade da Carolina do Sul (EUA)
|
3.200
|
-
|
|
Museu
Nacional de História Natural de
Paris
|
2.919
|
2,5 milhões
|
“Sala dos Cristais
Gigantescos” e “Sala das Gemas”
|
Museu
de Campo de História Natural,de
Chicago (EUA)
|
2.280
|
900.000
|
Topázio de 5.900 quilates.
|
Museu
Real de Ontário, Canadá
|
2.000
|
667.893
|
Excelentes coleções de gemas e
ouro
|
Museu
de Queensland, Austrália
|
1.000
|
425.000
|
Ágatas; ágata-íris
|
Museu
de Ulster, Belfast
(Irlanda do Norte)
|
1.000
|
|
Mais de 1.000 granadas; mais de 1.500 minerais
de sílica
|
Museu
de História Natural, Denver,
CO (EUA)
|
1.000
|
1 milhão
|
Ouro e prata; cristais de ouro
|
Museu
de História Natural, Genebra
(Suíça)
|
800
|
250.000
|
Os maiores cristais de quartzo
enfumaçado dos Alpes
|
Museu
de Ciência e Técnica da Univ.
Fed. Federal de Ouro Preto, MG
|
500
|
50.000
|
“Importante museu
mineralógico”
|
Museu
da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia, MA (EUA)
|
400
|
300.000
|
Extraordinária turmalina
brasileira
|
Museu
da Universidade de Oxford, Inglaterra
|
250
|
75.000
|
Mil chapas polidas de rochas ornamentais
|
Museu
de História Natural da Univ.
La Sierra, Riverside, CA (EUA)
|
100
|
10.000
|
Maior coleção de esferas do
mundo; xilólitos
|
Casa
da Natureza, Salzburgo,
Áustria
|
|
200.000
|
O maior cristal de quartzo do
mundo
|
Museu
de História Natural, Cleveland,
OH (EUA)
|
“Muitas”
|
300.000
|
Especializado em gemas; cerca
de mil delas em exposição
|
Instituto
Gemológico Espanhol | 300 | | Só gemas lapidadas, principalmente da Espanha.
Muito boa coleção de esfaleritas. Abre “às vezes” |
(*)
International Mineralogical Association.
World Directory of Mineral
Collections. Tucson (AZ), Mineralogical Record, 1994. 293 p.